sexta-feira, 9 de março de 2018

Conduta de Risco

Aclamado pelos ágeis e magníficos roteiros da “Trilogia Bourne”, que adaptavam com urgência as obras de Robert Ludlum para a atualidade, Tony Gilroy migrou para a função de diretor preservando uma série de características que definiam seu estilo como roteirista: O gosto por tramas rocambolescas imbricando constantemente em códigos sedutores que às vezes representam alternativas enganosas aos seus personagens e à própria construção da expectativa pelo público.
Em “Conduta de Risco” –que no título original leva o nome de seu protagonista “Michael Clayton” –Gilroy trabalha, portanto, com aquilo que faz melhor: É um filme sobre um mundo onde ninguém é exatamente confiável.
Calejado nas percepções do público, Gilroy trata logo de deixar claro que nem mesmo seu personagem principal se isenta dessa pouca confiabilidade: Michael Clayton (interpretado magnificamente por George Clooney) é um especialista em varrer a sujeira para baixo do tapete na poderosa firma de advocacia em que trabalha. Todas as revelações escabrosas que podem comprometer a integridade de seus associados são habilmente acobertadas por ele.
Suas habilidades são mais que necessárias quando um dos mais prestigiados advogados de sua firma (o excelente Tom Wilkinson) surta durante um importante processo acerca de uma mega-empresa e os moradores de uma cidade afetados por materiais tóxicos. Mas o caso é mais complexo do que as aparências sugerem, envolvendo segredos, interesses profissionais, princípios e espionagem industrial, representados na tentacular e calculista personagem da sensacional Tilda Swinton (vencedora do Oscar 2008 de Melhor Atriz Coadjuvante)
Aos poucos, Michael se dá conta da podridão e da falta de escrúpulos envolvidos no caso, e será mais precisamente esse seu reencontro com a ética que poderá dar um novo rumo ao processo.
Tão incrivelmente pernicioso e sórdido é o mundo corrupto concebido no roteiro de Tony Gilroy que, no entrecho em que a narrativa precisa e necessita de alguma possibilidade de redenção, ele só pode apelar mesmo para a pureza indefectível da família: Quando tudo o mais depõem contra Michael Clayton –inclusive suas próprias escolhas –é ao seu irmão, providencialmente um detetive da polícia, a quem ele vai recorrer.
Uma concessão inevitável que o próprio filme, em seu retrato impecável e implacável da sordidez humana, se obrigou a fazer.
Não tira, contudo, o brilho resplandecente de todos os envolvidos na realização.

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