Em 1988, o diretor francês Roger Vadim teve a ideia de realizar uma refilmagem norte-americana de seu cultuado “...E Deus Criou A Mulher” original, estrelada por sua esposa na época, Brigite Bardot. Agora estrelado por Rebecca de Mornay (atriz que habitava o subconsciente coletivo do público masculino graças ao seu papel em “Negócio Arriscado”), este novo “...E Deus Criou A Mulher” terminou se revelando um filme completamente diferente de seu antecessor.
Rebecca interpreta Robin Shay, protagonista que
–diferente da quase ingenuidade de Bardot no outro filme –nos é apresentada
como uma presidiária (!) na iminência de perpetrar uma fuga da cadeia (!!). Tal
fuga (filmada de maneira à evidenciar certo charme gaiato almejado pela
produção) não se revela muito eficaz: Ainda na estrada, Shay pega carona na
limusine de James Tierman (Frank Langella, pouco convincente em sua fleuma e
charme), figurão envolvido com política que, ao dar-se pelo esquecimento de uma
pasta, pede ao motorista que dê meia volta e retorne ao local em que estavam
–esse local, para azar de Robin, vem a ser a própria penitenciária (!!!).
Tierman dá a ela uma chance para que retorne, às escondidas, para sua cela e
esqueça essa ideia de fugir.
Dessa forma, Robin acaba num ginásio em obras
da penitenciária (ou algo assim) e, num encontro inesperado, desta vez com o
carpinteiro Billy Moran (Vincent Spano, de “Oscar-Minha Filha Quer Casar”), ela
acaba fazendo sexo (!!!) –e a condução um tanto enfadonha imposta pela direção
só não despenca totalmente para o tédio exatamente por conta desses lances non-senses, e por isso mesmo
imprevisíveis, ocasionados no roteiro que, de um modo ou de outro, persistirão
até o final.
Descobrindo que Tierman está concorrendo à
eleição para governador no estado do Novo México, Robin pede a ele um auxílio:
Ela irá se comportar e até mesmo providenciar um matrimônio de última hora –com
o inadvertido Billy! –desde que Tierman mexa os pauzinhos para tirá-la da
prisão, aproveitando ainda para fazer da manchete de sua saída uma história de
redenção que ajude a impulsionar sua candidatura.
Assim, aos trancos e barrancos e sem muita
certeza do rumo a ser tomado, “...E Deus Criou A Mulher” estabelece esse
estranho triângulo amoroso entre Robin, Billy e Tierman, que nunca leva a lugar
nenhum (com os dois homens parecendo disputar qual o mais irritante e
machista). Robin vai morar na casa de Billy, junto do irmão e do filho pequeno
dele, sob as condições de um acordo: Por cerca de seis meses (tempo mais que
suficiente para Tierman se eleger e para a liberdade condicional dela expirar),
Robin irá se passar por sua esposa e, ao fim desse período, irá recompensá-lo
com 5 mil dólares que ela tinha no banco.
Ao contrário do que inicialmente Billy tinha
imaginado, porém, ele e Robin não terão qualquer relação carnal –ela não quer
envolver negócios com prazeres...
Isso, obviamente, acirra os nervos de Billy,
enquanto lida com isso (e com as responsabilidades da vida doméstica que aquele
período em família irá lhe cobrar) Robin tenta refazer sua antiga banda e dar
continuidade ao talento para música que ela demonstrava antes de ir presa.
Ao abrir mão de uma trama mais similar ao filme
de 1956 –um romance mais básico e sem maiores distinções –o diretor Vadim
acabou concebendo uma obra carregada de estranhos maneirismos. O aspecto
musical que tenta acompanhar o estado de espírito desta sua nova protagonista
não tem qualquer encaixe harmonioso com o restante do enredo, e as canções
padecem de uma lastimável falta de inspiração –e a própria Rebecca De Mornay
parece pouco à vontade nas cenas em que precisa exercitar suas cordas vocais.
Por outro lado, o aspecto sensual, quando aparece, é bem aproveitado no
registro de um sex-appeal mais
selvagem de sua protagonista e nas cenas desinibidas de nudez que ela entrega.
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