Talvez, seja devido à ambientação na Itália –e o fato de grande parte dele ser falado em italiano –que “Imaculada”, desde o início, provoque a lembrança de obras oriundas do terror gótico italiano, algumas em especial realizadas por Mario Bava e Dario Argento. A trama e seu princípio básico até lembram bastante aqueles enredos macabros: Uma jovem vinda de longe chega para viver num local assolado por práticas e costumes que, ela descobrirá junto do público, são orientados por escolhas tétricas. Com essa premissa se materializaram clássicos do gênero como “Suspiria”, “Phenomena” e outros trabalhos um pouco mais obscuros.
Em “Imaculada”, a jovem vinda de longe é a
freira norte-americana Irmã Cecilia (Sydney Sweeney, demonstrando considerável
versatilidade ao assumir um papel que exige predicados diferentes daqueles que
ela ostentou em outros papéis mais voltados para a sensualidade) que vem para a
Itália, mais precisamente para o monastério Nossa Senhora das Dores, onde fará
seus votos e passará a viver. Contudo, nós expectadores sabemos, desde o
sinistro prólogo (onde uma moça tenta escapar de lá à noite e tem um desfecho
apavorante) que algo terrível espreita pelos cantos escuros daquele lugar.
Ao longo da narrativa, a dicotomia entre as
informações sugeridas nesse prólogo e a trajetória gradual de revelação da Irmã
Cecilia irão intrigar o público, não necessariamente das melhores maneiras
–durante a maior parte do tempo, não há uma relação coerente ou harmoniosa
entre os acontecimentos iniciais e o filme que se segue depois deles, dando a
impressão de que tudo são ideias aleatórias justapostas pelo roteiro. Conforme
vão passando seus dias naquele lugar regido pelos preceitos de abnegação, onde
as freiras mais jovens basicamente devem zelar pelo bem-estar de freiras idosas
acometidas de insanidade e toda sorte de mazelas acarretadas pela idade
avançada, a Irmã Cecilia se depara com as personalidades distintas que afloram
em pequenos gestos: O rancor e a maldade enrustida da Irmã Mary (Simona Tabasco);
a rebeldia e a camaradagem da Irmã Gwen (Benedeta Porcaroli); a onipresença
sufocante da Madre Superiora (Dora Romano, de “Perfume-A História de Um Assassino”); a severidade ameaçadora do Cardeal Franco (Giorgio Colangeli); a
prestatividade insistente e suspeita do Padre Tedeschi (Alvaro Morte, da
festejada série “La Casa de Papel”); a omissão cheia de significados do médico
local, o Dr. Gallo (Giampiero Judica, de “Todo O Dinheiro do Mundo”) e as
aparições súbitas, no meio da madrugada, e algo fantasmagóricas de uma das
internas (Betty Pedrazzi).
Após uma noite em que se perde em corredores
tenebrosos e aparentemente secretos do lugar, seguido de visões assustadoras e
de um desmaio, a Irmã Cecilia fica intrigada com sintomas estranhos que sua
saúde começa a apresentar, e logo vem uma surpresa: Ela –virgem e intocada
–está grávida! No entanto, apesar da novidade ser recebida entre as demais
freiras como um milagre, é numa prisioneira do lugar que, nos dias que se
seguem, a Irmã Cecilia parece se transformar: ela não pode sair para o mundo
exterior, não pode trabalhar com as outras freiras e, mesmo seus apelos para
ser consultada com um médico diferente nas cidades próximas (pois, a exemplo de
realizações como “O Bebê de Rosemary”, seu organismo começa a ter reações um
tanto estranhas e preocupantes em relação à essa gravidez), é ignorado. O que,
logo, desperta nela a vontade de engendrar planos para escapar dali.
Nenhum comentário:
Postar um comentário