Um homem desejoso de vingança. Uma plano intrincado. Uma lista de potenciais vítimas. Esses elementos, tão comuns a diversos gêneros cinematográficos, integram o enredo do estranho clássico britânico do diretor Robert Fuest que com eles compõe o que no fim das contas não passa de uma grande brincadeira: Já a adentrar os anos 1970, quando astros de outrora do quilate de Vincent Price já eram enxergados com certa decadência, e o estilo de terror da Hammer Studios já se mostrava defasado ante as narrativas audaciosas e transgressoras que emergiam (Nova Hollywood, exploitation e outras experimentações), “Dr. Phibes” e sua trama investigativa em torno de um vilão caricatural com ares de “O Fantasma da Ópera” valia-se do humor providencialmente negro para oferecer um petulante diferencial. Na Londres de 1971, pessoas começam a aparecer assassinadas por meios um tanto quanto inusitados e estilizados –as encenações de cada crime seguem uma orientação inventiva ainda que ocasionalmente inverossímil –e o audaz Inspetor Trout (Peter Jeffrey, de “Se...”) logo suspeita ser obra de um único criminoso. As vítimas, portanto, estão interligadas: Todas compuseram uma equipe médica (tratam-se de sete cirurgiões e uma enfermeira) que fracassou ao tentar salvar a vida de Victória, esposa do Dr. Anton Phibes (Vincent Price, como sempre, maligno e vistoso em sua canastrice), dado como morto num acidente de carro quando rumava ao mesmo hospital para ver a esposa.
Cientista, médico, professor de Teologia e
doutorado em música, o Dr, Phibes, é óbvio, não morreu, ao invés disso, amargou
uma existência soturna, desprovido de voz (suas cordas vocais foram
comprometidas no acidente), e passou os últimos anos elaborando minuciosamente
seu sofisticado plano de vingança contra aqueles que ele crê terem matado
Victória –plano este cujos assassinatos têm inspiração nas Sete Pragas do
Egito!
No entanto, com o Dr. Phibes dado como morto,
as desconfianças certeiras do Inspetor Trout não são levadas em conta
pela Scotland Yard, o que leva o detetive a contar com a ajuda do
Dr. Vesalius (Joseph Cotten), chefe da equipe médica que operou Victória, e
possivelmente a vítima derradeira do plano do Dr. Phibes.
Cult-movie por
excelência, “O Abominável Dr. Phibes” não é um filme imediatamente apetecível
ou acessível; vindo de uma vervente autocaricatural que orientou algumas obras
de terror naqueles anos 1970 de então, o roteiro de James Whiton e William
Goldstein une deboche e perversidade macabra numa mesma proporção, resultando
consideravelmente estranho aos expectadores de hoje –os investigadores dos
crimes, Trout e Vesalius, oscilam entre o seriamente atrapalhado e o
atrapalhadamente sério, enquanto que o gênio vilanesco, louco e desfigurado
interpretado por Price só vai aparecendo aos poucos ao longo do filme –essa
atmosfera nada usual é enfatizada na trilha sonora de Basil Kirchen e Jack
Nathan que adorna com canções como “Charmaine” e “Darktown Strutters Ball” suas
sequências de morte (!), criando um efeito desconcertante.
Nenhum comentário:
Postar um comentário