Começando e terminando em cenas preto &
branco, o filme “A Juventude da Besta”, de Seijun Suzuki, ostenta um fulgurante
colorido ao longo de sua duração, além de uma constante inquietação visual
marcada registrada de seu realizador através da qual ele conseguiu imprimir um
estilo particular que atravessasse as pesadas imposições industriais do estúdio
para o qual era contratado.
Encomendado para ser um exemplar completo dos
atribulados filmes de yakuza lançados nos anos 1960, “A Juventude da Besta”
conta a história de Mizuno (Joe Shishido, ator que esteve em diversos filmes do
diretor) que, de início, a narrativa não faz muita questão em explicar quem é.
Houve um crime aparentemente passional na cena
inicial em preto & branco e a primeira reação do expectador é tentar
relacioná-la ao resto do filme. Suzuki, no entanto, prorroga ao máximo essa
conexão. Mizuno é cabeça quente, invocado e truculento –ainda que não seja de
todo implacável como os heróis de faroestes que os filmes yakuza ocasionalmente
referenciam –e essas características o tornam perfeito para exercer o papel de
capnaga do mafioso Nomoto, chefe de uma quadrilha repleta de figuras instáveis
e pouco confiáveis.
As oportunidades para trair a confiança de
Nomoto surgem a toda hora, seja quando uma amante dele propõe à Mizuno que mate
uma de suas concorrentes; seja quando um de seus rivais, chefe de outra
quadrilha, lhe oferece pagamento dobrado para entregar os segredos acerca uma
negociação envolvendo drogas.
E Mizuno está longe, muito longe de ser alguém
leal. Tudo o que ele quer é sobreviver baseado na desenvoltura com a qual se
esquiva dos inimigos e estar onde lhe pagarão a maior quantia em dinheiro.
No entanto, pouco a pouco, Suzuki vai revelando
a verdadeira faceta de Mizuno, seu passado como policial, a morte do seu
parceiro e amigo como motivação para muitos de seus atos e seus reais objetivos
no papel que assume aos olhos da quadrilha.
Temperado com mais reviravoltas do que poderia
se esperar e agraciado com o esmerado senso estético visual de rítmico de
Suzuki, “A Juventude da Besta” não deixa de ser em si um produto de seu tempo,
ao mesmo tempo em que agrega sutis características de um cinema comercial
(inclusive norte-americano) que ainda seria executado no futuro.
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