Grande mestre, esse John Boorman. Diretor de
magistrais trabalhos nos anos 1970 e 1980, como “Amargo Pesadelo” e “Esperança
e Glória”, ele é também realizador da melhor (e provavelmente jamais igualada)
versão da lenda do Rei Arthur e os cavaleiros da Távola Redonda:
“Excalibur”.
A primeira parte da história, narrada num tom
épico que depois serviria aos propósitos narrativos de filmes como “Gladiador”
ou “Senhor dos Anéis”, mostra a obsessão de Uther Pendragon (Gabriel Byrne) em
tornar-se rei, após obter a fabulosa espada Excalibur, das mãos da Dama do
Lago. Ao alcançar seu objetivo, ele apenas troca uma obsessão por outra: Uther
deseja Igraine, a esposa do homem que antes foi seu aliado em batalha. Fazendo
um pacto com o mago Merlin (Nicol Williamson), e com o demoníaco dragão que lhe
fornece poder, Uther tem uma noite fugaz de amor com Igraine enquanto seu
marido cai morto no campo de batalha. Mas, Merlin volta, nove meses depois,
para cobrar a dívida pelo favor prestado, e seu preço é Arthur, o
recém-nascido, fruto daquela mesma noite. Uther arrepende-se do pacto, mas é
interceptado por inimigos de seu reino antes de alcançar Merlin. Eles matam
Uhter, que antes de cair crava a espada Excalibur em uma pedra, impedindo
qualquer de empunhá-la (numa cena fantástica, bem feita, bem filmada, bem
dirigida e bem interpretada).
A trama avança, assim, algumas décadas e, na
segunda parte, encontraremos Arthur (Nigel Terry) já rapaz, trabalhando como
escudeiro para o filho de seu pai adotivo (Merlin entregou-o para que um
camponês o criasse). Acidentalmente, Arthur remove a espada da pedra,
tornando-se rei.
Nos anos por vir ele se apaixonará pela bela
Guinevere (Cherie Lunghi), a filha de um de seus maiores aliados, consolidará
seu castelo, unificará seu reino, em Camelot, e criará a Távola Redonda, em
homenagem à honra que une seus cavaleiros. Mais tarde, Arthur conhecerá
Lancelot (Nicholas Clay), nobre cavaleiro cuja honradez em combate irá
surpreender o próprio Arthur. Após uma breve contenda, eles tornar-se-ão
amigos, porém, numa reviravolta do destino, Lancelot e Guinevere se
apaixonarão, traindo Arthur e deixando o reino de Camelot à mercê dos feitiços
malignos da vingativa meia-irmã de Arthur, a bruxa Morgana (Helen Mirren). Uma
época negra que somente a descoberta do Santo Graal irá dissipar.
Mesmo a mais elaborada sinopse talvez não dê
conta da complexidade à que “Excalibur” consegue chegar. Seus personagens são
multifacetados, e isso é maravilhosamente refletido no trabalho minucioso do
elenco. Também é digna de aplausos a direção de John Boorman que emprega uma
sucessão de decisões brilhantes nesta sua versão tão pessoal da lenda. A
primeira delas é certamente a de jamais render-se a uma tendência comercial (na
qual, sem dúvida, as cenas de sangue ou de nudez seriam sensivelmente
reduzidas, além do conteúdo bastante dramático e trágico da história); a
segunda, é adotar o tom ímpar que adotou, o de em princípio, desmistificar a
lenda (infligindo reações muito humanas e ambíguas em seus personagens) o quê
termina apenas por valorizá-la; e a terceira é finalmente colocar alguns dos
mais brilhantes atores britânicos para vivenciá-los, como Hellen Mirren
(bonitona pra caramba!) como Morgana, ou Gabriel Byrne com Uther Pendragon, há
até mesmo um jovem Liam Neeson e um ainda desconhecido Patrick Stewart (porém a
grande presença vem a ser mesmo Nicol Williamson, esplêndido num registro
desigual de Merlin).
Uma das grandes obras de
fantasia do cinema.
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