quinta-feira, 9 de março de 2023

Transformers - A Vingança dos Derrotados


 Produzido por Steven Spielberg, o primeiro “Transformers”, quando aportou nas salas de cinema no ano de 2007, revelou-se um belo achado: Descobrimos que o estilo bombasticamente sinético de Michael Bay poderia se encaixar com certa propriedade num produto oriundo da cultura pop dos anos 1980; descobrimos o promissor potencial (depois de um tempo não consumado) do jovem protagonista Shia LaBeouf, além da formosura de Megan Fox. Também descobrimos as vastas possibilidades na área do entretenimento que poderia nos oferecer a arrojada combinação entre robôs gigantes e efeitos visuais de ponta. Um sucesso absoluto.

E como costuma ocorrer com sucessos absolutos, a continuação foi quase um reflexo espontâneo. O problema: Apesar das honoráveis exceções de “O Poderoso Chefão Parte II”, “O Império Contra-Ataca” e alguns outros, Hollywood pouco aprendeu sobre a fina arte de realizar continuações tão boas quanto seus originais. E não haveria de ser o ansioso, truculento e afoito cinema de Michael Bay que possuiria bom senso o bastante para dar uma pausa, observar tudo o que funcionou no primeiro filme (que seriam o carisma de alguns personagens e o apelo dos imensos robôs que viravam carros, combinados num roteiro profundamente referencial às aventuras dos anos 1980) e replicá-lo com critério, parcimônia e elegância no segundo. Em vez disso, Michael Bay –provavelmente agraciado com muito mais liberdade criativa aqui –potencializou tudo o que havia no filme anterior, tornando-o maior, mais longo, mais intenso e mais frenético, beirando assim o insuportável. As piadinhas (em especial, aquelas partidas de Sam, personagem de LaBeouf) se eram pontuais, espontâneas e genuinamente divertidas antes, se multiplicaram de forma a logo cansarem, tal é a frequência com que saem insistentemente (e agora sem tanta espontaneidade) da boca do protagonista (e, aqui neste caso, dos coadjuvantes também); os efeitos visuais flertando com o revolucionário, se representavam os maiores chamarizes daquela produção (similar ao que “Jurassic Park” fizera pouco mais de uma década antes), agora predominavam de tal maneira em cena (e com tamanha ausência de cuidado ao serem inseridos em qualquer contexto) que logo enjoavam, devido a profusão com que robôs de todas as cores, todos os formatos e tamanhos (até mesmo uns nanicos colocados na trama sem a menor relevância!) apareciam na tela.

Em sua trama pouco inspirada, também “A Vingança do Derrotados” se mostrava uma espécie de equívoco: Disposto talvez a não arriscar, os roteiristas Ehren Kruger, Roberto Orci e Alex Kurtzman trilhavam todos os segmentos narrativos do filme anterior, revisitando-os, e acrescentando adendos situacionais que não somavam em absolutamente nada ao enredo. É dessa maneira que o outrora perdedor, Sam Witwick, agora namorando a espetacular Micaela (Megan Fox) ingressa na faculdade para tristeza de seu melhor amigo, o autobot Bumblebee –e todas as piadas já recauchutadas do primeiro filme onde Bumblebee não consegue falar e usa das músicas do rádio para se comunicar são repetidas aqui, como se fossem novidade (!); também a questão um tanto estranha de um jovem adulto não se empolgar com a presença de um robô alienígena e nem de um sex-simbol ambulante como Micaela em sua vida é bastante forçada (tanto que esses elementos serão revistos e contrariados no filme seguinte, mas aí é outra história...). Em meio ao processo de  adequação à faculdade de sempre (mostrado com todos os clichés possíveis, incluindo os valentões da vez), Sam segue demonstrando mais interesse no tédio da vida estudantil acadêmica do que nas circunstâncias assombrosas com as quais se deparou no primeiro filme, até que os perversos Decepticons retornam com um plano de trazer seu líder, Megatron, de volta à vida. O que, em resumo, leva ao caos barulhento e visual que costuma acometer os filmes de Michael Bay –e que ele considera cenas de ação –atingindo seu clímax numa sequência em plenas Pirâmides do Egito.

Não se pode negar que haviam algumas boas intenções no projeto deste segundo “Transformers”: Ao abordar ligeiramente a subtrama da “morte de Optimus Prime”, o roteiro fazia uma ligeira referência ao longa-metragem de animação, “Transformers-O Filme” (lançado ainda durante a época gloriosa do desenho animado, em 1986) tomando emprestado um dos mais dramáticos e marcantes arcos narrativos acompanhados pelos fãs. Uma pena que, de tudo aquilo, muito pouco sobrou: O roteiro de Kruger, Orci e Kurtzman mal aproveita as circunstâncias esboçadas na animação oitentista –que, com não muita atenção, pode-se notar que era muito mais bem roteirizada, mesmo sendo um produto infantil, do que todos os mais recentes longa-metragens feitos para cinema, presumidamente feitos para adultos.

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