Grande vencedor do Oscar 2006 de Melhor Filme e
consagração do talentoso roteirista –aqui também atuando como diretor –Paul Hagis
("Menina de Ouro", vencedor por sua vez do Oscar de Melhor Filme no
ano anterior, 2005).
Comparando as duas realizações, “Menina de
Ouro” (dirigido por Clint Eastwood) e “Crash” falam sobre modernas dinâmicas de
relacionamentos humanos e urbanos.
Com “Crash”, Hagis parece buscar uma
conciliação subjetiva de inúmeros pontos de vistas circunstanciais através da
qual elabora condições complexas para que sejam assimiladas com simplicidade e
facilidade –dessa postura provem sua genialidade.
Um cadáver é encontrado numa rodovia, e
inicia-se então uma investigação capitaneada pelos policiais Waters (Don
Cheaddle) e Ria (Jennifer Desposito). A história retrocede 36 horas no tempo e
passa a acompanhar vários personagens e tramas simultâneas para esclarecer essa
e outras dúvidas: A dupla de policiais Ryan (Matt Dillon, ótimo) e Hansen (Ryan
Phillippe) cuja relação profissional se vê abalada após uma atitude abusiva e
racista da parte de Ryan para com o casal formado por Christine (a bela Thandie
Newton) e Cameron (Terence Howard). A própria Christine reage de modo
dramático, nos dias que se seguem, devido à passividade do marido que busca, em
outra situação (esta já envolvendo os marginais vividos por Ludracris e Larenz
Tate), reencontrar sua coragem.
O próprio policial Ryan –ele próprio vítima de
uma outra forma de discriminação –terá, mais a frente, uma oportunidade de
redimir seu ato questionável com Christine.
Há também o casal de classe alta formado por
Rick (Brendan Fraser), promotor público em campanha de reeleição, e sua esposa
Jean (Sandra Bullock), uma dondoca ressentida pela pouca atenção do marido, e
ainda o chaveiro Daniel (Michael Peña, talvez, o melhor personagem do filme)
envolvido num pequeno atrito com Farhad (Shaun Toub, de “Homem de Ferro”), o
proprietário iraniano de uma lojinha assaltada –um pequeno atrito que pode se
converter numa tragédia.
A tensão se instala em todas as histórias paralelas,
em muitos casos em conseqüência da discriminação racial e da acuidade com que
são observadas as interseções tão diversas e imprevistas numa cidade tão plural
como Los Angeles. E o roteiro ainda exercita uma salutar desenvoltura dramática
tornando surpreendente a elucidação de algumas questões.
Oriundo da TV
norte-americana, e por isso mesmo acostumado ao ritmo objetivo e às exigências
práticas de se conduzir uma história, Paul Hagis exercita um estilo enxuto,
fluido e inteligente com que manipula várias tramas (a exemplo de “ShortCuts-Cenas da Vida”, de Robert Altman, e “Magnólia”, de Paul Thomas Anderson) e
as torna complementares de si mesmas tornando fascinante a apreciação deste trabalho
fabuloso, brilhante na maneira como faz suas várias linhas narrativas se unirem
num todo intenso, emocionante e de grande valor moral e cinematográfico.
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