sexta-feira, 16 de outubro de 2020

O Último Golpe

 


O trabalho até que interessante do diretor estreante Michael Caleo (roteirista do excelente “A Família”, de Luc Besson) é um daqueles roteiros de moderada inventividade que, pelo generoso material interpretativo que oferece, costuma atrair bons e prestigiados atores, como é o caso de Michael Keaton e –vá lá! –Brendan Fraser.

Seus personagens são arquétipos bem interpretados que, ao gosto das reviravoltas que devido à natureza do suspense haverão de chegar, vão se transmutar em outra coisa, por uma ou por outra razão ao longo da trama.

No caso, temos Jamie Bashant (Fraser) e Ted Riker (Keaton, sempre excelente); o primeiro um vendedor recém-chegado a Nova York vindo de Ohio, o segundo, um tubarão implacável que coleciona clientes, leva nas costas sua empresa (capitaneada por Daniel Stern, de “Esqueceram de Mim”) e inspira o assombro de seus colegas menores.

Ted não tem paciência com Jamie, apontado para ser uma espécie de aprendiz seu ao longo do processo de adaptação; e certamente também não tem qualquer interesse em compartilhar com ele as dicas que o tornam tão a frente dos demais vendedores. E com isso, Jamie, que vinha então se vangloriando de seu desempenho, fracassa simultaneamente em conseguir obter as vendas dos produtos.

Um tanto indiferente a tudo isso, Ted só muda de postura quando conhece a linda esposa de Jamie, Belissa (Amber Valetta, de “Hitch-Conselheiro Amoroso”), cujas circunstâncias, nos dias que se seguem auxiliam a torná-lo amante dela (!).

Entretanto, o caso tórrido migra para uma paixão quando ficam evidentes traços humanos que Ted até então escondida de todos: A fim de manter Belissa sempre por perto, Ted tem que encontrar meios para que o incompetente Jamie (sempre com a corda no pescoço) continue no emprego, e portanto, em Nova York.

E assim, em troca da satisfação romântica e sexual, Ted vai gradualmente sacrificando sua solidez profissional –e, como pode ser antecipado com alguma facilidade (no que é, talvez, o grande problema do filme) haverão revelações já próximas do desfecho indicativas de que nem tudo é aquilo que parece ser.

Em cena, a bela Amber Valetta trata com lisonja Michael Keaton pelo grande ator que ele é; enquanto Michael Keaton é demasiado cavalheiresco com Amber, em decorrência dela ser uma linda mulher. Eis aí, então, uma das problemáticas principais de “O Último Golpe”: Embora sejam bons atores e até tenham alguma química, seu par central não se comporta como os amantes que presumidamente se tornam.

Somada ao fato de que sua tensão se deve mais pelo contexto do drama em si do que pela ameaça que poderia representar (ninguém no filme inteiro, em absolutamente momento algum, chega a correr algum perigo), estas são pequenas considerações que minam a eficácia deste suspense razoável e nada inovador que aproveita o fascinante universo retratado em “O Sucesso A Qualquer Preço” –embora não consiga fazê-lo assim tão fascinante quanto naquele filme –para narrar uma trama adúltera de causa e efeito em torno da ética corporativa e da imprevisibilidade (ou não) dos sentimentos pessoais.

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