Se “Ace Ventura-Um Detetive Diferente” foi a
revelação de Jim Carrey perante Hollywood, então seu filme seguinte, “O
Máskara” foi a sua consolidação como grande estrela da comédia.
Aqui contrário da realização anterior, Jim
Carrey não carregava nas costas uma produção mediana, convencional e de
predicados genéricos –adaptado de uma obscura histórias em quadrinhos (numa
época em que esse procedimento não era comum em produções hollywoodianas), o
filme dirigido por Chuck Russell além de uma trama mirabolante e divertida
ostentava efeitos especiais de ponta; emoldurando com brilhantismo um ator que
se encarregava maravilhosamente bem de transformar o filme num passatempo
único.
É curioso notar que, diante da realização
certeira que se tornou, “O Máskara” atravessou um tortuoso caminho até ser
aquilo que é: O estúdio New Line, por muito tempo, cultivou o projeto de um
filme de terror extraído da HQ (cujos níveis de violência e tom sombrio são
consideráveis), e para tanto chamou Chuck Russell justamente por conta de seus
créditos –ele havia realizado “A Hora do Pesadelo 3”, apontado pelos fãs como
um dos melhores filmes da série depois do original.
Contudo, Russell não enxergou um apelo atrativo
o bastante na seriedade que o gênero terror impunha à história –partiu dele a
ideia de transformar tudo numa comédia tão selvagem quanto seu personagem
principal.
Sendo assim, Jim Carrey é Stanley Ipkiss,
aquele tipo de protagonista tão subestimado pelos outros à sua volta que
sabemos, de antemão, que haverá de saborear uma reviravolta existencial ao
longo do filme –e a forma com que a atuação de Jim Carrey trabalha os
pormenores desse descaso é, até hoje, um desbunde de se assistir.
Às mãos de Stanley chega, por caminhos tortos e
imprevistos, uma máscara que é, em si, uma relíquia e uma antiguidade: Dentro
dela (numa explicação breve que surge da boca de um indiferente especialista),
se encontra o espírito de Loki, o deus nórdico da trapaça; assim quando a
coloca, o tímido e retraído Stanley se transforma no incontrolável Máskara, um
ser de cabeça inteira verde –emoldurando as expressões insanas de Carrey –cujos
poderes interferem na realidade a fim de atormentar os coadjuvantes sisudos que
cruzam seu caminho.
É o caso do policial Tenente Kellaway (Peter
Riegert, de “Momento Inesquecível”) cujas suspeitas recaem sobre o pacato
Ipkiss desde o primeiro momento em que o viu –certo de que ali se esconde a
identidade do Máskara. Ou do chefe mafioso Dorian Tyrell (Peter Greene, de
“Pulp Fiction”), que almeja os poderes do Máskara para si, e quer destruir o
novo herói desde que ele passou a interferir em seus planos e a conquistar o
coração da deliciosa cantora Tina Carlyle (Cameron Diaz, em sua devastadora
estréia no cinema!), estrela principal de seu clube, Coco-Bongo.
Embora não alce voos mais pretensiosos em torno
dessa premissa básica –que certamente reúne também características de ‘filme de
origem’ –o trabalho de Chuck Russell é hábil o suficiente para agregar nele
também elementos inesperados, como o curioso desenvolvimento de dois interesses
românticos em potencial paralelamente; o que gera uma dúvida no expectador de
primeira viagem –Quem é a mocinha de “O Máskara”? A sensacional Tina ou a
repórter inxerida Peggy Brandt (Amy Yasbeck)? –e o torna memorável e magnífico
naquilo que tem de melhor: As intervenções do personagem Máskara, uma força da
natureza, ao redor do qual os objetos criam vida, as leis da física (e da
realidade) se torcem a ponto de não existirem, e até mesmo a quarta parede é
quebrada, com o protagonista dando pequenos indícios ao público enquanto
converte o filme a seu bel-prazer numa comédia screwball, num musical, numa
versão live-action dos desenhos de Chuck Jones, ou em qualquer outra coisa que
ocorrer à imaginação do roteirista.
Em “O Máskara”, ninguém
está seguro do non-sense contagiante de seu herói. Que bom!
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