O subgênero dos vampiros rendeu infindáveis
variações. Apesar de sempre haverem obras de valor discutível, nenhuma dessas
variações pareceu mais apropriada ao tema do que o erotismo: A dicotomia
sangue/sexo, dependência/êxtase aparenta ter uma relação profunda –a aberta a
diversas interpretações –no mito dos vampiros.
Intitulado “As Filhas de Drácula”, aqui no
Brasil –título este que, além de picareta, não tem qualquer relação com o tema
da premissa –o filme do espanhol José Ramon Larraz, “Vampyres”, é uma bela
síntese entre dramaturgia satisfatória, erotismo bem administrado e filme de
horror.
A trama beneficia-se da aura de mistério
inerente ao gênero para contornar com esperteza as limitações orçamentárias e
as indefinições e incertezas de alguns aspectos da história.
Num prólogo que depois soa até redundante –mas,
certamente nem um pouco modorrento –vemos já de cara duas lindas mulheres nuas
na cama de uma mansão em ardente cena de amor; são elas as belíssimas
protagonistas do filme, a morena Fran (Marianne Morris) e a loira Miriam
(Anulka Dziubinska). Sem maiores detalhes ou explicações, elas são mortas a
tiros ali mesmo.
Salta para o início do filme de fato quando o
diretor dispõe seus outros personagens aleatórios no contexto: Ted (Murray
Brown), um recém-chegado ao hotel local e o casal John e Harriet (Brian Decon e
Sally Faulkner), que chegam num carro com trailer para uma estadia corriqueira
por aquela região –Harriet é artista e pintará um quadro da mansão mencionada
acima (que também serviu de cenário para o cult “Rocky Horror Picture Show”), e
John... ele não faz coisa alguma!
Logo, aparições de Fran e Miriam à beira da
estrada despertam os instintos de Harriet que presente ali algo de
fantasmagórico –e, uma vez que vimos as duas morrer no começo, sabemos que há
algo de sobrenatural ali –já, John reage como todo o incauto coadjuvante de
filmes de terror: Duvida de tudo e acha que não tem nada de errado nos indícios
que se acumulam cada vez mais, alarmando sua esposa.
Quando Ted dá carona à Fran na estrada, ele se
torna uma espécie de vítima cativa dela ao ir para sua mansão e com ela passar
uma tórrida noite de amor –na qual, sem perceber, ele passa a prover sangue a
ela por meio de um corte no braço que cresce dia a dia. Algo em Ted desperta
certa empatia em Fran, pois apesar dos ocasionais apelos de Miriam, ela se
recusa a dar cabo em definitivo dele, como fazem com outras vítimas, preferindo
preservá-lo, mantendo-o numa certa ignorância acerca do óbvio fato delas serem
vampiras (estão disponíveis todas as noites, porém simplesmente somem sem
explicação durante o dia), mas sugando o sangue dele sempre que pode.
É muito curioso o fato de que Ted, neste ponto
exerce um papel que lembra bastante o Jonathan Hacker, de “Drácula”, sendo que
seu ator, Murray Brown, viveu o próprio personagem num filme televisivo de Dan
Curtis, lançado em 1973, um ano antes deste aqui.
Segue-se assim a continuidade de um ritual:
Fran e Miriam, graças a sua inapelável sensualidade, atraem homens todas as
noites para a mansão com pretextos banais, e terminam por mata-los, sugando seu
sangue. Cada vez mais combalido e deteriorado pelas vampiras, Ted permanece
sempre por ali, sem dar-se muita conta do perigo. Já, Harriet e John lentamente
vão reunindo coragem para uma especulação dentro da mansão.
A inteligência na condução de Larraz está no
fato dele abordar uma trama já rasteira (sequer a origem das duas como vampiras
é esboçada com um mínimo de coerência) usando-a devidamente como gatilho para
que o filme tem de mais expressivo, o erotismo, que se manifesta em cenas
cuidadosamente elaboradas, seja de sexo ou lesbianismo. Essa execução somada à
beleza palpitante de suas atrizes não tardou a arregimentar cultuadores para
“Vampyres”.
Ele pode ter todas as
características negativas que assolam os exemplares mais medíocres do gênero,
mas o acerto nos elementos fundamentais ao seu apelo lhe garante um destaque em
meio à outras obras.
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