Muitos não têm ideia da procedência, mas, o
pequeno cul erótico dos anos 1980, “O Último Americano Virgem” é na verdade
refilmagem do filme israelense “Sorvete de Limão”, que chegou até mesmo a
concorrer ao Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro em 1979.
O mesmo diretor e roteirista Boaz Davidson se
incumbiu de transpor a versão de seu trabalho para o contexto norte-americano,
encaixando-o com primazia na concepção juvenil e estudantil de então e nos
códigos do estilo de comédia que despontava graças à ênfase no apelo sexual já
presente na premissa.
“O Último Americano Virgem” ombreia obras
marcantes e bem-sucedidas da época, como “Porky’s-A Casa do Riso e do Amor” e
“Férias do Barulho”, nas quais sexo é a única coisa que parece ocupar o
pensamento dos jovens protagonistas –contudo, seu reconhecimento emblemático
dentro desse sub-gênero desvia a atenção para algo que o filme de Boaz Davidson
tem de profundamente salutar: Uma hábil e impactante manutenção do drama.
Claro que, muito do que se vê no filme
contribui para que ele seja visto como uma mera comédia adolescente erótica: Os
jovens estudantes Gary (Lawrence Monoson), Rick (Steve Antin, vilãozinho de “Os Goonies”) e David (Joe Rubbo) são melhores amigos e, na idade em que se encontram,
vivem naturalmente em busca de sexo.
Já no início do filme, uma cena dá o tom do
humor desavergonhado, mas bastante divertido que irá predominar: Os três
carregam outras três garotas para casa de Gary, aproveitando a ausência dos
pais deste. Lá, uma festa de improviso rola solta e, pelo menos dois deles
–Rick e David –correm o risco de se dar bem, levando suas acompanhantes para os
quartos.
Os pais de Gary, então, chegam em casa
provocando um grande tumulto –além disso, o gordinho David termina confundindo
a mãe de Gary com sua ficante (!!).
Caso o expectador considere esse tipo de humor
muito vulgar, e ache que nudez gratuita é um elemento que pode denegrir um
filme, meu conselho é que passe longe de “O Último Americano Virgem”
–entretanto, se filmes desse apelo não são nenhum problema, este trabalho pode
surpreender.
A estrutura que Boaz Davidson confere ao seu
filme não poderia ser mais simples: De forma episódica, ele vai relatando as
aventuras e desventuras sexuais de seus três protagonistas, ao mesmo tempo em
que aprofunda suas dinâmicas por meio disso, diferenciando suas personalidades
uns dos outros e alternando os momentos genuinamente engraçados com outros de
teor mais sério e melancólico, em meio aos quais quase uma espécie de trama
paralela vai se construindo.
Basicamente, durante a sua faceta de comédia
–aquela que aparentemente a maioria de seu público mais lembra –“O Último
Americano Virgem” enumera as situações em que Gary, Rick e David procuram pelo
interlúdio com o sexo oposto. Nelas, quase sempre algo errado acontece; e isso
quase sempre leva o pobre Gary (que não tarda a revelar-se o desafortunado
protagonista) a ter frustradas suas chances de perder a virgindade; é ele,
pois, o tal ‘último americano virgem’.
No entanto, enquanto avança em suas sequências
cômicas, o filme também amadurece uma outra trama na qual Gary se descobre
apaixonado pela jovem Karen (Diane Franklin, de “Bill & Ted-Uma Aventura
Fantástica”) que, por sua vez, cai de amores por seu amigo Rick –de longe, o
mais metido a galã dos três; e são impagáveis as expressões de corno manso que
o ator Lawrence Monoson exibe nessas cenas...
Sendo seu amigo mulherengo do jeito que é –e sendo
o próprio filme malicioso do jeito que é –Gary faz o que pode para impedir Rick
de levar a aparentemente inocente Karen para a cama, gerando algumas situações
divertidas (como quando sem querer ele desliga o freio do carro e, com todos
dentro, faz o veículo despencar num barranco para a água da praia). O
tratamento dado ao filme –o de uma comédia descompromissada –nesse trecho em
especial, engana o público: Como nas comédias românticas usuais, torcemos para
que a mocinha se dê conta de que o amor genuíno do protagonista é mais
merecedor dela do que o obviamente cafajeste garoto que só a quer seduzir.
Contudo, pouco a pouco, o filme de Boaz Davidson despedaça sadicamente nossas
expectativas numa sucessão quase despercebida de pequenos acontecimentos que
ocupam o último terço: Depois de tantas tentativas de Gary para impedir o
inevitável, Rick e Karen finalmente fazem sexo; ela engravida; ele termina com
ela –num gesto até mais brutal e súbito do que esperávamos. Bom moço, Gary faz
o possível e o impossível para ajudar sua amada: Junta todo o dinheiro que tem,
vende suas coisas, pede empréstimos, tudo para poder pagar o aborto dela. Ao
fim, tudo resolvido –e com a garota de sua vida ao seu lado por gratidão –Gary
vai à casa de Karen encontrá-la para sua festa de aniversário, mas, eis que
ela, na mais absoluta e revoltante cara-de-pau, voltou com Rick outra vez.
O mundo de Gary cai –e, devido ao inesperado
dos acontecimentos, essa sensação chega ao expectador também –e ele sai na
noite em seu carro, com sua frustração, sua desilusão e sua derrota. E é nesse
momento amargo que o filme outrora tão descontraído e hilário de Boaz Davidson
decide abandonar o expectador.
A despeito da mensagem
extremamente machista que o filme pode passar em relação ao comportamento das
mulheres e no repúdio a isso incitado, “O Último Americano Virgem” se fez muito
impactante aos jovens expectadores de sua época graças, sobretudo, a esse
momento final onde eles experimentaram, incrédulos, um dos mais dolorosos foras
do cinema.
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