sexta-feira, 9 de março de 2018

Rain Man

O autismo ainda era um terreno inexplorado no cinema quando o diretor Barry Levinson arriscou-se com esta pequena mescla de drama e comédia que versava sobre o tema.
Isso não significa que “Rain Man” é uma produção didática e informativa sobre a questão: Fluente e nitidamente moldado para ser, antes de qualquer coisa, divertido, o filme de Levinson apenas usa como detalhe diferencial de sua narrativa o fato de um dos personagens ser autista, disso extraindo muito do eixo que impulsiona a trama; contudo, em momento algum ele parece valer-se desse fato para irmanar-se às produções sobre doenças e patologias que infestam o gênero de melodrama em geral.
Tanto isso é verdade que o filme começa com Charlie (Tom Cruise, em ótima atuação), um jovem negociante de carros que, a despeito da lábia afiada, está com uma divida periclitante em mãos. A salvação para esse débito parece surgir com a notícia do falecimento do pai –com quem ele não se dava –e com a conseqüente leitura do testamento: Sendo filho único, Charlie supõe ser o beneficiário.
Eis a surpresa: O dinheiro esperado é enviado a uma instituição médica, na qual está internado o irmão mais velho de Charlie cuja existência ele, até então, desconhecia.
Disposto a encontrar um meio de contestar o testamento, Charlie vai com a namorada Susanna (a linda italiana Valeria Golino) até essa instituição entrar em contato com seu irmão e descobre que ele é autista.
Raymond (Dustin Hoffman, numa composição de minimalismos estudados digna de um dos grandes atores do cinema) viveu lá toda a vida e, como todo autista, experimenta um conjunto harmonioso e infalível de regras que existem em sua própria mente.
Na surdina, Charlie arrasta Raymond para fora da instituição, transformando o filme assim num road-movie a medida que a narrativa se dedica a acompanhar cada etapa da viagem de carro empregada pelos dois irmãos (Raymond se recusa a viajar de avião tendo um ataque de pânico) e, nesse processo, a descoberta da afinidade, da afeição e do vínculo familiar que não tiveram.
São personagens completamente cativantes, e a direção de Levinson é hábil em observar isso, permitindo que o roteiro construa momentos surpreendentes justamente por sua postura tão abertamente de entretenimento –poderia assim até soar pedante, ou redundante, a seqüência em que os dois irmãos terminam indo a Las Vegas e, graças às prodigiosas habilidades numéricas de Raymond, conseguindo lucrar nas apostas dos cassinos a dívida que Charlie precisava saldar. No entanto, a condução de Levinson faz este ser um dos momentos mais originais, antológicos e divertidos do filme; com direito até a uma esperta referência em “Se Beber, NãoCase”!

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