quarta-feira, 29 de março de 2023

Transformers - O Lado Oculto da Lua


 Tivesse qualidade palpitante como entretenimento (tal qual o primeiro filme) ou fosse uma porcaria indefensável (tal qual o segundo), uma coisa ficou clara: A franquia “Transformers” era rentável. A crítica poderia expor, em minúcias, onde tudo estava errado –e quase sempre dizia respeito ao estilo histérico e espalhafatoso do diretor Michael Bay –mas, o público comparecia em peso nas bilheterias. Diante dessa constatação, não havia como não aprovar a realização de um terceiro filme tão logo o segundo fez dinheiro o suficiente para se pagar.

Embora tenha gerado relativamente menos expectativa do que o filme anterior –a parcela mais exigente do público já havia entendido que a qualidade se restringiu ao filme inaugural da saga –esta terceira produção não deixou de enfrentar alguns contratempos, além de vir pontuada com alguns indícios de que, sim, Michael Bay, apesar dos pesares, estava atento às reclamações dos expectadores e fez questão de compor um filme que se afastasse de muitas das notórias características negativas apontadas em “A Vingança dos Derrotados”. Em seu novo filme, por exemplo, ele deu uma ênfase mais dedicada aos personagens dos robôs (aqui, mais influentes na história); enxugou consideravelmente o excesso de piadinhas, tornando-as mais pontuais (embora, na boca de Shia LaBeouf, continuassem irritantes); aboliu completamente a ambientação insistente do deserto presente nos dois filmes anteriores; e acima de tudo, devolveu seu jovem protagonista, Sam Witwick (LaBeouf), ao status de perdedor nato –o que contraria, de forma um tanto incômoda, a postura de “bonzão” que ele ostentava na produção anterior.

Houve outro fator –este um pouco inesperado –que tornaram as coisas diferentes neste terceiro filme: A personagem de Megan Fox, Micaela (que, notamos, teria muito mais peso nesta trama) acabou sendo retirada. O motivo: Alegações meio inconsequentes da parte da atriz (afirmando que Michael Bay era um carrasco com o elenco e a equipe, comparando-o à Hitler) deixaram descontente o produtor Steven Spielberg que, imediatamente, ordenou o afastamento dela. Em seu lugar, foi escalada a modelo Rosie Huntington-Whiteley (namorada do astro de ação Jason Statham) a fim de interpretar o novo interesse amoroso de Sam, Carly –entretanto, é visto e perceptível que, embora mudasse o nome da personagem e a beldade que a interpreta, tudo o mais no roteiro de “O Lado Oculto da Lua” trata como se ela ainda fosse Micaela. Tanto é que Megan Fox realmente estava lá nas primeiras semanas de gravação!

Enfim vamos à história: Ingressando na vida adulta (e obviamente assumindo um cargo de simbólica inferioridade perante seu chefe interpretado por John Malkovich), Sam vive uma fase complicada. A namorada (agora, Carly) já não lhe dá atenção, ocupada que está com seu próprio emprego (e com as exigências do patrão vivido por Patrick Dempsey). E seu melhor amigo, Bumblebee, um dos Autobots, finalmente se deu conta de que é mais que um carro de estimação de um humano e agora se ocupa das missões junto dos demais Autobots, sem ter muito tempo para ele –atitude, diga-se, completamente oposta da demonstrada pelo personagem no outro filme.

Os Autobots, por sua vez, liderados por Optimus Prime, têm assuntos realmente sérios com os quais lidar: Atuando em parceria com o governo dos EUA –personificados na personagem pouco aproveitada da grande Frances McDormand –os Autobot acabam descobrindo que a relação entre sua espécie e a dos seres humanos remonta há mais tempo do que parecia, no caso, desde a chegada do homem na Lua (reconstituída num prólogo todo pomposo), onde foi descoberta toda uma base ocupada de Decepticons.

É preciso muita boa vontade do expectador para que seja comprada a proposta de “O Lado Oculto da Lua” ao fazer drama e suspense com a suposição realista de uma invasão alienígena, tantas vezes que esse filão já foi explorado pelo cinema. No que diz respeito ao estilo de Michael Bay, pouca coisa mudou de fato, não obstante seus esforços: As cenas de ação em geral brilham com sua execução exemplar –as técnicas 3D turbinaram os efeitos visuais, influenciados pelo fenômeno “Avatar” poucos anos antes –mas, toda essa extravagância perde qualquer respaldo quando a narrativa busca apoio nos quesitos que deveria ser sólidos, mas não são: Como o roteiro (redundante e, ocasionalmente, até vergonhoso), os personagens (construídos com visível preguiça) e o elenco (orientado de maneira grosseira e superficial). “O Lado Oculto da Lua” é o tipo de filme cujas falhas gritam muito mais alto que seus acertos.

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