Após
firmar-se como um inovador da estética cinematográfica na França dos anos 1980
com alguns dos mais desiguais títulos de sua filmografia, a carreira de Luc
Besson passou por algumas mudanças. Reviravoltas das quais, de uma certa
maneira, ele até hoje está se recuperando.
Na década
seguinte, por volta de 1994, ele migrou para os EUA, onde a variedade de
recursos técnicos e orçamentos mais generosos prometiam uma sucessão de filmes
dos mais interessantes.
Ao
menos os primeiros que ele fez, “O Profissional” e “O Quinto Elemento” de fato
eram.
É sobre
esse primeiro que irei falar hoje.
Na
opinião de muitos, uma adaptação velada e disfarçada de “Ranxerox” –uma HQ
européia anárquica e alternativa que mostra um enorme e truculento ciborgue
servindo como namorado postiço a uma ninfeta rebelde, exatamente o tipo de
material que inspirava e influenciava muito de sua obra da França –o filme
segue os passos do assassino profissional Leon (Jean Reno, colaborador de
Besson), cujo modo de vida evita que se envolva com outras pessoas, incluindo
seus barulhentos vizinhos, uma família entre os quais está a articulada e
precoce menina Mathilda (Natalie Portman, bem novinha estreando no cinema e
simplesmente matando a pau!).
O quê
Leon não sabe é que o pai da menina tem negócios extremamente escusos com
policiais corruptos, e o líder deles (vivido por um surtado Gary Oldman) não tardará
a aparecer no apartamento para cobrar uma dívida. Com sangue.
A cena
que engatilha a dinâmica dos personagens de Portman e Reno –e que responde pelo
centro emocional e narrativo do filme –é um exemplo da capacidade inata de
Besson em articular expressões intimistas e dramáticas para fazê-las funcionar
inesperadamente num filme de ação: A menina por acaso vai ao mercado fazer
compras enquanto os vilões promovem uma chacina entre seus parentes, mas,
quando ela volta, para escapar, encena uma tentativa de entrar no apartamento
do lado, o de Leon.
Uma
cena que descrita pode parecer banal, mas na qual o diretor vale-se de uma série
de ângulos e cortes para tornar antológica.
A
partir daí, tornado praticamente um tutor da jovem o anti-social Leon tenta
fazer o quê pode: Ensina para ela seu ofício (sim, o de matador de aluguel),
tenta controlar seu ímpeto de vingar sua família e desvencilhar-se, na medida
do possível, de suas insinuações (!).
Uma
característica muito interessante de “O Profissional” –e que certamente Besson
trouxe de “Ranxerox”, além de evidenciar, como realizador, sua pouca
predisposição em acatar o politicamente correto de Hollywood, mesmo estando
trabalhando por lá –é o subtexto sexual (ainda que bastante sutil), no qual a
menina, uma garotinha de uns 12 anos, apresenta-se com sedução: E a jovem
Natalie Portman tira de letra as cenas em que sua personagem exibe sua
sexualidade (sinto muito, Dominic Swain, mas ela sim foi a mais perfeita Lolita
a aparecer nas telas naqueles anos!).
Besson
não esquece, contudo, que este é um filme de ação, e essa intrigante dinâmica
que surgem entre Leon e Mathilda (a menina que seduz o homem feito para obter
dele o objetivo ilícito que deseja) emoldura magnificamente bem as seqüências de
ação e perseguição que surgem –e que se intensificam em sua excelente meia hora
final –dando ao filme um incomum peso dramático.
Uma bela e original estréia em terras americanas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário