quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Conan - O Bárbaro

Parecia absurdo (e realmente era) que um filme memorável e bem-sucedido como “Conan-O Bárbaro”, de 1982, tivesse se restringido apenas a uma pífia continuação (“Conan-O Destruidor”, de 1984, além de “Guerreiro de Fogo”, um derivado muito do sem-vergonha...).
A indústria até tentou compensar esse lapso (tardiamente, é bem verdade) fazendo uma espécie de refilmagem em 2011. Melhor dizendo: Fazendo uma nova versão do personagem, extraído de uma série de quadrinhos da Marvel dos anos 1970, por sua vez, inspirados nos contos escritos na década de 1930, pelo autor Robert E. Howard.
De fato, o personagem Conan, o Bárbaro, é tão rico, marcante e antológico que é de se admirar a pouca atenção dada a ele na cultura pop recente.
Parecia que, em 2011, isso estava prestes a ser compensado. A produção tinha no comando o diretor especialista em videoclips, Marcus Nispel que, se havia feito um trabalho entre o medíocre e o constrangedor no reboot de “Sexta-Feira 13” e no épico “Desbravadores”, ao menos havia entregado algo minimamente interessante na nova versão de “O Massacre da Serra Elétrica”.
No papel principal outra boa notícia: Fora escalado o samoano Jason Momoa (que então havia se destacado num papel menor na série “Game Of Thrones”) e, embora Conan fosse um personagem intrinsecamente relacionado à Arnold Schwarzenegger, as reações à escalação de Momoa foram bastante positivas pela adequação de sua fisionomia ao personagem, sobretudo, às suas caracterizações nos quadrinhos.
A expectativa, porém, é sempre uma faca de dois gumes, e o filme que Nispel entregou naquele ano não equiparava o que alguns fãs dele esperavam; compará-lo com a ótima realização de John Millis, de 1982, então, era uma covardia.
Numa variação até razoável do que está nas HQs, no filme original e do que é esboçado nos livros, a origem do personagem –que ocupa os primeiros vinte minutos –se dá pelo massacre de seu povo, os cimérios, perpetrado pelas tropas do maníaco Khalar Zym (o normalmente competente Stephen Lang, aqui afetado), grande vilão da trama que praticamente substitui, sem o mesmo peso dramático, o Thulsa Doom, de James Earl Jones, no filme de 82.
Conan, então um menino na ocasião, que inclusive teve o pai (Ron Perlman) assassinado –numa sequência feita para ser original, mas que resulta ridícula –passa o resto da vida em busca de vingança.
Anos depois (e já então personificado pela presença bastante impressionante de Jason Momoa), Conan finalmente encontra uma pista de Khalar Zym e parte em seu encalço; descobre assim que o vilão passou as últimas décadas dedicado a encontrar um artefato místico, algo que pode arremessar toda a Era Hiborana (o mundo imaginado por Robert E. Howard onde as aventuras de Conan se passam) num reino de trevas.
Para cada boa decisão tomada pelo filme, há um lapso que o compromete. Exemplo: Se foi bastante positivo manter-se mais fiel às características originais do personagem do que no filme de 82 –um bárbaro selvagem, porém, astuto e articulado na comparação ao guerreiro taciturno de Schwarzenegger –o filme de Nispel ao mesmo tempo comete equívocos grotescos e ginasianos ao coloca-lo em situações risíveis como o forçado enlace amoroso com a jovem indefesa Tamara (Rachel Nichols, interpretando sem um pingo de boa vontade).
Outro: Se por um lado a direção de Nispel capricha no quesito visual (uma de suas especialidades, vide seu currículo), incluindo o aproveitamento da tecnologia 3D (o sucesso “Avatar”, com o próprio Stephen Lang no elenco, havia pegado o mundo de assalto há apenas dois anos), por outro, seu roteiro é incapaz de conceber sequências tão extraordinariamente memoráveis como aquelas que o filme de 82 entrega simultaneamente –todas extraídas das HQs do personagem –o diálogo sobre o Enigma do Aço; a sequência da Grande Roda da Dor; a cena da crucificação e outras.
Além disso, na ânsia por sagrar-se um sucesso de bilheteria –e ser assim acessível a uma plateia de faixa etária o mais ampla possível –o filme padece de uma auto-censura que o despe de todas as singularidades do filme original, como sua audaciosa inclinação para a nudez, para uma sexualidade e uma sanguinolência que soavam (e ainda soam) incomuns nos filmes comerciais de aventura. Algumas cenas até embrincam nessa direção desvanecendo em clichês muito antes de algum resultado válido aparecer na tela.
O filme de 2011, tão promissor que era na oportunidade de recolocar nos cinemas um personagem que merecia e merece a evidência da qual desfrutam hoje ícones como James Bond ou Indiana Jones, padeceu perante um diretor que não soube manter a solidez narrativa de seu filme, e principalmente um roteiro que revelou incompetência absurda ao desperdiçar os conceitos e elementos riquíssimos que tinha a sua disposição.

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