domingo, 15 de novembro de 2015

Excalibur

Grande mestre, esse John Boorman. Diretor de magistrais trabalhos nos anos 1970 e 1980, como “Amargo Pesadelo” e “Esperança e Glória”, ele é também realizador da melhor (e provavelmente jamais igualada) versão da lenda do Rei Arthur e os cavaleiros da Távola Redonda: “Excalibur”. 
A primeira parte da história, narrada num tom épico que depois serviria aos propósitos narrativos de filmes como “Gladiador” ou “Senhor dos Anéis”, mostra a obsessão de Uther Pendragon (Gabriel Byrne) em tornar-se rei, após obter a fabulosa espada Excalibur, das mãos da Dama do Lago. Ao alcançar seu objetivo, ele apenas troca uma obsessão por outra: Uther deseja Igraine, a esposa do homem que antes foi seu aliado em batalha. Fazendo um pacto com o mago Merlin (Nicol Williamson), e com o demoníaco dragão que lhe fornece poder, Uther tem uma noite fugaz de amor com Igraine enquanto seu marido cai morto no campo de batalha. Mas, Merlin volta, nove meses depois, para cobrar a dívida pelo favor prestado, e seu preço é Arthur, o recém-nascido, fruto daquela mesma noite. Uther arrepende-se do pacto, mas é interceptado por inimigos de seu reino antes de alcançar Merlin. Eles matam Uhter, que antes de cair crava a espada Excalibur em uma pedra, impedindo qualquer de empunhá-la (numa cena fantástica, bem feita, bem filmada, bem dirigida e bem interpretada). 
A trama avança, assim, algumas décadas e, na segunda parte, encontraremos Arthur (Nigel Terry) já rapaz, trabalhando como escudeiro para o filho de seu pai adotivo (Merlin entregou-o para que um camponês o criasse). Acidentalmente, Arthur remove a espada da pedra, tornando-se rei. 
Nos anos por vir ele se apaixonará pela bela Guinevere (Cherie Lunghi), a filha de um de seus maiores aliados, consolidará seu castelo, unificará seu reino, em Camelot, e criará a Távola Redonda, em homenagem à honra que une seus cavaleiros. Mais tarde, Arthur conhecerá Lancelot (Nicholas Clay), nobre cavaleiro cuja honradez em combate irá surpreender o próprio Arthur. Após uma breve contenda, eles tornar-se-ão amigos, porém, numa reviravolta do destino, Lancelot e Guinevere se apaixonarão, traindo Arthur e deixando o reino de Camelot à mercê dos feitiços malignos da vingativa meia-irmã de Arthur, a bruxa Morgana (Helen Mirren). Uma época negra que somente a descoberta do Santo Graal irá dissipar. 
Mesmo a mais elaborada sinopse talvez não dê conta da complexidade à que “Excalibur” consegue chegar. Seus personagens são multifacetados, e isso é maravilhosamente refletido no trabalho minucioso do elenco. Também é digna de aplausos a direção de John Boorman que emprega uma sucessão de decisões brilhantes nesta sua versão tão pessoal da lenda. A primeira delas é certamente a de jamais render-se a uma tendência comercial (na qual, sem dúvida, as cenas de sangue ou de nudez seriam sensivelmente reduzidas, além do conteúdo bastante dramático e trágico da história); a segunda, é adotar o tom ímpar que adotou, o de em princípio, desmistificar a lenda (infligindo reações muito humanas e ambíguas em seus personagens) o quê termina apenas por valorizá-la; e a terceira é finalmente colocar alguns dos mais brilhantes atores britânicos para vivenciá-los, como Hellen Mirren (bonitona pra caramba!) como Morgana, ou Gabriel Byrne com Uther Pendragon, há até mesmo um jovem Liam Neeson e um ainda desconhecido Patrick Stewart (porém a grande presença vem a ser mesmo Nicol Williamson, esplêndido num registro desigual de Merlin). 
Uma das grandes obras de fantasia do cinema.

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