Em seu quinto exemplar, a “Saga Transformers”, pode-se dizer, estava uma bagunça só: Na intenção de criar roteiros que fossem cada vez mais mirabolantes e surpreendentes em relação à sua mitologia, a franquia se contradizia convulsivamente. Se no primeiro filme, fica bastante clara a chegada dos Autobots na Terra como sendo seu primeiro contato com os seres humanos, logo, nos filmes subsequentes, essa ideia foi sendo deixada de lado, através de pequenas pistas que foram crescendo até chegarmos no radicalismo da proposta desta quinta produção: Os Transformers não só vieram para a Terra séculos antes, como participaram ativamente de inúmeros eventos fundamentais na história da Humanidade, e no caso dos Autobots, interagindo e colaborando diretamente com os seres humanos (!).
Se essa ideia –que parece muito agradar ao
diretor Michael Bay, visto a forma com que ela veio ganhando força filme a
filme –contraria muito do que foi estabelecido no começo, ao menos aqui, ela
ganha respaldo total do roteiro.
Numa trama que os roteiristas insistem em
tornar intrincada (mas, quando muito, é rasa, abilolada e pretensiosa), um
planeta constituído de material cibernético –o assim chamado Unicron, elemento
extraído do vibrante longa-metragem de animação “Transformers-O Filme” lançado
em 1986 –está em deliberada rota de colisão com a Terra. A fim de impedir a
destruição total de nosso planeta, os Autobots precisam da ajuda (por alguma
razão que o filme não sabe bem explicar...) do humano Cade Yeager (Mark
Wahlberg, regressando do filme anterior). Ao que tudo indica, os Autobots,
desde sua imemorial interação com os seres humanos que remonta eras da
Antiguidade (!?), sempre contaram com um Cavaleiro, portador de uma espada com
poderes oriundos da tecnologia de Cybertron –e nessa salada indigesta de ficção
científica descerebrada e mitologia de almanaque, sobram respingos até para a
Lenda de Camelot e a espada Excalibur, supostamente entregue ao Rei Arthur por
um dos Autobots (!?!) –é, a coisa fica bem esquisita mesmo...
Assim sendo, no percurso cada vez mais insano
dessa premissa, os protagonistas –na verdade, o pra lá de perdido Cade Yeager e
a historiadora inglesa Vivian Wembley (Laura Haddock, de “Guardiões da Galáxia”), um interesse amoroso dos mais aleatórios e despropositados
–encontram o personagem de Sir Edmund Burton (Anthony Hopkins, coitado,
manchando sua boa reputação), profundo conhecedor da história secreta dos
Transformers e sua relação com a centenária linhagem dos cavaleiros –entre os quais,
como nos é revelado em uma cena, Sam Witwick (Shia Labeouf) do filme original,
que descobrimos estar morto (!!!) –da qual o último membro vem a ser o próprio
Cade. Ou seja, Cade e a Dra. Wembley, em algum momento do turbilhão insano e
caótico de tiros e explosões intermitentes que é a narrativa deste filme, devem
encontrar as pistas do paradeiro da espada que seria Excalibur, uma vez que ela
pode acionar uma ancestral nave alienígena localizada no fundo do Oceano
Atlântico capaz de deter o avanço do Unicron.
Essa é a premissa do filme, mas, francamente,
pouca história ou desenvolvimento de personagens ou de trama se consegue
perceber neste filme barulhento, vertiginoso e ensurdecedor de Michael Bay
–aqui, sua predisposição para sequências de ação está ligada no nível máximo e
o filme não dá um minuto para o expectador tomar fôlego. Mais que isso: Ele não
poupa nem sua própria narrativa; detalhes usuais como a elaborada investigação
em busca do misterioso cajado de Merlin, por exemplo –que poderia remeter
referências mais identificáveis como “Indiana Jones” ou "Código Da Vinci” –ou a
manjada relação amor/implicância do casal central são completamente
negligenciados pela direção que trata tudo como uma ferramenta à serviço da
ação ininterrupta. Sua obra acaba sendo um atordoante teste de resistência aos
expectadores que exigirem um mínimo de coerência em meio à essa sucessão
apoteótica de pirotecnia.
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