Baseada na peça teatral “Crimes Of The Heart”, da dramaturga Beth Henley, a trama que conduz o filme realizado pelo australiano Bruce Beresford tem como elemento particular as idiossincrasias flagradas em seus personagens por meio do texto cheio de peculiaridade e estranheza.
Esse retrato rico em excentricidade de uma
família do Sul dos EUA se incumbe basicamente de girar em torno das três irmãs
Magrath, reunidas debaixo do mesmo teto após algum tempo separadas –tempo este
que só ressaltou suas insondáveis diferenças: Lenny (Diane Keaton), a mais
velha e mais acomodada se ressente pelo excesso de responsabilidade para com
seu avô doente (Hurd Hatfield, de “Profissão: Ladrão”), o que a manteve presa e
estagnada numa cidadezinha que não lhe reservava nem marido, nem futuro e nem
felicidade; Babe (Sissy Spacek), a mais jovem, vive equilibrando-se na própria
instabilidade o que a leva a contratempos calorosos como a tentativa de
assassinato do próprio marido (pelo qual ela se vê na iminência de um
lamentável julgamento) e um caso de adultério com um rapaz negro (e sendo ali o
segregado sul dos EUA, a repercussão de tal caso resvala em perigo real); por
fim, Meggy (Jessica Lange), a irmã do meio, a tempos ausente de casa na busca
ainda infrutífera de seu sonho em virar estrela –fracasso este que não a impede
de distribuir histórias inventadas por toda a vizinhança, inclusive para o
apaixonado Doc (Sam Sheppard, marido de Jessica na vida real), também ele um
homem casado.
Os temperamentos bastante distintos das três
irmãs –e, não rato, conflituosos uns com os outros –encontram quase um único
ponto da equilíbrio: O pesar impronunciável que o suicídio da mãe provocou em
cada uma delas.
Ambientado quase todo no cenário do belo
casarão da família delas –embora o filme escape, para efeitos de transposição
cinematográfica, para um ou outro ambiente diferente em algumas cenas adaptadas
–o trabalho de Beresford, como praticamente todos os filmes entregues por ele,
segue seu estilo austero, privilegiando a beleza poética de pequenos detalhes
banais do dia-a-dia (o assoprar de velas de um bolo de ainversário; a colheita
de algumas frutas maduras; a contemplação do entardecer), o que provoca uma
curiosa contração no humor peculiar e no excentrismo comportamental do texto
original, fazendo tais características diluírem até quase desaparecerem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário