quinta-feira, 11 de abril de 2024

O Casamento do Meu Melhor Amigo


 Ainda na década de 1990, a carreira da estrela Julia Roberts, então a rainha das comédias românticas da época, havia estagnado –filmes insossos e repetitivos, e tentativas pouco eficazes de fazer cinema sério, começavam a fazer o público se cansar de sua bela imagem. Foi então que o diretor australiano P.J. Hogan (realizador da pérola “O Casamento de Muriel”) conseguiu revitalizar seu estrelado ao escalar Julia para o papel principal neste pequeno conto de comicidade e engenhosidade onde –pasmem –ela faz o papel de vilã (!). O roteiro, assinado por Ronald Bass (roteirista de “O Clube da Felicidade e da Sorte” e “Rain Man”), é segundo ele próprio inspirado numa ideia que teve ao presenciar uma linda e espetacular cerimônia de casamento de amigos pessoais: Ele imaginou uma personagem disposta a estragar todo aquele evento estupendo!

Para que tal premissa, a um só tempo graciosa e ferina, funcionasse, o diretor Hogan lançou mão de elementos notáveis e surpreendentes que fogem do conceito de uma mera comédia romântica (embora, em sua simplicidade, esta produção seja uma) e agregam características de cinema de verdade –e a primeira delas é seu elenco: Na personagem de Julianne Potter, uma crítica gastronômica ciente de que está numa idade onde já deveria ter achado o homem de sua vida, Julia Roberts revela-se perfeita, engraçada e vulnerável; um equilíbrio preciso entre a ternura de outras personagens que ela já interpretou e uma predisposição para cometer estratagemas e intrigas mesquinhos que, por incrível que pareça, não fazem o público detestá-la. Também está perfeito Dermot Mulroney como Michael, o melhor amigo de Julianne e aquele a quem ela começa a enxerga, um pouco tardiamente, como a pessoa que pode, sim, ser o homem de sua vida. Tardiamente, porque Michael entra em contato com ela justamente para que seja madrinha de seu casamento iminente com a doce Kimberly (a maravilhosa Cameron Diaz, ainda uma revelação no cinema tendo feito “O Máskara” três anos antes).  Contudo, ninguém desse pessoal rouba mais a cena deste filme do que George, o charmoso, sensato e ocasionalmente perplexo amigo homossexual de Julianne (interpretado de maneira sensacional por Rupert Everett) que, lá pelas tantas, acaba tendo que fingir ser namorado dela (!). Afinal, Julianne aceita o convite do casamento entre Michael e Kimberly disposta a estar por perto durante todos os eventos que antecedem as celebrações e aproveitar a oportunidade para elaborar todos os planos possíveis para acabar com a cerimônia, certa de que é ela quem pode fazer Michael feliz.

A fim de adornar com um certo alto-astral a vilania que pontua muita da narrativa e das ações tomadas pela protagonista, o diretor Hogan se vale de um repertório esfuziante de músicas de Dionne Warwick (em especial, “I Say A Little Prayer” cantada numa cena antológica) tal e qual ele fez em “O Casamento de Muriel”, com músicas do ABBA.

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