domingo, 7 de abril de 2024

10 Histórias em Quadrinhos que poderiam render grandes filmes - Parte 2


 Fun Home-Uma Tragicomédia Em Quadrinhos –As recordações um tanto dolorosas da quadrinista Alison Bechdel que cresceu numa família disfuncional onde seu próprio pai, Bruce Bechdel, era professor e homossexual enrustido. Centralizando a figura dele numa trama que oscila entre o humor e o drama, Bechdel reflete a descoberta de sua própria homossexualidade anos depois, numa trama construída de primor, personalidade e detalhes preciosos.

Em 2014, a narrativa de “Fun Home” foi convertida em uma peça musical na Broadway, recebendo fartos elogios, não muito tempo depois, foi noticiado que o astro Jake Gyllenhaal havia acertado para ser produtor e protagonista (no papel de Bruce) de uma adaptação cinematográfica –quem sabe um filme de “Fun Home” não esteja próximo?


Sgt. Rock –
Personagem extremamente realista, inserido num contexto também ele realista, o Sgt. Rock comanda um destacamento de soldados numa fria e inóspita missão na Europa durante a Segunda Guerra Mundial. O roteiro e os desenhos de Joe Kubert, responsável pela icônica graphic-novel “A Profecia”, com esse personagem, transformam o que tinha tudo para ser uma trama genérica num envolvente e brilhante drama de suspense, perfeita para ser traduzida numa versão cinematográfica.


A Casta dos Metabarões –
O diretor, escritor, poeta, dramaturgo e exotérico (!) Alejandro Jodorowsky demorou a se livrar do fantasma de “Duna”, a superprodução que planejou e jamais realizou. Dentre as obras que acabaram sendo realizadas com ideias inicialmente concebidas para “Duna”, Jodorowsky escreveu a HQ “O Incal”, até hoje uma das mais prestigiadas do segmento, e este derivado, “A Casta dos Metabarões”, focado num personagem secundário, mas, infinitamente fascinante que surge naquela trama. Num enredo épico, nos mais diversos sentidos, o texto complexo, simbolista e audacioso de Jodorowsky conta a história de várias gerações dos Metabarões e sua relação com outras casas de nobreza da galáxia a medida que se envolvem em guerras nas estrelas que não têm absolutamente nada da ingenuidade de George Lucas.


Nascido No Campo de Batalha –
Depois que os direitos autorais do personagem Conan, O Bárbaro foram para a editora Dark Horse (isso depois de pertencerem à Marvel Comics décadas antes), muitos dos clássicos contos de Robert E. Howard com esse personagem ganharam nova roupagem, porém, uma história de origem nunca havia sido devidamente contada, até o renomado roteirista Kurt Busiek arregaçar as mangas. Mesmo os filmes já realizados para cinema não chegavam a esboçar esse aspecto do personagem –o “Conan” de 1982, com Arnold Schwarzenegger, porque se diferenciava muito dos contos de Howard, e o “Conan” de 2011, com Jason Momoa, porque era, deveras, uma catástrofe! –sendo assim, Busiek e o artista Greg Ruth, com base em inúmeros elementos, menções, referências e pistas deixadas pelo próprio Robert E. Howard compuseram uma perfeita e incontestável (além de emocionante) história de origem que merece ser adaptada tão logo algum estúdio resolva levar novamente esse grande personagem para o cinema.


Ranxerox –
Uma das mais curiosas e pulsantes histórias em quadrinhos já concebidas, “Ranxerox”, do italiano Stefano Tamburini pegava carona na atitude raivosa do Movimento Punk dos anos 1980 para moldar um mundo escatológico, sensual e satírico de ficção científica. Alguns podem alegar que “Ranxerox” já ganhou uma espécie de adaptação cinematográfica: Muito se alardeou que “O Profissional”, de Luc Besson, era uma adaptação disfarçada de “Ranxerox”, contudo, trata-se de uma obra que, queira ou não, carecia de respaldo oficial dos criadores e também (por isso mesmo) modificava inúmeros aspectos da premissa e dos personagens –e os fãs de quadrinhos sempre querem fidelidade absoluta!

Dessa forma, seria sensacional ter, por exemplo, Ron Perlman (isso enquanto ele ainda tem idade, claro) interpretando o personagem principal, Ranxerox, um ciborgue de baixo custo num futuro caótico que procura servir às maluquices e caprichos de Lubna, uma ninfeta endiabrada.


Liberty Meadows –
Desenhar belas mulheres é uma especialidade do ilustrador Frank Cho, entretanto, ele quis provar, com a graphic novel “Liberty Meadows” que seu talento ia muito além disso. Embora seja protagonizado por uma veterinária extremamente deliciosa (a encantadora Brandy), a trama de “Liberty Meadows” foca mesmo no humor e na alegoria da crítica social ao trazer personagens que são bichinhos fofinhos –e lembram até alguns personagens da Disney num primeiro momento –mas que surgem assolados pelos mais variados vícios e neuroses muito humanos como a hipocondria, a ansiedade e o stress cotidiano.

