sábado, 16 de agosto de 2025

...E Deus Criou A Mulher


 Em 1988, o diretor francês Roger Vadim teve a ideia de realizar uma refilmagem norte-americana de seu cultuado “...E Deus Criou A Mulher” original, estrelada por sua esposa na época, Brigite Bardot. Agora estrelado por Rebecca de Mornay (atriz que habitava o subconsciente coletivo do público masculino graças ao seu papel em “Negócio Arriscado”), este novo “...E Deus Criou A Mulher” terminou se revelando um filme completamente diferente de seu antecessor.

Rebecca interpreta Robin Shay, protagonista que –diferente da quase ingenuidade de Bardot no outro filme –nos é apresentada como uma presidiária (!) na iminência de perpetrar uma fuga da cadeia (!!). Tal fuga (filmada de maneira à evidenciar certo charme gaiato almejado pela produção) não se revela muito eficaz: Ainda na estrada, Shay pega carona na limusine de James Tierman (Frank Langella, pouco convincente em sua fleuma e charme), figurão envolvido com política que, ao dar-se pelo esquecimento de uma pasta, pede ao motorista que dê meia volta e retorne ao local em que estavam –esse local, para azar de Robin, vem a ser a própria penitenciária (!!!). Tierman dá a ela uma chance para que retorne, às escondidas, para sua cela e esqueça essa ideia de fugir.

Dessa forma, Robin acaba num ginásio em obras da penitenciária (ou algo assim) e, num encontro inesperado, desta vez com o carpinteiro Billy Moran (Vincent Spano, de “Oscar-Minha Filha Quer Casar”), ela acaba fazendo sexo (!!!) –e a condução um tanto enfadonha imposta pela direção só não despenca totalmente para o tédio exatamente por conta desses lances non-senses, e por isso mesmo imprevisíveis, ocasionados no roteiro que, de um modo ou de outro, persistirão até o final.

Descobrindo que Tierman está concorrendo à eleição para governador no estado do Novo México, Robin pede a ele um auxílio: Ela irá se comportar e até mesmo providenciar um matrimônio de última hora –com o inadvertido Billy! –desde que Tierman mexa os pauzinhos para tirá-la da prisão, aproveitando ainda para fazer da manchete de sua saída uma história de redenção que ajude a impulsionar sua candidatura.

Assim, aos trancos e barrancos e sem muita certeza do rumo a ser tomado, “...E Deus Criou A Mulher” estabelece esse estranho triângulo amoroso entre Robin, Billy e Tierman, que nunca leva a lugar nenhum (com os dois homens parecendo disputar qual o mais irritante e machista). Robin vai morar na casa de Billy, junto do irmão e do filho pequeno dele, sob as condições de um acordo: Por cerca de seis meses (tempo mais que suficiente para Tierman se eleger e para a liberdade condicional dela expirar), Robin irá se passar por sua esposa e, ao fim desse período, irá recompensá-lo com 5 mil dólares que ela tinha no banco.

Ao contrário do que inicialmente Billy tinha imaginado, porém, ele e Robin não terão qualquer relação carnal –ela não quer envolver negócios com prazeres...

Isso, obviamente, acirra os nervos de Billy, enquanto lida com isso (e com as responsabilidades da vida doméstica que aquele período em família irá lhe cobrar) Robin tenta refazer sua antiga banda e dar continuidade ao talento para música que ela demonstrava antes de ir presa.

Ao abrir mão de uma trama mais similar ao filme de 1956 –um romance mais básico e sem maiores distinções –o diretor Vadim acabou concebendo uma obra carregada de estranhos maneirismos. O aspecto musical que tenta acompanhar o estado de espírito desta sua nova protagonista não tem qualquer encaixe harmonioso com o restante do enredo, e as canções padecem de uma lastimável falta de inspiração –e a própria Rebecca De Mornay parece pouco à vontade nas cenas em que precisa exercitar suas cordas vocais. Por outro lado, o aspecto sensual, quando aparece, é bem aproveitado no registro de um sex-appeal mais selvagem de sua protagonista e nas cenas desinibidas de nudez que ela entrega.

Longe de representar o mesmo marco de sensualidade que a produção francesa estabeleceu (na verdade, há quem sequer saiba da existência desta refilmagem!), este “...E Deus Criou A Mulher” norte-americano, na sua tentativa de evocar alguma lubricidade sexual e maliciosa que reverberasse no imaginário do público tanto quanto o original, acabou ficando à sombra de muitas obras abundantes em erotismo e sensualidade que despontaram naqueles anos 1980, como “O Último Americano Virgem”, “9 e ½ Semanas de Amor” e outros.

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