Na cerimônia de 2000, durante o agradecimento por seu Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por “Regras da Vida”, Michael Caine citou, entre outros, o jovem colega Jude Law, que à época concorria com ele por seu papel em “O Talentoso Ripley”, afirmando que Law se parecia muito com ele quando mais jovem. Talvez tenha sido um tremendo acaso do destino –ou talvez os produtores desse filme estivessem assistindo à cerimônia... –mas, anos depois, foi o próprio Jude Law quem acabou escalado para reprisar o papel de Alfie Elkins, que havia sido de Michael em 1966 (e pelo qual ele recebera uma indicação ao Oscar de Melhor Ator) no filme “Alfie” –aqui no Brasil intitulado “Como Conquistar As Mulheres”.
Se não chega nem perto de igualar a qualidade,
nem tampouco a relevância pulsante com que abordou elementos pertinentes e
delicados referentes à revolução sexual e aos novos comportamentos de então, o
novo filme serve, ao menos, para uma interessante avaliação da mudança dos
tempos, no curioso contraste que se estabelece entre ele e o clássico original
–e mesmo entre as circunstâncias que lhe tiram a contundência –e, queira ou
não, ele vale a pena ser visto, também, pela convicta e certeira presença de
Jude Law. Nisso, Michael Caine estava coberto de razão: Provavelmente poucos
atores jovens em geral (e ingleses em particular) seriam capazes de se
equiparar em apelo e competência ao desempenho que Caine entrega no filme de 66;
no que diz respeito ao seu protagonista, pelo menos, este “Alfie-O Sedutor” se
revela tão certeiro quando o clássico.
Uma pena que todo o resto não siga essa
vibração: Motorista londrino de limusines descompromissado e galanteador, Alfie
(Jude Law, numa segurança à toda prova) é um rapaz que se dá bem até demais com
o sexo oposto. Sua rotina é enfileirar conquistas sistematicamente ao longo das
noites de balada enquanto narra, no processo, suas aventuras românticas ao
expectador, num tom de confissão/reflexão.
Todavia, a compulsão de Alfie por encontros
casuais migra, aos poucos, de relações superficiais e basicamente físicas (como
atestam as participações rápidas, porém descontraídas de Marisa Tomei, Sienna
Miller e Jane Krakowski), para complicações afetivas e sentimentais para as
quais ele não estava preparado –caso da recaída na qual Alfie seduz a namorada
de um grande amigo. Se no filme original, neste momento –o ponto de virada da
trama, digamos assim –o filme original confrontava o público e o personagem
principal com um choque de realidade ao trazer, inclusive, uma perturbadora
reconstituição de um aborto, o filme de 2004 prefere não pegar tão pesado
assim. Ele abraça as intenções mais comerciais e menos sócio-comportamentais ao
optar por uma solução onde, desta vez, o aborto não ocorreu, substituído por
uma gravidez-surpresa. A tragédia que fica a definir o ponto de virada do
protagonista é então uma amizade perdida por conta de sua compulsão por
mulheres.
Com efeito, essa disposição de possuir menor
contundência e menos ousadia se reflete diretamente no filme: “Alfie-O Sedutor”
é prosaico onde o original era pungente; vai de uma comicidade colorida e cheia
de flertes (na qual Jude Law se sai muito bem) para uma insossa seriedade
forçada, quando o original afastava o público gradualmente do humor
inconsequente para um drama avaliativo.
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