quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Sonic

 


E os estúdios de Hollywood ainda se esforçam na tentativa de conceber um universo de histórias e personagens que espelhe o da Marvel Studios –dos poucos a chegar muito perto de conseguir algo assim, surpreendentemente está o “Universo Sega”, isto é, um universo compartilhado que pode vir a abarcar todos os personagens oriundos dos jogos de computador da Sega, graças ao súbito sucesso de bilheteria e crítica deste “Sonic” que apresentou, quando de seu lançamento, um inesperado nível elevado de qualidade.

E muitos indícios apontavam para o contrário: Meses antes, quando o primeiro trailer foi divulgado, os fãs reagiram desgostosos com o visual insatisfatório dado à versão digital do famoso ouriço azul. Foi a reação dos produtores à isso que revelou-se sensata e acertada: Eles atrasaram em alguns meses a estréia do filme para rever todo o conceito visual de seu protagonista para aproximá-lo mais das características do game, atendendo ao anseio dos fãs.

Assim, o Sonic que chegou estrelando o filme já vinha abrilhantado pela aceitação do público: A competência geral de todo o restante do filme em si fez o resto do serviço e “Sonic” –dos poucos filmes em 2020 que conseguiu fazer todo um circuito em cinema antes da loucura da pandemia –sagrou-se como ótimo entretenimento e como um passo válido e promissor para que o Universo Sega (que inclui potenciais franquias como “Golden Axe”, “Castlevania”, “Mario Bros”, “Landstalker” e outros) fosse estabelecido nos cinemas –e a cena pós-crédito está lá para provar que sim, ao menos planos para algo assim, os realizadores já tinham.

Vindo de outro mundo, o ouriço azul humanóide Sonic (voz de Ben Schwartz) acaba refugiado na Terra, mais precisamente nos arredores da cidadezinha de Green Hills, Montana, graças ao sacrifício de sua coruja mentora (!), que o previne dos muitos que o caçarão a fim de obter seu vasto poder, capaz de atingir velocidades inacreditáveis.

Vivendo anos às escondidas dos moradores, Sonic se ressente de não ter amigos e nem companhia –e tal frustração é extravazada numa certa noite, quando sua supervelocidade provoca um pulso eletromagnético que gera um apagão em toda aquela região dos EUA. O evento acende um alerta vermelho no Pentágono que despacha para o epicentro do ocorrido –a pacata Green Hills –um cientista cujo adjetivo ‘maluco’ seria um eufemismo: O Dr. Robotnik (Jim Carrey, esbaldando-se num personagem antológico do jogo) é anti-social, presunçoso, arrogante e implacável –características todas que Carrey converte, cena após cena, num deleite cômico à parte.

De cara ele compreende a natureza sem igual da criatura que anda aprontando das suas por lá; e não tarda a almejar capturar Sonic, e dissecá-lo se for preciso, a fim de replicar sua prodigiosa velocidade.

Para livrar-se desse encalço vilanesco, Sonic recorre à ajuda do policial local Tom Wachowski (James Marsden, sempre carismático), inclusive para poder levá-lo à São Francisco, onde Sonic perdeu, numa tremenda trapalhada, seus anéis mágicos com os quais era capaz de se teleportar –entre diferentes mundos, até –e que ele planejava usar para partir em definitivo da Terra.

Contudo, Sonic não está certo de que ao fim disso tudo partirá: Na Terra, seu lar nos últimos e solitários dez anos, ele encontrou a amizade de Tom e os primeiros raios de esperança, em muito tempo, de não mais viver sozinho.

E é assim, com essa simplicidade, mas sabendo investir com sensatez nos elementos qualitativos que a fazem funcionar, que o filme do diretor Jeff Fowler segue em frente, dosando muito bem a descontração da trama com o ritmo da ação necessária para manter o interesse do público continuamente renovado. Somado à esses bons predicados, o filme consegue gerar uma incomum empatia nos expectadores por seu irrequieto e carente protagonista digital: Até o fim do filme, Sonic é um personagem por quem torcemos e pelo qual sentimos genuína apreensão quando se vê, já no clímax, diante de perigos espantosamente tensos.

E arrancar tal resposta emocional da plateia é, afinal, um indicativo de que a experiência cinematográfica cumpriu sua tarefa.

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