sexta-feira, 8 de setembro de 2023

Um Sonho, Dois Amores


 É bastante curioso notarmos neste filme (datado de 1993) que a pouco conhecida Samantha Mathis (de “Psicopata Americano”) tem como coadjuvante uma ainda jovem Sandra Bullock –“Velocidade Máxima” e “Enquanto Você Dormia” seriam realizados nos anos seguintes, e só então, Sandra se tornaria uma estrela, o que explica, porque aqui é Samantha quem ganha o protagonismo –mas, já se percebe com facilidade, na capacidade quase espontânea de Sandra roubar todas as cenas, que ela ainda iria longe. Entretanto, “The Thing Called Love” se destaca também por outras duas razões: Uma, seu diretor, Peter Bogdanovich, foi uma grande promessa em meados dos anos 1970 –época da Nova Hollywood –e seu filme é permeado por uma certa desilusão, característica de um diretor bastante tarimbado no manejo de narrativas dramáticas, cujo estilo nunca se mostrou de todo palatável. E a outra, seu astro, River Phoenix, que faleceria de overdose naquele mesmo ano de 1993, fazendo deste o seu último trabalho.

O mundo dá mesmo muitas voltas: River Phoenix era um grande amigo pessoal de Keanu Reeves, e os dois fizeram juntos, poucos anos antes, “Garotos de Programa”, de Gus Van Sant; já, Keanu e Sandra se encontraram no ano seguinte, 1994, em “Velocidade Máxima”, e fariam juntos ainda “A Casa do Lago”, em 2006.

Mas, voltemos ao filme: A jovem nova-iorquina Miranda Presley (Samantha Mathis, bela, ainda que limitada) sonha em ser cantora de música country e, como tantos outros, decide pegar a estrada e perseguir seu sonho em Nashville, onde espera se tornar uma estrela. Lá, ela descobre o Bluebird Cafe, um bar local conhecido por revelar em seu palco inúmeros talentos musicais, contudo, devido à um atraso, Miranda não tem a oportunidade de se apresentar, tendo de se contentar com a ocupação de garçonete, chance de emprego oferecida pela dona do lugar, Lucy (K.T. Oslin). Nas semanas que se seguem, ela conhece novos forasteiros, também eles em busca de seu lugar no céu da fama: James Wright (River Phoenix), do Texas, Kyle Davidson (Dermot Mulroney) e Billy (Anthony Clark), vindos de Connecticut, e Linda Lue Linden (Sandra, um alívio cômico inebriante), do Alabama. Unidos por sua desilusão em comum (nenhum deles consegue qualquer resultado positivo nas disputadas audições), eles se tornam amigos, ainda que Miranda, com o tempo, acabe no meio de uma espécie de competição amorosa entre James e Kyle.

Para além de um filme romântico e musical banal, a obra de Bogdanovich acompanha esses personagens ao longo dos anos, registrando, ao som reflexivo da música country, a gradual transformação de seus sentimentos, sejam eles de amor ou de amizade, e revelando as tortuosas vicissitudes sofridas pelos relacionamentos a medida que a vida, enfim, se sucede.

Bonito e melancólico (característica enfatizada pelos arranjos das músicas), "The Thing Called Love" é um trabalho hoje esquecido de Peter Bogdanovich, no qual seu olhar agridoce e lírico sobre as mazelas espirituais e sentimentais de uma geração desiludida muito faz lembrar seu magistral "A Última Sessão de Cinema"; como naquela obra, Bogdanovich não se furta em expor seu lado cinéfilo ao evocar a narrativa reflexiva e austera de John Ford, cuja referência mais marcante se dá na cena em que os personagens assistem ao brilhante (e igualmente desiludido) “O Homem Que Matou O Facínora”.

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