Realizador daquele que é considerado com
unanimidade como o “Cidadão Kane” dos filmes pornôs, “Opening Of Misty
Beethoven”, o diretor Radley Metzger aproveitou essa inesperada aclamação para
tentar uma transição para o cinema comercial convencional, embora seu filme não
se afaste tanto assim do material com o qual ele se profissionalizou. A verdade
é que naqueles anos 1970 de então, a contracultura e os avanços artísticos na
área cinematográfica –muitas vezes traduzidos em ousadias autorais –faziam com
que alguns conceitos de gênero se confundissem.
Se havia um filme definitivamente pornográfico
que obtinha repercussão de público (“Garganta Profunda”), havia também filmes
que, sem pertencer ao gênero em si, começavam a lançar mão de cenas de nudez e
sexo explícito (e a lista de tais produções –chamadas em geral de
‘sexploitation’ –é bastante extensa).
Em “A Imagem”, Metzger dedica-se a uma
narrativa essencialmente construída em sua história, mas compulsivamente
voltada para o sexo: O desprendido Jean (Carl Parker) vai à uma festa que reune
a burguesia européia. Lá, encontra Anne (a deliciosa Rebecca Brooke) e Claire
(Marilyn Roberts).
Imediatamente, ele percebe uma dinâmica incomum
entre as duas: Anne é submissa a Claire, e parece excitar-se ao ser punida e
humilhada por ela. Jean nutre forte atração física por Anne (que o trata, por
sua vez, com indiferença), mas é nas graças de Claire que parece cair.
Claire o introduz, aos poucos, nos jogos de
masoquismo e bondage que trava com Anne e, no decorrer dos acontecimentos, ela
e Jean se tornam amantes, gerando assim uma inesperada reação da parte de
Claire.
Ainda que desleixada é essa preocupação com as
inclinações psicológicas dos personagens que valoriza o filme. Metzger conduz
tudo como um filme corriqueiro, dando indícios durante os primeiros quinze
minutos de ter cedido por inteiro ao cinema convencional. É justamente esse
tratamento que torna as cenas explícitas, quando elas vêem, tão impressionantes
–e o elenco, em especial, Carl Parker e Rebecca Brooke, se dedica por completa
às cenas de sexo; Rebecca, inclusive parece ir ficando cada vez mais bela e
desejável a medida que as cenas avançam, num efeito que Metzger já tinha obtido
com sua atriz principal em “Opening of Misty Beethoven”. Entretanto, naquele
filme, tal recurso depunha a favor da história, enquanto que aqui ele não tem
maiores funções, exceto a de coerência estilística.
“A Imagem” é, pois, um exemplar fronteiriço
entre o cinema meramente erótico e o escancaradamente pornográfico, guardando
elementos de ambos em sua narrativa (um saudável tempo dedicado à construção da
história e, por que não, dos personagens, em contraponto aos closes
contundentes nos órgãos genitais) –e as características prejudiciais de ambos
também (o ritmo arrastado, a trama, no fim das contas, servindo como um
pretexto requintado para a nudez e o sexo).
E a despeito de seu retrato da prática de
submissão e masoquismo ser feito com certo maniqueísmo e inverossimilhança, o
filme ainda assim é belo e excitante.
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