Seijun Suzuki já fez de tudo um pouco. No mais, seu foco de produção, nos anos de maior atividade (anos 1960 e 70) foram filmes de apelo mercadológico para a Nikatsu Produções, de quem era contratado. Apesar disso, Suzuki foi capaz de acrescentar certa identidade às obras que concebeu, entre elas uma infinidade de filmes de yakuza. Em “Detetive Bureau 2-3”, como um muitas de suas realizações, ele se ambienta nos anos pós-guerra, período que representou uma espécie de gênese da yakuza moderna.
A cena inicial mostra dois clãs, Sakura e
Otsuki, numa negociação escusa em uma rodovia –desprovida de closes, quase resguardada
em tomadas panorâmicas na sua totalidade, a cena culmina, inevitavelmente, num
tiroteio povoado de mortes e explosões quando um terceiro e traiçoeiro grupo se
revela. Logo, somos então apresentados ao grande protagonista de trama, Hideo
Tajima (Joe Shishido, no primeiro filme que ele e Suzuki realizaram em
parceria) um detetive particular que fareja, no dia seguinte, uma oportunidade
para resolver a questão: Com o surgimento de uma testemunha, o gangster Manabe
(Tamio Kawachi, de “História de Uma Prostituta”), ambos os clãs se encontram em
polvorosa a fim de eliminar o dedo-duro, tão logo ele pise para fora da
delegacia. Assim, o delegado (Nobuo Kaneko, de “Viver”), que não deseja que a
única pista sobre o nebuloso caso acabe alvejada com tiros, aceita o plano
mirabolante proposto por Tajima: Munido de identidade falsa, ele será o
responsável por livrar Manabe da morte certa, tirando-o da delegacia e, ao
ganhar sua confiança, poderá se infiltrar no bando da yakuza do qual ele veio,
descobrindo assim, quem eles são, e quais são seus planos na escala mafiosa de
poder.
A tarefa de Tajima, contudo, não será fácil: O
chefe do grupo misterioso em questão, Hatano (Kinzô Shin, de “A Juventude da Besta”), é extremamente desconfiado, e para seu embuste funcionar, Tajima
deverá contar com muita habilidade e desenvoltura da parte de seus aliados
policiais –além de um bom bocado de indulgência do próprio roteiro...
Produção ligeiramente mais endinheirada que o
habitual –o que denota o gradual apreço que Suzuki foi obtendo dentro das
fileiras dos estúdios japoneses –“Detetive Bureau” foge do convencional em se
tratando de filmes de yakuza ao focar menos na violência e na truculência
(embora, elas também marquem presença na narrativa) e mais em uma excêntrica
junção de gêneros característicos a
formar uma curiosa miscelânea; a trama usual de conspiração, conluios e
traições de gangsteres é abrandada por um viés de estilo que lembra muito as
aventuras de James Bond realizadas com Sean Connerry nesse período (e Joe
Shishido incorpora com sólida primazia esse tipo de altivez e petulância), outros
filmes de espionagem em geral, e films noir, com efeito, Suzuki não teme
contrariar a norma geral de produções japonesas ao fazer de seu filme um
trabalho carregado e extroversão e descontração –até mesmo números musicais em
profusão generosa acabam interferindo na condução narrativa.
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