Obra-prima. Às vezes simplesmente não há como
encontrar um termo mais apropriado para definir um filme.
Devia haver algum temor, mesclado com imensa
expectativa, quando se soube, lá por 1974, que o aclamado “O Poderoso Chefão”,
de Francis Ford Coppola, ganharia uma continuação. Claro que o livro tinha, ele
próprio, a sua seqüência, tornando a realização do segundo filme algo
inevitável –mas, uma coisa era antever o filme, outra bem diferente, era
conseguir imaginar meios pelos quais Coppola viesse a reproduzir um trabalho
tão certeiro, primoroso e memorável quanto foi o filme inicial.
Certamente contrariando de maneira espetacular
o eventual pessimismo, “O Poderoso Chefão-Parte II” revelou-se uma obra ainda
mais aprimorada, aperfeiçoada, instigante e bela do que o filme anterior,
conseguindo o feito de, como ele, conquistar o Oscar de Melhor Filme
–concedido, pela primeira vez na história do cinema, à uma continuação.
E que continuação!
De volta como Michael Corleone, Al Pacino segue
magnífico quando seu personagem assume os negócios da família após a morte de
seu pai, Don Vito (Marlon Brando), ocorrida no filme anterior.
Colhido pelo furacão ocasionado pelos eventuais
contratempos de sua condição de mafioso poderoso (um atentado contra sua vida e
a de sua família; aliados que se revelam inimigos ardilosos e mortais; golpes
para fragilizar seus negócios e corromper seus colaboradores), ele ainda tem de
lidar com um plano para acabar com sua vida e aprender a controlar as extensas
ramificações da "famiglia", o que inclui alianças e traições.
Paralelamente a esses acontecimentos, Coppola
regressa no tempo e, absorvendo o romantismo e o lirismo da Velha Hollywood e
fundindo-o com uma percepção operística de ação e violência mostra a juventude
de Vito Corleone (vivido com intensidade, primor e propriedade por Robert De
Niro), sua fuga da Itália para os EUA, o difícil esforço para se impor nas ruas
e no universo traiçoeiro da criminalidade nova-iorquina, e o modo como se
tornou o respeitado mafioso mostrado no primeiro filme.
Com um trabalho de direção tão –ou até mais!
–perfeito que no primeiro filme, Coppola cria uma continuação
inacreditavelmente superior, não somente dando seqüência à trama original (e a
partir dela, moldando uma obra envolvente, vigorosa e criteriosa acerca das
concepções de lealdade e honra que regem seus personagens), como lhe permite
esclarecê-la e enriquecê-la, por meio da história do jovem Vito Corleone.
Para os apreciadores do filme de gangster,
Coppola não somente expande o revisionismo fascinante –com admirável inclinação
para o drama humano –que ele exerceu no primeiro filme, mas também salienta os
elementos que sua saga tem de mais imprescindível e paradigmático no gênero: Lá
estão os ritos de passagem estipulados em pormenores brilhantes; os personagens
de natureza amoral, mas tratados com uma desafiadora abordagem terna e humana;
os detalhes pontuais que ilustram os valores da máfia siciliana; e, ao fim, a
junção apoteótica e arrebatadora de todas as pontas soltas urgidas nesse universo
de crime, convergidas num dos mais extraordinários desfechos já realizados no
cinema.
Enfim, uma obra-prima.
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