Chamam estilo quando um diretor insiste numa mesma miríade de elementos, filme após filme, de tal forma contínua e apegada que o reconhecimento de tais elementos na narrativa evoca de imediato seu nome e suas obras.
Entretanto, o que o diretor Paul W.S. Anderson
faz em “Monster Hunter” vai muito além de propriamente estilo; ele replica de
forma quase indiscreta as características que pôs em prática ao longo da “Saga Resident Evil”, dando de ombros para qualquer impressão de repetição que este
novo trabalho poderia suscitar (e que de fato suscita). Como “Resident Evil”,
“Monster Hunter” é extraído de um jogo de videogame, onde une-se com
mirabolância vertiginosa expedientes gráficos do terror (zumbis anabolizados
lá; monstros gigantes aqui), e como lá essas ferramentas estão a serviço de uma
direção menos interessada ao conteúdo e mais ao formado arrojado e nunca
acomodado. Ah, sim, e como lá, a estrela é também Milla Jovovich.
Na cena que abre “Monster Hunter” vemos um
navio do que aparenta ser um mundo alienígena, afinal, a despeito da
caracterização à la “Piratas do Caribe”, tal navio singra as areias de um
deserto, e não as águas de um mar (!), capitaneado por Ron Perlman (a ostentar
um ridículo corte de cabelo). Despida de esclarecimento, e praticamente sem background até quase o trecho final do
filme, essa cena mostra o personagem do astro tailandês Tony Jaa ficando
extraviado no deserto –o detalhe verdadeiramente relevante ao plot embora, na
salada visual de tudo que ali acontece, isso seja uma das últimas coisas que o
expectador vai perceber.
Finalmente, somos então apresentados à Natalie
Artemis, personagem de Jovovich, uma militar norte-americana em missão em algum
deserto do Oriente Médio, no nosso mundo. Embora a direção de Anderson, em seus
maneirismos usuais, passe a ideia de que todo o grupo de soldados que a
acompanha serão importantes ao plot –afinal, perde-se um tempo lascado com
cenas de interação entre eles a mostrar sua camaradagem e os ‘laços entre
soldados’ –não tarda à narrativa livrar-se de todos: Colhidos numa súbita e
misteriosa tempestade de areia, o grupo da Comandante Artemis atravessa um
portal que os joga em outro mundo (!), o mesmo mundo visto na estranha cena
inicial.
Lá, descobrimos, monstros gigantescos espreitam
em cada duna. Duas espécies são imediatamente distinguíveis: Umas aranhas
gigantes que saem à noite, quando a luz solar não as ameaça (criatura que
parece decalcada dos seres vistos no cult “Eclipse Mortal”); e os Diablos,
seres rastejantes que se ocultam submersas nas areias, tal e qual os
monstrengos do clássico B “O Ataque dos Vermes Malditos”.
Tendo todos os soldados sob seu comando
exterminados, Artemis tem de unir-se ao esquisito caçador, um misto de
guerreiro pós-apocalíptico e indígena extra-terrestre (e personagem deixado à
deriva no prólogo) para conseguirem sobreviver.
Sem qualquer preocupação em ater-se à trama
para além do fato de reordenar os mesmos conceitos do videogame (revelando até
mais fidelidade aqui do que demonstrou em “Resident Evil”), o diretor Anderson
se satisfaz em registrar um situação de corre-corre e sobrevivência a envolver
apenas esses dois personagens. Algum fio de história começa a ser esboçado já
nos quarenta minutos finais, quando o núcleo de personagens (mal) introduzido na
cena inicial (incluindo os personagens de Ron Perlman e até da brasileira Nanda
Costa) reaparece, contando à Artemis sua derradeira missão contra um dragão que
representa o maior desafio naquele mundo apinhado de monstros.
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