E os estúdios de Hollywood ainda se esforçam na tentativa de conceber um universo de histórias e personagens que espelhe o da Marvel Studios –dos poucos a chegar muito perto de conseguir algo assim, surpreendentemente está o “Universo Sega”, isto é, um universo compartilhado que pode vir a abarcar todos os personagens oriundos dos jogos de computador da Sega, graças ao súbito sucesso de bilheteria e crítica deste “Sonic” que apresentou, quando de seu lançamento, um inesperado nível elevado de qualidade.
E muitos indícios apontavam para o contrário:
Meses antes, quando o primeiro trailer foi divulgado, os fãs reagiram
desgostosos com o visual insatisfatório dado à versão digital do famoso ouriço
azul. Foi a reação dos produtores à isso que revelou-se sensata e acertada:
Eles atrasaram em alguns meses a estréia do filme para rever todo o conceito
visual de seu protagonista para aproximá-lo mais das características do game,
atendendo ao anseio dos fãs.
Assim, o Sonic que chegou estrelando o filme já
vinha abrilhantado pela aceitação do público: A competência geral de todo o
restante do filme em si fez o resto do serviço e “Sonic” –dos poucos filmes em
2020 que conseguiu fazer todo um circuito em cinema antes da loucura da
pandemia –sagrou-se como ótimo entretenimento e como um passo válido e
promissor para que o Universo Sega (que inclui potenciais franquias como
“Golden Axe”, “Castlevania”, “Mario Bros”, “Landstalker” e outros) fosse
estabelecido nos cinemas –e a cena pós-crédito está lá para provar que sim, ao
menos planos para algo assim, os realizadores já tinham.
Vindo de outro mundo, o ouriço azul humanóide
Sonic (voz de Ben Schwartz) acaba refugiado na Terra, mais precisamente nos
arredores da cidadezinha de Green Hills, Montana, graças ao sacrifício de sua
coruja mentora (!), que o previne dos muitos que o caçarão a fim de obter seu
vasto poder, capaz de atingir velocidades inacreditáveis.
Vivendo anos às escondidas dos moradores, Sonic
se ressente de não ter amigos e nem companhia –e tal frustração é extravazada
numa certa noite, quando sua supervelocidade provoca um pulso eletromagnético
que gera um apagão em toda aquela região dos EUA. O evento acende um alerta
vermelho no Pentágono que despacha para o epicentro do ocorrido –a pacata Green
Hills –um cientista cujo adjetivo ‘maluco’ seria um eufemismo: O Dr. Robotnik
(Jim Carrey, esbaldando-se num personagem antológico do jogo) é anti-social,
presunçoso, arrogante e implacável –características todas que Carrey converte,
cena após cena, num deleite cômico à parte.
De cara ele compreende a natureza sem igual da
criatura que anda aprontando das suas por lá; e não tarda a almejar capturar
Sonic, e dissecá-lo se for preciso, a fim de replicar sua prodigiosa
velocidade.
Para livrar-se desse encalço vilanesco, Sonic
recorre à ajuda do policial local Tom Wachowski (James Marsden, sempre
carismático), inclusive para poder levá-lo à São Francisco, onde Sonic perdeu,
numa tremenda trapalhada, seus anéis mágicos com os quais era capaz de se
teleportar –entre diferentes mundos, até –e que ele planejava usar para partir
em definitivo da Terra.
Contudo, Sonic não está certo de que ao fim
disso tudo partirá: Na Terra, seu lar nos últimos e solitários dez anos, ele
encontrou a amizade de Tom e os primeiros raios de esperança, em muito tempo,
de não mais viver sozinho.
E é assim, com essa simplicidade, mas sabendo
investir com sensatez nos elementos qualitativos que a fazem funcionar, que o
filme do diretor Jeff Fowler segue em frente, dosando muito bem a descontração
da trama com o ritmo da ação necessária para manter o interesse do público
continuamente renovado. Somado à esses bons predicados, o filme consegue gerar
uma incomum empatia nos expectadores por seu irrequieto e carente protagonista
digital: Até o fim do filme, Sonic é um personagem por quem torcemos e pelo
qual sentimos genuína apreensão quando se vê, já no clímax, diante de perigos
espantosamente tensos.
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