Os filmes dos Transformers resgataram para
cinema o conceito dos robôs que se transformam em carros oriundo da famosa
série animada dos anos 1980. E o fizeram com imenso sucesso de bilheteria, ainda
que com qualidade cada vez mais questionável: Se o primeiro “Transformers” era
de um primor escapista, o segundo “A Vingança dos Derrotados” era uma
catástrofe que deixava em evidência as insuficiências artísticas abissais de
seu diretor, Michael Bay, notoriamente avesso a narrativa profundas e
intimistas, e muito adepto de decibéis e pirotecnia em níveis alarmantes. A saga
–que resultou num total de cinco filmes –a partir daí, balbuciava entre as
tentativas de Bay corresponder às críticas que faziam dele (sempre com largo
êxito de público): O terceiro “O Lado Obscuro da Lua” era ao mesmo tempo uma
continuação e quase uma contradição esquizofrênica do anterior; no quarto “A
Era da Extinção”, Bay proporcionou uma reformulação no elenco humano (certo de
que era o irritante Shia LaBeouf quem começava a saturar a plateia) e com isso
uma espécie de recomeço (todavia, na prática, pouca coisa mudou de verdade); e
o quinto “O Último Cavaleiro”, mais uma vez com Mark Wahlberg, um tratado
insano e exorbitante de explosões, tiros e cacofonia representou uma pá de cal
na tumultuada saga que assim se desenhou.
Com toda essa bagagem (e contando com Michael
Bay como produtor, ao lado de Steven Spielberg), foi realizada esta primeira
reformulação de fato que a um só tempo lança indícios de que pode seguir por
uma linha narrativa alternativa, mostra-se um derivado concedendo protagonismo
à um dos mais carismáticos personagens dos filmes anteriores (o pequeno robô
Bumblebee), e retrocede no tempo (anos 1980, mais precisamente) a fim de
aparentemente elucidar melhores detalhes no princípio da trama.
Com isso acompanhamos a trajetória de Bumblebee
(cuja voz vem a ser do jovem astro Dylan O’ Brien, de “Maze Runner”), soldado
integrante dos Autobots, enviado à Terra por seu líder, Optimus Prime, a fim de
garantir uma sobrevida à sua resistência contra os Decepticons numa espécie de
refúgio –toda essa primeira cena, ambientada no planeta Cybertron, é simplesmente
de encher os olhos!
Já na chegada à Terra, Bumblebee tem seu
dispositivo de voz destruído por um inimigo –e por pouco não perde a vida; tem,
em vez disso, sua memória seriamente danificada.
Algum tempo depois, na forma inerte de um fusca
(modelo que corresponde ao usado na série animada original, numa manobra
nostálgica e genial dos realizadores), ele é encontrado pela jovem Charlie (a
talentosa Hailee Steinfeld) que se torna sua amiga.
Logo, no entanto, o perigo virá não apenas na
forma de alguns Decepticons que rastreiam Bumblebee até a Terra, mas também na
de militares beligerantes que não fazem questão de discernir os bons dos maus
(representados, sobretudo, no personagem de John Cena que entrega aqui uma
atuação excelente, a despeito de sua fisionomia brucutu).
Assim sendo, o grande diferencial de “Bumblebee”,
o filme, vem a ser o fato de ser o primeiro filme da franquia “Transformers”
dirigido por outra pessoa que não Michael Bay –o escolhido aqui é o jovem
Travis Knight.
E, se não chega a ser um gênio do cinema,
Knight ostenta uma sensibilidade para a trama e os personagens que jamais se
expressou nos cinco filmes da Era Michael Bay: “Bumblebee” concentra-se na
delicada relação entre o robô que vira carro (e que expressa sentimentos num
primoroso trabalho da equipe de efeitos especiais) e a garota que se torna sua
amiga –aproveitando tal oportunidade para fazer um turbilhão de referências à
hoje cultuada década de 1980, desde músicas famosas que preenchem de cabo a
rabo a trilha sonora, até detalhes ínfimos e sutis, e as invariáveis citações
cinematográficas (essencial para o tom do filme e do relacionamento que ele
centraliza é, portanto, o filme “Clube dos Cinco”, de John Hugues, que aparece
em algumas cenas). Esse senso de abordagem da narrativa, e da própria mitologia
dos Transformers (e que se estende até seu registro visual) exercido pelo
diretor Knight é corajosamente divergente do que Michael Bay fez, e isso é
válido o suficiente para fazer deste o melhor filme realizado nessa franquia
até então.
Se há nele um porém é a
pouca experiência do próprio diretor que se manifesta com obviedade numa junção
não tão harmoniosa entre as sequências mais intimistas e suas cenas de ação, ou
algumas de suas inserções digitais –mesmo isso, contudo, são aspectos pequenos
que não influem no ótimo resultado final deste filme que (diferente dos que o
antecederam) aposta muito mais na empatia e na sensibilidade.
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