domingo, 25 de junho de 2023

Liga da Justiça de Zack Snyder


 As turbulências do Universo DC nos cinemas já são conhecidas, e todos sabem que a maioria delas culminou no irregular “Liga da Justiça” de 2017 que, embora tivesse o nome de Zack Snyder em seus créditos, era fruto do trabalho de Joss Whedon, chamado pelos executivos da Warner Bros. para finalizar o vasto material deixado por Snyder antes de seu afastamento em decorrência do trágico suicídio da filha. Havia algumas intenções bem nítidas no recrutamento de Joss Whedon que, é bom lembrar, dirigiu também “Os Vingadores” para a Marvel Studios cerca de seis anos antes: Harmonizar as muitas ideias ainda inacabadas (algumas bastante ambiciosas) que Zack Snyder deixara para “Liga da Justiça”, e dar um aspecto mais, digamos, semelhante às obras da Marvel para as ainda tão lúgubres realizações da DC –público e crítica pareciam concordar que “Batman Vs Superman” padecia, entre tantas outras coisas, de um tom sombrio que por vezes exacerbava e soava inadequado a um filme de superheróis.

Entretanto, Joss Whedon não revelou-se a escolha ideal para a tarefa: Além de simplificar todo o material de Snyder a fim de acomodá-lo numa duração curta de mais apelo comercial (tirando assim toda a relevância de muitas cenas), Whedon acrescentou cenas que só introduziam piadinhas desnecessárias (um elemento da Marvel do qual a DC não precisava), deixando a clara e desconfortável diferença de estilo visual e narrativo entre ele e Snyder (transformando o filme numa colcha de retalhos) e finalizou todo o material com um desleixo ainda mais incômodo: Ficou famosa (ou seria infame?), por exemplo, a boca em CGI de Henry Cavill, acrescentada para apagar o bigode que ele deixara crescer para as filmagens de “Missão Impossível-Efeito Fallout”.

Então, veio a pandemia em 2020 e os índices baixos (ou seria melhor inexistentes?) de bilheterias cinematográficas fez os executivos do estúdio voltarem sua atenção para sua plataforma de streaming, o HBO Max, e para as redes sociais, onde ganhava força um movimento chamado #snydercut no qual fãs fizeram petições pedindo pelo lançamento da versão de Zack Snyder de “Liga da Justiça” certamente melhor do que a lançada no cinema em 2017 –até porque, seria difícil conseguir fazer algo pior...

Eis que, uma vez mais tendo acesso às cenas gravadas, e com todo o arsenal de efeitos computadorizados para finalizar o filme à sua maneira, Zack Snyder pôde enfim satisfazer seus fãs e entregar sua própria versão de “Liga da Justiça” a ostentar a nada modesta metragem de quatro horas de duração (!).

Após os eventos dramáticos de “Batman Vs Superman” –revistos sobre outro e estilizado ângulo nas cenas iniciais –um novo desafio aos heróis, Batman (Ben Affleck) e Mulher-Maravilha (Gal Gadot) surge no horizonte: Sem o vasto poder de Superman para proteger a Terra, as preciosas ‘caixas maternas’ despertam sua energia, atraindo invasores alienígenas.

Outrora pivô de uma invasão alienígena ocorrida em tempos imemoriais, as ‘caixas maternas’ –divididas em três –ficaram na Terra, sob a proteção dos humanos, dos atlantes (o povo de Aquaman) e das amazonas (o povo de Diana, a Mulher-Maravilha). Agora, o conquistador tirânico Darkseid (Ray Porter) pretende recuperá-las e, para isso, envia seu mais poderoso lacaio, o Lobo da Estepe (Ciarán Hinds, um vilão muito mais elaborado esteticamente e melhor escrito do que no outro filme), desesperado por saciar a fome de conquista de seu senhor e assim, saldar a dívida que tem com ele, e voltar para seu mundo-natal.

A medida que se deparam com o poder incomensurável do Lobo da Estepe, Bruce Wayne (o Batman, caso alguém não saiba...) dá sequência ao seu plano de reunir os seres mais poderosos da Terra numa única equipe a fim de protegê-la. Com Diana ao seu lado –devidamente alertada do roubo da ‘caixa materna’ em poder das amazonas por sua mãe Hipólita (Connie Nielsen) –ele vai atrás do atlante Arthur Curry, o Aquaman (Jason Momoa), do velocista Barry Allen, o Flash (Ezra Miller) e do indivíduo cibernético Victor Stone, o Cyborg (Ray Fisher), este, aliás, criado a partir de uma das ‘caixas maternas’.

No entanto, logo fica claro que, para fazer frente a esse poderoso inimigo, eles devem encontrar um meio de trazer de volta Kal-El, o Superman (Henry Cavill).

Para aqueles que viram o “Liga da Justiça” de Joss Whedon, este novo filme não terá uma trama das mais diferentes do que se viu naquele, ainda assim, devido ao tratamento muito mais épico e ambicioso planejado por Snyder, a sensação de acompanhar os mesmos acontecimentos é a de se assistir a um filme completamente novo. Muita coisa muda –sai completamente a abertura ao som de “Everybody Knows”, por exemplo –mas, curiosamente, muita coisa permanece a mesma nesta nova versão; consequência do fato claro de  que foi Snyder quem realmente filmou a maior parte de “Liga da Justiça”, a grande diferença foi que Joss Whedon enxugou, e muito o material, a fim de acomodá-lo em módicas duas horas, criando, aqui e ali, cenas que emendavam alguns blocos. Todavia, como é visível ao assistirmos as duas versões, Whedon prefere menções aos quadrinhos que remetem mais leveza, enquanto que Snyder enfatiza um certo peso dramático embutido naturalmente nessa mitologia. Preferir um ou outro é, deveras, uma questão de gosto, mas é bem nítido qual das duas versões é superior: Pela amplitude da trama preservada e concebida, a versão de Snyder é infinitamente mais concisa, satisfatória e coerente que o filme francamente falho de Whedon. As mesmas cenas, na concepção de Snyder, ganham uma duração maior, privilegiam mais a atmosfera e os pequenos detalhes (não somente a câmera lenta como muitos detratores quiseram alardear), aprofundam as relações e motivações de praticamente todos os personagens (alguns, como o Cyborg, são genuinamente melhorados) e conferem ao filme uma contundência que faz toda a diferença na última parte do filme, um clímax muito mais tenso, eficaz e vibrante.

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