segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

O Bebê de Rosemary

Se a magistral “Trilogia do Apartamento”, de Roman Polanski –a qual é constituída deste filme, “Repulsa Ao Sexo”, de 1965, e “O Inquilino”, de 1976 –fala sobre protagonistas acuados e divididos entre a insanidade de seus temores e a intensidade irreprimível de suas suspeitas, este exemplar do meio, na comparação com os outros, é aquele onde mais se percebe, de forma palpável, a ameaça à qual se expõe sua indefesa personagem principal.
Primeira obra de Polanski realizada nos EUA, este foi um marco moderno no cinema de horror ao mesclar o suspense carregado de méritos técnicos tão bem difundido nas obras de Alfred Hitchcock, com uma premissa apavorante que colidia o sobrenatural e a normalidade urbana, resultando numa obra-prima que influenciou todos os filmes de terror que vieram a seguir.
Os jovens recém-casados Rosemary (Mia Farrow, absolutamente perfeita no papel) e Guy (o também diretor John Cassavetes) mudam-se para um apartamento no edifício Dakota em Nova York.
Enquanto Guy luta por um lugar ao sol como ator, Rosemary decora o apartamento, assediada pelos solícitos e estranhos vizinhos, um casal idoso formado pela histriônica e perdulária Minnie (Ruth Gordon, de “Ensina-Me A Viver”, que ganhou aqui o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante) e pelo simpático, porém soturno Roman Castevet (Sidney Blackmer). No mesmo dia em que Guy consegue um papel na Broadway, Rosemary sonha que é violentada pelo diabo.
Ela engravida de fato e, ao longo da apavorante gestação, passa a suspeitar de uma conspiração dos vizinhos e de Guy –que teria vendido a própria alma em troca do tão almejado sucesso profissional –contra seu filho.
Foi aqui, nesta seminal obra de terror, onde o diretor polonês atingiu um domínio técnico e cinematográfico pleno –e com o qual moldou um filme primorosamente arrepiante, a pedra fundamental de todo o sub-gênero envolvendo satanistas que proliferou-se a partir dos anos 1970, com “O Exorcista”, “A Profecia”, “Adoradores do Diabo” e muitos outros –então um diretor jovem cultuado somente em certos circuitos europeus, Polanski conquistou aqui um espetacular sucesso de público e crítica que o tornou famoso no mundo todo.
Não à toa: O susto final é um choque do qual os expectadores de ontem, de hoje e de sempre dificilmente haverão de se recuperar.

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