Pode-se afirmar que foi um verdadeiro parto
conseguir este filme da “Liga da Justiça”.
Há muito tempo esperado e alardeado –antes mesmo
da realização bem-sucedida de “Os Vingadores” pela Marvel Studios, o quê já foi
há cinco anos –o projeto enfrentou, entre outras coisas, um cancelamento
provocado pela então greve dos roteiristas em 2007, quando o plano ainda era
que fosse dirigido por George Miller e com um elenco totalmente diferente.
De lá para cá, muita coisa mudou.
A Marvel estabeleceu um formato para que um
universo de narrativas e personagens dos quadrinhos fosse transposto para o
cinema, e a DC Comics, sua rival, naturalmente procurou seguir esse caminho. A jornada,
entretanto, foi tortuosa: Sem o humor e a descontração de sua concorrente, a DC
buscou um ponto de partida para o seu próprio universo numa reformulação de
Superman, seu mais icônico personagem (“O Homem de Aço”), em seguida deu
continuidade com um filme até hoje controverso que não agradou a crítica (“Batman
Vs Superman” do qual sob muitos aspectos, este filme é uma continuação direta),
e uma produção equivocada e problemática (“Esquadrão Suicida”), para finalmente
acertar com o filme solo de sua principal heroína (“Mulher Maravilha”).
Diretor de “Batman Vs Superman”, Zack Snyder era
inicialmente o diretor deste projeto –e ele de fato responde por pelo menos uns
80 % do material que se assiste no filme –mas, devido à uma tragédia pessoal,
desligou-se da produção, dando lugar para Joss Whedon (diretor de “Os
Vingadores”) terminar o trabalho.
Algumas coisas ficam claras desde o início: Os
realizadores têm consciência de seus erros e os corrigem paulatinamente aqui –o
tom sombrio (e tido diversas vezes como inadequado) foi equilibrado, agora a DC
compreende que superheróis são motivo de celebração e não de introspecção (há
espaço até para piadinhas!); a trama já não se dispersa em subterfúgios banais ou
motivações pretensiosas, o roteiro é objetivo e busca ir direto ao ponto
(prerrogativa principal para que um filme com tantos protagonistas funcione
corretamente).
Como foi visto ao fim de “Batman Vs Superman”,
o mundo está de luto pela morte do Superman. Contudo, como foi também visto lá,
ameaças muito maiores do que as mundanas começam a contemplar o planeta Terra:
O poderoso alienígena Lobo da Estepe (voz do ator Ciaran Hinds, o quê não quer
dizer muito...) vem para o nosso planeta atrás de três ‘caixas maternas’ aqui
deixadas. Quando reunidas elas despertarão uma entidade de nome ‘unidade’ que
consumirá todo o nosso mundo.
Identificando com antecedência o perigo, o
vigilante Batman (Ben Affleck, tão esmerado quanto no filme anterior, porém,
menos sisudo) põe então em prática o plano com o qual já flertava antes: O de
reunir, ao lado da poderosa Diana Prince, a Mulher Maravilha (Gal Gadot, que
consegue ser, com facilidade, uma das melhores coisas do filme), os poucos
superpoderosos identificados do mundo, que no caso seriam Arthur Curry, o
Aquaman (Jason Momoa, da mal-fadada reformulação de “Conan-O Bárbaro”), Barry
Allen, o Flash (o talentoso e divertido Ezra Miller) e Victor Stone, o Cyborg
(Ray Fisher, o intérprete mais fraco do grupo).
Juntos, como a Liga da Justiça, eles buscarão
se opor aos vilões que desejam a destruição. Não só eles, diga-se: Num daqueles
casos tão óbvios que até uma criança de colo perceberia, é lógico que o
Superman (vivido por Henry Cavill) haverá de ressuscitar para compor o time dos
heróis no grande clímax –e apesar disso ser evidente, a narrativa parece tratar
a manobra como um das grandes surpresas do roteiro!
No fim das contas, o aspecto que poderia
prejudicar o filme –a substituição de diretor com as filmagens em andamento, e
antes mesmo da pós-produção –acabou beneficiando-o: “Liga da Justiça” encontra
uma harmonia agradável, fluida e plausível entre o estilo lúgubre, amargo até
de Zack Snyder e o tom mais ameno, escapista e otimista do experiente Joss
Whedon (que até mesmo já roteirizou histórias em quadrinhos).
Seus problemas acabam ficam assim à sombra de seus
acertos, especialmente diante do fato de que, comparado ao inconstante “Batman
Vs Superman”, este “Liga da Justiça” é um bem-vindo salto de equilíbrio e
entendimento narrativo –ainda que ele fique um pouco aquém das qualidades do
amplamente satisfatório “Mulher Maravilha”.
É bom saber que a DC Comics
está no caminho certo.
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