sexta-feira, 17 de agosto de 2018

A Juventude da Besta


Começando e terminando em cenas preto & branco, o filme “A Juventude da Besta”, de Seijun Suzuki, ostenta um fulgurante colorido ao longo de sua duração, além de uma constante inquietação visual marcada registrada de seu realizador através da qual ele conseguiu imprimir um estilo particular que atravessasse as pesadas imposições industriais do estúdio para o qual era contratado.
Encomendado para ser um exemplar completo dos atribulados filmes de yakuza lançados nos anos 1960, “A Juventude da Besta” conta a história de Mizuno (Joe Shishido, ator que esteve em diversos filmes do diretor) que, de início, a narrativa não faz muita questão em explicar quem é.
Houve um crime aparentemente passional na cena inicial em preto & branco e a primeira reação do expectador é tentar relacioná-la ao resto do filme. Suzuki, no entanto, prorroga ao máximo essa conexão. Mizuno é cabeça quente, invocado e truculento –ainda que não seja de todo implacável como os heróis de faroestes que os filmes yakuza ocasionalmente referenciam –e essas características o tornam perfeito para exercer o papel de capnaga do mafioso Nomoto, chefe de uma quadrilha repleta de figuras instáveis e pouco confiáveis.
As oportunidades para trair a confiança de Nomoto surgem a toda hora, seja quando uma amante dele propõe à Mizuno que mate uma de suas concorrentes; seja quando um de seus rivais, chefe de outra quadrilha, lhe oferece pagamento dobrado para entregar os segredos acerca uma negociação envolvendo drogas.
E Mizuno está longe, muito longe de ser alguém leal. Tudo o que ele quer é sobreviver baseado na desenvoltura com a qual se esquiva dos inimigos e estar onde lhe pagarão a maior quantia em dinheiro.
No entanto, pouco a pouco, Suzuki vai revelando a verdadeira faceta de Mizuno, seu passado como policial, a morte do seu parceiro e amigo como motivação para muitos de seus atos e seus reais objetivos no papel que assume aos olhos da quadrilha.
Temperado com mais reviravoltas do que poderia se esperar e agraciado com o esmerado senso estético visual de rítmico de Suzuki, “A Juventude da Besta” não deixa de ser em si um produto de seu tempo, ao mesmo tempo em que agrega sutis características de um cinema comercial (inclusive norte-americano) que ainda seria executado no futuro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário