Após ter sido revelada para o público em um bom
papel na aventura de ação “Velocidade Máxima”, em 1994 –embora já tivesse uma carreira
considerável antes disso –a atriz Sandra Bullock teve a felicidade de embarcar num projeto
que revelou suas mais reluzentes qualidades: O aspecto de ‘moça comum’, a
despeito da beleza cinematográfica, e, sobretudo, a capacidade cativante de
encantar completamente a platéia.
Este projeto, claro, era uma comédia romântica.
E como tal, “Enquanto Você Dormia” tem todos os
reflexos condicionados do gênero, padece de todas as deficiências que se pode
presumir –inclusive uma negligência rudimentar para com a premissa e as
motivações –e contenta-se, como cinema, em entregar o óbvio e fazer o básico.
Com efeito, “Enquanto Você Dormia” só fez sucesso de público; só chegou a ser
notado pela crítica; e só vale a pena ser recordado hoje, uns vinte anos depois
de sua realização, por causa exclusivamente de Sandra Bullock.
Ela interpreta Lucy Moderatz, uma jovem e
sonhadora nova-iorquina que amarga a mediocridade de trabalhar no guichê do
metrô. Lucy, contudo, é otimista, e muitos de seus sonhos de felicidade estão
direcionados para o executivo anônimo (vivido por Peter Galagher) que passa diariamente
em sua estação; Lucy está apaixonada por ele.
Parece, portanto, uma providência do destino
quando, certo dia, o rapaz é empurrado da plataforma e cai desacordado no
trilho do trem: É Lucy quem o acaba salvando.
Mais: No hospital, ela descobre que com a forte
batida na cabeça ele entrou em coma e, devido a uma sucessão de mal-entendidos
dos quais ela não tem controle, a numerosa família dele acaba pensando que ela
é sua noiva!
Maravilhados com a moça que Peter (o nome do
rapaz) ainda não tinha lhes apresentado (e que ainda por cima lhe salvou a vida!),
os familiares –a mãe (Micole Mercurio), o pai (Peter Boyle), o tio (Jack
Warden) e a avó (Glynis Johns) –a recebem calorosamente de braços abertos; e
tão amorosos eles são que Lucy não tem coragem para desmentir o equívoco.
Entretanto, alguém tem lá suas suspeitas: É
Jack, irmão mais velho de Peter (e interpretado por Bill Pullmann, ator até
então associado a tipos de coadjuvantes azarados e perdedores que, um ano
depois, esteve no sucesso “Independence Day” e estrelou o desafiador “A Estrada
Perdida”, de David Lynch).
Mais perspicaz do que sua alegremente
desleixada família, Jack percebe as incoerências na história de Lucy, e passa a
vigiá-la bem de perto –tão de perto que, pouco a pouco, os dois começam a se
apaixonar; e, se há nesta produção algo genuíno e indiscutível é a forma como
Sandra Bullock consegue ser apaixonante dentro e fora do filme.
É ela e sua doçura bem administrada que conduz
o expectador através da trama do filme com suas reviravoltas pouco
surpreendentes, mas ainda assim (graças a ela) prazerosas de se acompanhar.
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