domingo, 16 de abril de 2017

Frankenstein de Mary Shelley

Em meados dos anos 1990, os grandes monstros clássicos da literatura haviam se tornado uma espécie de obsessão para Francis Ford Coppola. Em 1993, ele prestou-se a dirigir o singular “Drácula de Bram Stoker” numa iniciativa de adaptar com fidelidade inédita a obra literária, dando a ela, no processo, uma nova abordagem cinematográfica enfatizando aspectos que não apareceram nas adaptações mais conhecidas.
É mais ou menos o mesmo princípio que orienta este “Frankenstein de Mary Shelley”, de 1994, que Coppola não dirigiu, mas assinou a produção ao lado de James Hart (roteirista de “Drácula de Bram Stoker”), deixando a direção a cargo do talentoso Kenneth Branagh.
Assim como em suas celebradas adaptações de Willian Shakespeare (“Henrique V”, “Muito Barulho Por Nada” e, mais tarde, "Hamlet") o diretor reservou também o papel de protagonista, o Dr. Victor Frankenstein, para si.
Mas a grande surpresa vinha na escalação da Criatura: Ninguém menos do que Robert De Niro encarnando uma versão desigual e cientificamente mais plausível da Criatura imortalizada na figura de Boris Karloff.
A trama inicia-se em 1794, quando o capitão Walton (Aidan Quinn) encontra, ensandecido e catatônico, o Dr. Frankenstein perdido em algum lugar das geleiras do Ártico. A fim de elucidar sua misteriosa e alarmante presença ali, Frankenstein recorda de quando ingressou na carreira científica e foi tomado por uma obsessão sem par: A de criar vida a partir de experiências com partes de corpos humanos.
Em seu impulso unilateral e inescrupuloso de contrariar a morte, ele acabou dando vida a uma Criatura que com o tempo ressentiu-se de uma condição solitária e rejeitada e se descontrolou, revelando-se um monstro.
A direção de Branagh se deleita com os vastos recursos técnicos que tem a disposição (figurino exuberante, direção de arte suntuosa, fotografia prodigiosa), mas não sabe controlar a voltagem desses excessos a fim de evidenciar o quê seu filme tem de realmente singular –e que parece resumir-se ao registro peculiar e expressivo proporcionado por De Niro.
O filme resulta num espetáculo de ritmo histérico, oscilante e claudicante, esquizofrênico na maneira com que trata as várias facetas da trama e duvidoso na ênfase que confere ao seu esmero visual.

Numa comparação com o preciso “Drácula de Bram Stoker” concebido por Coppola, sai perdendo de lavada.

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