segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

A Imagem

Realizador daquele que é considerado com unanimidade como o “Cidadão Kane” dos filmes pornôs, “Opening Of Misty Beethoven”, o diretor Radley Metzger aproveitou essa inesperada aclamação para tentar uma transição para o cinema comercial convencional, embora seu filme não se afaste tanto assim do material com o qual ele se profissionalizou. A verdade é que naqueles anos 1970 de então, a contracultura e os avanços artísticos na área cinematográfica –muitas vezes traduzidos em ousadias autorais –faziam com que alguns conceitos de gênero se confundissem.
Se havia um filme definitivamente pornográfico que obtinha repercussão de público (“Garganta Profunda”), havia também filmes que, sem pertencer ao gênero em si, começavam a lançar mão de cenas de nudez e sexo explícito (e a lista de tais produções –chamadas em geral de ‘sexploitation’ –é bastante extensa).
Em “A Imagem”, Metzger dedica-se a uma narrativa essencialmente construída em sua história, mas compulsivamente voltada para o sexo: O desprendido Jean (Carl Parker) vai à uma festa que reune a burguesia européia. Lá, encontra Anne (a deliciosa Rebecca Brooke) e Claire (Marilyn Roberts).
Imediatamente, ele percebe uma dinâmica incomum entre as duas: Anne é submissa a Claire, e parece excitar-se ao ser punida e humilhada por ela. Jean nutre forte atração física por Anne (que o trata, por sua vez, com indiferença), mas é nas graças de Claire que parece cair.
Claire o introduz, aos poucos, nos jogos de masoquismo e bondage que trava com Anne e, no decorrer dos acontecimentos, ela e Jean se tornam amantes, gerando assim uma inesperada reação da parte de Claire.
Ainda que desleixada é essa preocupação com as inclinações psicológicas dos personagens que valoriza o filme. Metzger conduz tudo como um filme corriqueiro, dando indícios durante os primeiros quinze minutos de ter cedido por inteiro ao cinema convencional. É justamente esse tratamento que torna as cenas explícitas, quando elas vêem, tão impressionantes –e o elenco, em especial, Carl Parker e Rebecca Brooke, se dedica por completa às cenas de sexo; Rebecca, inclusive parece ir ficando cada vez mais bela e desejável a medida que as cenas avançam, num efeito que Metzger já tinha obtido com sua atriz principal em “Opening of Misty Beethoven”. Entretanto, naquele filme, tal recurso depunha a favor da história, enquanto que aqui ele não tem maiores funções, exceto a de coerência estilística.
“A Imagem” é, pois, um exemplar fronteiriço entre o cinema meramente erótico e o escancaradamente pornográfico, guardando elementos de ambos em sua narrativa (um saudável tempo dedicado à construção da história e, por que não, dos personagens, em contraponto aos closes contundentes nos órgãos genitais) –e as características prejudiciais de ambos também (o ritmo arrastado, a trama, no fim das contas, servindo como um pretexto requintado para a nudez e o sexo).
E a despeito de seu retrato da prática de submissão e masoquismo ser feito com certo maniqueísmo e inverossimilhança, o filme ainda assim é belo e excitante.

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