E antes que você me pergunte se teria como fazer um longa-metragem real com tantos personagens animais, fique sabendo que isso não é nenhuma novidade, visto os avanços no campo da computação gráfica o que permitiu a realização de filmes como “Sonic” ou o live-action de “O Rei Leão".


Habibi –
Embora seja magistral, “Retalhos” –do qual eu falei na lista anterior –não é a obra-prima do escritor e ilustrador Craig Thompson; essa honra, por incrível que possa parecer, cabe ao seu trabalho seguinte, este arrebatador, doloroso e genial “Habibi”.

Um épico avassalador e distinto que acompanha as trajetórias ora paralelas, ora cruzadas, da jovem Dodola e do garoto Zam, ambos órfãos numa inclemente sociedade do Oriente Médio. Oscilando entre os estágios de tempo em que a história de amor entre eles se desdobra –a fuga da vida de escravos, ainda quando eram crianças; o amadurecimento, quase lúdico, isolados num deserto, quando os primeiros choques com a dura realidade da vida começam a assombrar suas vidas; a separação e as reviravoltas imprevisíveis e inacreditáveis que ameaçam afastá-los para todo o sempre; e lá pelas tantas, uma improvável chance de reencontro –estão as histórias que Dodola, uma contadora de histórias nata, vai relatando e que transformam “Habibi” num monumento dos quadrinhos.

Até hoje nenhuma obra de Craig Thompson –nem mesmo o primordial “Retalhos” –foi adaptada para cinema. Certamente, “Habibi” com sua trama fortíssima de denúncia dos abusos sociais a que mulheres, crianças e pobres são submetidos em sociedades mais retrógradas renderia um trabalho que suscitaria muitos debates nas redes sociais de hoje.


Verão Índio –
Muito apreciado, sobretudo nos nichos de quadrinhos eróticos, o italiano Milo Manara foi um dos poucos que conseguiu vencer essa barreira graças à qualidade inconteste de sua arte –ele chegou até mesmo a desenhar uma revista dos “X-Men”! Para muitos, seu trabalho mais adulto e despido da pornografia redundante que fez sua fama (embora haja, sim, algum resquício de erotismo) é “Verão Índio” que mergulha principalmente na colonização européia das indomadas pradarias norte-americanas quando ainda eram de domínio de irredutíveis tribos nativas. A trama poderia até lembrar um faroeste dos anos 1940, mas Milo Manara e seu roteirista Hugo Pratt (criador do clássico “Corto Maltese”) proporcionam uma desmistificadora visão européia à esses elementos, transformando “Verão Índio” numa obra singular.


Camelot 3000 –
Uma das mais brilhantes sagas de quadrinhos dos anos 1980, “Camelot 3000” foi escrita por Mike W. Barr e desenhada por Brian Bolland (o mesmo de “Batman-A Piada Mortal”), autores ingleses que sabiam muito bem o que estavam fazendo quando retomaram a história da Lenda do Rei Arthur levando ele e todo seu séquito de lendários personagens coadjuvantes (o mago Merlin, o cavaleiro Lancelot, a rainha Guinevere e outros) a despertar em pleno Século XXI a fim de deter uma invasão alienígena ao planeta Terra comandada pela própria feiticeira Morgana Le Fay.

Desde o filmaço “Excalibur”, de John Boorman, também da década de 1980, nenhum diretor ou estúdio foi capaz de recontar com pompa e circunstância (e qualidade) a Lenda do Rei Arthur novamente, quem sabe não seja hora de alguém perceber o enorme potencial cinematográfico desta HQ?


Hard Boiled-À Queima Roupa –
Houve um tempo em que Frank Miller (assim como Alan Moore) era um autor incansável, criando uma obra memorável atrás da outra em ritmo de pasteleiro (!). Concebido no início dos anos 1990, “Hard Boiled” era uma ficção científica anárquica, similar ao que já vinha sendo feito nas página da audaciosa revista “Heavy Metal”, sua premissa se desenrolava na mente de Carl Seltz (personagem cuja aparência faz lembrar Daniel Graig), marido e pai exemplar no ano de 2029 (está quase perto...); ou seria na mente de Nixon, um cobrador às voltas com implantes de memória em seu cérebro que podem, ou não, serem responsáveis pelo surto homicida no qual ele converteu a cidade em um matadouro; ou mais, seria no banco de memória da Unidade Quatro, o mais avançado modelo de robô já feito, tão avançado que poderia ostentar simulações de lembranças humanas –ou seria, isso tudo, também um implante de memória do próprio Nixon? Ou do próprio Carl? Aliás, não seriam eles e Unidade Quatro um mesmo indivíduo cibernético?

Pegando carona no ebuliente gênero cyberpunk que havia tomada de assalto a literatura na década anterior, e antecipando muitas ousadias narrativas que os quadrinhos só viriam a assimilar anos mais tarde, Miller constrói uma sucessão de cenas de ação raivosas, surreais e inacreditáveis, cortesia da identidade visual singular do ilustrador Geof Darrow. Em 2007, em meio ao sucesso de “300”, “Hard Boiled” foi uma das inúmeras obras de Miller cogitadas para uma adaptação para cinemas, certamente, os realizadores logo esbarraram na complexidade incontornável de seu argumento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário