sábado, 20 de junho de 2020

O Máskara

Se “Ace Ventura-Um Detetive Diferente” foi a revelação de Jim Carrey perante Hollywood, então seu filme seguinte, “O Máskara” foi a sua consolidação como grande estrela da comédia.
Aqui contrário da realização anterior, Jim Carrey não carregava nas costas uma produção mediana, convencional e de predicados genéricos –adaptado de uma obscura histórias em quadrinhos (numa época em que esse procedimento não era comum em produções hollywoodianas), o filme dirigido por Chuck Russell além de uma trama mirabolante e divertida ostentava efeitos especiais de ponta; emoldurando com brilhantismo um ator que se encarregava maravilhosamente bem de transformar o filme num passatempo único.
É curioso notar que, diante da realização certeira que se tornou, “O Máskara” atravessou um tortuoso caminho até ser aquilo que é: O estúdio New Line, por muito tempo, cultivou o projeto de um filme de terror extraído da HQ (cujos níveis de violência e tom sombrio são consideráveis), e para tanto chamou Chuck Russell justamente por conta de seus créditos –ele havia realizado “A Hora do Pesadelo 3”, apontado pelos fãs como um dos melhores filmes da série depois do original.
Contudo, Russell não enxergou um apelo atrativo o bastante na seriedade que o gênero terror impunha à história –partiu dele a ideia de transformar tudo numa comédia tão selvagem quanto seu personagem principal.
Sendo assim, Jim Carrey é Stanley Ipkiss, aquele tipo de protagonista tão subestimado pelos outros à sua volta que sabemos, de antemão, que haverá de saborear uma reviravolta existencial ao longo do filme –e a forma com que a atuação de Jim Carrey trabalha os pormenores desse descaso é, até hoje, um desbunde de se assistir.
Às mãos de Stanley chega, por caminhos tortos e imprevistos, uma máscara que é, em si, uma relíquia e uma antiguidade: Dentro dela (numa explicação breve que surge da boca de um indiferente especialista), se encontra o espírito de Loki, o deus nórdico da trapaça; assim quando a coloca, o tímido e retraído Stanley se transforma no incontrolável Máskara, um ser de cabeça inteira verde –emoldurando as expressões insanas de Carrey –cujos poderes interferem na realidade a fim de atormentar os coadjuvantes sisudos que cruzam seu caminho.
É o caso do policial Tenente Kellaway (Peter Riegert, de “Momento Inesquecível”) cujas suspeitas recaem sobre o pacato Ipkiss desde o primeiro momento em que o viu –certo de que ali se esconde a identidade do Máskara. Ou do chefe mafioso Dorian Tyrell (Peter Greene, de “Pulp Fiction”), que almeja os poderes do Máskara para si, e quer destruir o novo herói desde que ele passou a interferir em seus planos e a conquistar o coração da deliciosa cantora Tina Carlyle (Cameron Diaz, em sua devastadora estréia no cinema!), estrela principal de seu clube, Coco-Bongo.
Embora não alce voos mais pretensiosos em torno dessa premissa básica –que certamente reúne também características de ‘filme de origem’ –o trabalho de Chuck Russell é hábil o suficiente para agregar nele também elementos inesperados, como o curioso desenvolvimento de dois interesses românticos em potencial paralelamente; o que gera uma dúvida no expectador de primeira viagem –Quem é a mocinha de “O Máskara”? A sensacional Tina ou a repórter inxerida Peggy Brandt (Amy Yasbeck)? –e o torna memorável e magnífico naquilo que tem de melhor: As intervenções do personagem Máskara, uma força da natureza, ao redor do qual os objetos criam vida, as leis da física (e da realidade) se torcem a ponto de não existirem, e até mesmo a quarta parede é quebrada, com o protagonista dando pequenos indícios ao público enquanto converte o filme a seu bel-prazer numa comédia screwball, num musical, numa versão live-action dos desenhos de Chuck Jones, ou em qualquer outra coisa que ocorrer à imaginação do roteirista.
Em “O Máskara”, ninguém está seguro do non-sense contagiante de seu herói. Que bom!

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