quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Liga da Justiça

Pode-se afirmar que foi um verdadeiro parto conseguir este filme da “Liga da Justiça”.
Há muito tempo esperado e alardeado –antes mesmo da realização bem-sucedida de “Os Vingadores” pela Marvel Studios, o quê já foi há cinco anos –o projeto enfrentou, entre outras coisas, um cancelamento provocado pela então greve dos roteiristas em 2007, quando o plano ainda era que fosse dirigido por George Miller e com um elenco totalmente diferente.
De lá para cá, muita coisa mudou.
A Marvel estabeleceu um formato para que um universo de narrativas e personagens dos quadrinhos fosse transposto para o cinema, e a DC Comics, sua rival, naturalmente procurou seguir esse caminho. A jornada, entretanto, foi tortuosa: Sem o humor e a descontração de sua concorrente, a DC buscou um ponto de partida para o seu próprio universo numa reformulação de Superman, seu mais icônico personagem (“O Homem de Aço”), em seguida deu continuidade com um filme até hoje controverso que não agradou a crítica (“Batman Vs Superman” do qual sob muitos aspectos, este filme é uma continuação direta), e uma produção equivocada e problemática (“Esquadrão Suicida”), para finalmente acertar com o filme solo de sua principal heroína (“Mulher Maravilha”).
Diretor de “Batman Vs Superman”, Zack Snyder era inicialmente o diretor deste projeto –e ele de fato responde por pelo menos uns 80 % do material que se assiste no filme –mas, devido à uma tragédia pessoal, desligou-se da produção, dando lugar para Joss Whedon (diretor de “Os Vingadores”) terminar o trabalho.
Algumas coisas ficam claras desde o início: Os realizadores têm consciência de seus erros e os corrigem paulatinamente aqui –o tom sombrio (e tido diversas vezes como inadequado) foi equilibrado, agora a DC compreende que superheróis são motivo de celebração e não de introspecção (há espaço até para piadinhas!); a trama já não se dispersa em subterfúgios banais ou motivações pretensiosas, o roteiro é objetivo e busca ir direto ao ponto (prerrogativa principal para que um filme com tantos protagonistas funcione corretamente).
Como foi visto ao fim de “Batman Vs Superman”, o mundo está de luto pela morte do Superman. Contudo, como foi também visto lá, ameaças muito maiores do que as mundanas começam a contemplar o planeta Terra: O poderoso alienígena Lobo da Estepe (voz do ator Ciaran Hinds, o quê não quer dizer muito...) vem para o nosso planeta atrás de três ‘caixas maternas’ aqui deixadas. Quando reunidas elas despertarão uma entidade de nome ‘unidade’ que consumirá todo o nosso mundo.
Identificando com antecedência o perigo, o vigilante Batman (Ben Affleck, tão esmerado quanto no filme anterior, porém, menos sisudo) põe então em prática o plano com o qual já flertava antes: O de reunir, ao lado da poderosa Diana Prince, a Mulher Maravilha (Gal Gadot, que consegue ser, com facilidade, uma das melhores coisas do filme), os poucos superpoderosos identificados do mundo, que no caso seriam Arthur Curry, o Aquaman (Jason Momoa, da mal-fadada reformulação de “Conan-O Bárbaro”), Barry Allen, o Flash (o talentoso e divertido Ezra Miller) e Victor Stone, o Cyborg (Ray Fisher, o intérprete mais fraco do grupo).
Juntos, como a Liga da Justiça, eles buscarão se opor aos vilões que desejam a destruição. Não só eles, diga-se: Num daqueles casos tão óbvios que até uma criança de colo perceberia, é lógico que o Superman (vivido por Henry Cavill) haverá de ressuscitar para compor o time dos heróis no grande clímax –e apesar disso ser evidente, a narrativa parece tratar a manobra como um das grandes surpresas do roteiro!
No fim das contas, o aspecto que poderia prejudicar o filme –a substituição de diretor com as filmagens em andamento, e antes mesmo da pós-produção –acabou beneficiando-o: “Liga da Justiça” encontra uma harmonia agradável, fluida e plausível entre o estilo lúgubre, amargo até de Zack Snyder e o tom mais ameno, escapista e otimista do experiente Joss Whedon (que até mesmo já roteirizou histórias em quadrinhos).
Seus problemas acabam ficam assim à sombra de seus acertos, especialmente diante do fato de que, comparado ao inconstante “Batman Vs Superman”, este “Liga da Justiça” é um bem-vindo salto de equilíbrio e entendimento narrativo –ainda que ele fique um pouco aquém das qualidades do amplamente satisfatório “Mulher Maravilha”.
É bom saber que a DC Comics está no caminho certo.

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