Muito se falou sobre o alardeado projeto
envolvendo “Psicopata Americano”, adaptação do polêmico livro de Brett Easton
Ellis, devido ao envolvimento inicial do astro Leonardo Dicaprio (ainda na
febre do fenômeno “Titanic” e, portanto, passível de chocar sua legião de fãs
com um personagem como este) e do espalhafatoso diretor Oliver Stone.
Com a saída dos dois, o projeto voltou ao
status de filme pequeno e independente que possuía desde sua gênese,
regressando às mãos da diretora Mary Harron (que havia feito “Um Tiro Para Andy
Warhol”, pouco antes) e tendo um ainda pouco conhecido Christian Bale no papel
principal –Bale era, quando muito, lembrado como o garotinho de “Império do
Sol”, e só viria a ser o Batman de Christopher Nolan alguns anos depois.
Do modo como está “Psicopata Americano” se
aproxima do teor desconcertante da análise irreverente e antropológica que
propõe sem, no entanto, enveredar pelos caminhos narrativos desiguais presentes
na verve envolvente de Brett Easton Ellis.
Exemplo perfeito de uma característica sócio-econômica
norte-americana surgida no meio da década de 1980, Patrick Bateman (Bale,
entregando uma atuação furiosa) é um yuppie.
Bem empregado, bem remunerado, e coberto dos
pés à cabeça com as futilidades que seu padrão de vida permite, Patrick é um
ser alienado no verniz de aparência de sua vida. Ajuda-o, a sair desse torpor,
as eventuais atrocidades psicóticas que lhe passam pela mente e que, vez ou
outra, ele concretiza na realidade.
Este trabalho algo controverso consegue chocar
o expectador mais sensível menos por seu conteúdo gráfico –mais sugerido que,
de fato, explicitado –e mais pela abordagem cheia de humor negro, desprovida de
questionamento moral, na qual o personagem de Christian Bale chega a arrancar
até algumas risadas (nervosas, é bem verdade) quando intercala o frenesi
assassino que contamina Patrick com reflexões desmedidas sobre as tendências
musicais mais bregas dos anos 1980 (!); seu trabalho de interpretação anda num
equilíbrio controlado e admirável, raro de ser atingido, numa performance digna
de aplausos.
Embora a diretora Mary Harron carregue as cenas
com pormenores transgressivos típicos do cinema independente americano, o filme
não se revela tão incisivo quanto o livro que o originou.
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