segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Oscar - Minha Filha Quer Casar


 A adentrar os anos 1990, a carreira de Sylvester Stallone –assim como a de outros astros de ação dos anos 1980, como Arnold Schwarzenegger ou Bruce Willis –viu-se numa necessidade de reinvenção (afinal, músculos e disposição física não são atributos eternos). E uma das suas primeiras incursões num gênero diferenciado, como a comédia, ocorreu neste divertido e curioso “Oscar-Minha Filha Quer Casar” –lembrado por uns como um hilário passatempo da década de 1990, e por outros como um destoante, e até lamentável, título na filmografia do astro, “Oscar” estranhamente divide opiniões.

Stallone vive o gangster Angelo ‘Snaps’ Provolone que, já na primeira cena, assiste consternado a morte do pai (Kirk Douglas, numa ponta luxuosa); antes de morrer, contudo, ele leva Snaps a fazer uma promessa: Deixar os negócios escusos de lado e virar um homem honesto, dando assim o ponto de partida para as confusões.

Passa-se um mês, e o filme então inicia-se de fato, a transcorrer sua trama de idas e vindas e graciosos mal-entendidos em um único dia: O dia em que Snaps –ou melhor, o Sr. Provolone –haverá de tornar-se um empresário honesto, ao selar, ao meio-dia, um acordo com um grupo de banqueiros em plenos anos 1930.

Entretanto, é nesse dia que todos os problemas acarretados por sua família virão bater a porta de Provolone: A começar por Anthony Rossano (Vincent Spano, ator de alguns filmes dos Irmãos Tavianni), seu desaforado contador que aparece para exigir um aumento considerável de salário (!) e a mão de sua filha em casamento (!).

Entretanto, o que Provolone ainda não sabe –e que descobrirá aos trancos a barrancos ao longo do dia –é que Rossano não se refere à sua filha de fato, Lisa (Marisa Tomei), que realmente está grávida, só que do ex-chofer, Oscar (!), mas à meiga Theresa (Elizabeth Barondes), garota pobre que mentiu ser sua filha.

Como Rossano apropriou-se de uma considerável soma em dinheiro a fim de devolvê-la à Provolone só quando este lhe cedesse a mão da filha em matrimônio, ele não pode dizer-lhe ainda a verdade, e talvez, nem queira: Afinal, a despeito de Theresa e Rossano se amarem, ele precisa providenciar um marido para Lisa, já que Oscar (um personagem que só aparece no final, interpretado pelo roteirista Jim Mulholland, mas sobre quem todos falam e cujas ações movimentam toda a trama) alistou-se no exército.

Durante as confusões que se sucedem na mansão de Provolone, do lado de fora, policiais de tocaia (liderados por Kurtwood Smith) e gangsters rivais (comandados por Richard Romanus) organizam suas próprias investidas contra Snaps, certos de que ele está armando das suas.

Ainda que rocambolesca, a sinopse não dá conta das trapalhadas e do fluxo ininterrupto de gags que se passam ao longo do filme, tornando-o, para aqueles capazes de apreciar a comédia que ele é, um tanto saboroso e engraçado –e o diretor John Landis, além de aproveitar esses desenlaces típicos para ambientar seu filme numa direção de arte primorosa em acabamento cenográfico, pontua sua narrativa com belíssimas e arrojadas participações, como a linda e macarrônica esposa de Provolone (a italiana Ornella Muti), o solícito e perplexo padre local (o veterano Don Ameche), o avoado e prestativo fonoaudiólogo (o ótimo Tim Curry), os hilariantes capangas de Snaps, Aldo (Peter Riegert, de “O Máskara”), indignado com sua ‘promoção’ à mero mordomo, e o engraçadíssimo brutamontes Connie (o sensacional Chazz Palminteri).

O que talvez explique uma certa indisposição com este filme por parte do público, seja justamente a presença nele de seu protagonista, Sylvester Stallone: Embora acha graça genuína em sua participação –o que talvez se deva mais pelo biotipo improvável de Stallone do que por sua interpretação de fato –alguns expectadores certamente esperavam dele o mesmo que ele entregou em todos os seus filmes; e “Oscar”, apesar disso, não traz uma única cena de ação, mostrando, em vez disso, um humor de bases quase teatrais –foi inspirado em uma produção francesa homônima de 1967 escrita por Claude Magnier –com suas entradas e saídas de cena potencializadas em seu humor e em seu ritmo pelo dinamismo da música “O Barbeiro de Sevilha” servindo de elemento instigante da narrativa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário