Dentre os heróis originais a integrarem os Vingadores, o único que jamais conseguiu ganhar um filme-solo foi, infelizmente, o Gavião Arqueiro, vivido pelo competente Jeremy Renner. Na verdade, o Gavião Arqueiro foi (e, em grande medida, ainda é) sistematicamente subaproveitado dentro do Universo Marvel –basta lembrarmos de sua participação, boa parte dela como um comparsa hipnotizado de vilão, em “Vingadores”. A série “Hawkeye”, do Disney Plus, prometia corrigir esse lapso.
Como todas as demais séries lançadas pela
Marvel em 2021 –“WandaVision”, “Falcão & Soldado Invernal” e “Loki” –esta
chega narrativamente atrelada a todos os diversos filmes da Marvel Studios que
a precederam, e seus acontecimentos, certamente irão reverberar em inúmeros projetos
que ainda estão por vir. Na verdade, isso é bem nítido: Como parece ser
inerente aos trabalhos mais recentes da Marvel, “Gavião Arqueiro” é uma trama
sobre a passagem de bastão, onde uma nova geração surge para preencher o lugar
dos combatentes veteranos e cansados, e nesse sentido, a série é também sobre
Kate Bishop (a maravilhosa Hailee Steinfeld), até mais do que sobre Clint
Barton, codinome do Gavião Arqueiro –detalhe que ameaça colocá-lo para
escanteio dentro da própria série que protagoniza.
O primeiro episódio, dentre seis, começa
inspirado: Testemunhamos os eventos de 2021, do primeiro filme dos Vingadores,
contudo, não do já conhecido ponto de vista dos heróis, mas do ângulo da
pequena Kate, então uma garotinha de apenas nove anos, que vê, estarrecida, das
dependências em frangalhos de seu apartamento, a devastadora Batalha de Nova
York. Algo em meio àquele caos chama a atenção de Kate: Um herói, munido de
arco e flecha, enfrenta os alienígenas e salva a vida das pessoas (incluindo a
dela própria). ele não é provido de superpoderes, não tem um martelo mágico,
nem uma armadura tecnológica. Ele conta apenas com sua habilidade e vigor. É o
Gavião Arqueiro.
Nos dias atuais, Kate já é uma moça com vinte e
tantos anos, mas a inspiração do Gavião Arqueiro, de certa forma a definiu: Ela
é prodigiosa em arcoaria. Já, a Batalha de Nova York foi devidamente assimilada
pela cultura pop; Foi convertida em um musical –“Rogers-The Musical” –exibido
nos palcos off-Broadway; é essa peça teatral que vemos Clint Barton assistindo
com os filhos enquanto ainda digere os acontecimentos de “Vingadores-Ultimato”,
entre eles, a morte de sua melhor amiga, Natasha Romanoff (Scarlett Johansson).
Esses contratempos e mais as árduas missões ao longo dos anos passaram a afetar
seriamente a sua audição –numa manobra oriunda dos premiados quadrinhos
escritos por Matt Fraction, que serve de produtor-consultor desta série,
Os caminhos de Kate e Clint, é óbvio, estão
fadados a se cruzarem. E isso ocorre quando, por acaso, Kate veste o traje de
Ronin –a identidade vigilante adotada por Clint quando sua família foi blipada por Thanos em “Vingadores-Guerra Infinita” –e acaba na mira de uma gangue nova-iorquina ávida por vingança, a
Gangue do Agasalho (?!), também oriunda da graphic-novel de Matt Fraction.
Clint então precisa livrar Kate –que na
empolgação assume o papel de sua parceira/pupila/ajudante –do encalço da Gangue
do Agasalho, e de sua perigosa líder, Maya (Alaqua Cox), uma surda-muda hábil
em artes-marciais, enquanto corre contra o tempo para tentar passar o Dia de
Natal junto de sua família –a série busca emular assim, as narrativas ágeis e
descontraídas de alguns filmes natalinos, aos quais, inclusive, a produção faz
referência. Entretanto, tudo é somente a ponta do iceberg: A trama de “Gavião
Arqueiro” se ramifica a medida que descobrimos mais a respeito de seus inúmeros
personagens, como Eleanor Bishop (a ótima Vera Farmiga), mãe de Kate, que
guarda terríveis segredos envolvendo o assassinato de um ricaço; ou o noivo
dela, o bon vivant Jack Duquesne
(Tony Dalton), um espadachim de habilidade um tanto suspeita (na realidade, ele
próprio um importante personagem de histórias mais antigas da Marvel); até
mesmo Laura Barton (Linda Cardelini), esposa de Clint, dona de um passado
misterioso que ameaça voltar para persegui-la, algo que seu marido não pode
deixar; ou Yelena Belova (a sempre sensacional Florence Pugh) que, desde a cena
pós-créditos de “Viúva Negra” sabemos ter Clint Barton na mira por acreditar
ser ele o responsável pela morte de sua irmã, Natasha Romanoff; e, para a
alegria de inúmeros fãs de quadrinhos, a aparição-surpresa, já nos episódios
finais, do verdadeiro vilão da trama, um personagem (e um ator) que fará o
público vibrar.
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