terça-feira, 20 de outubro de 2020

Conquistas Perigosas


 Assim como o cinema comercial, o cinema independente norte-americano é ocasionado por certas fórmulas. “The Necessary Death Of Charlie Countryman” –ou “A Morte Necessária de Charlie Countryman”, título literal deste “Conquistas Perigosas” –até que começa orientado por esse tipo de fórmula: O drama pesado marginal e silencioso, onde os personagens perscrutam, com contundente pose, as aflições da vida suburbana.

O protagonista Charlie, vivido por Shia LaBeouf (numa atuação que, longe de ser brilhante, ao menos desvencilha-se dos cacoetes irritantes que ele desenvolveu em alguns projetos), vive as agruras de testemunhar os últimos dias de vida da própria mãe (Melissa Leo), e quando tal fatalidade enfim se concretiza, sente-se perdido.

Visitado pelo fantasma dela (!), ele recebe o tardio conselho de partir em viagem em busca de si mesmo, sugerindo-lhe a cidade de Bucareste.

Logo após esse princípio depressivo e convencional, o filme dirigido por Fredrik Bond começa a demonstrar algum fôlego próprio, e alguma autenticidade a medida que pontas soltas justapostas com enganosa aleatoriedade começam a se juntar numa narrativa, senão equilibrada ou harmoniosa, pelo menos com certeza envolvente: No avião, Charlie faz uma relutante amizade com o romeno de meia-idade Victor (Ion Caramitru) que vem a falecer antes mesmo do avião chegar ao destino final (!). O último desejo de Victor era que Charlie entregasse para a filha dele, Gaby (Evan Rachel Wood) um gorro que ele comprou para ela nos EUA.

Contudo, Charlie apaixona-se pela moça e, junto com o amor hesitantemente correspondido, veem também as encrencas; Gaby havia antes se envolvido com o perigoso Nigel (Mads Mikkelsen), truculento assassino que não larga mais do pé do desafortunado americano. Junto de Nigel –e por motivos que o roteiro não consegue ou não se importa em esclarecer de maneira satisfatória –está também o gangster Darko (Til Schweiger, de “Bastardos Inglórios”) e ambos estão interessados numa certa fita, registro visual de um flagrante comprometedor para os dois, e que Victor usava, até então, para afastar Nigel de Gaby.

Agora, cabe a Charlie a tarefa de ajudar Gaby e livrá-la da presença desses antagonistas em sua vida –ou assim ele acredita. Apesar da trama sinalizar com elementos descontraídos de aventura e romance –e de fato trazer muitas cenas que correspondem a esses gêneros –a direção de Fredrik Bond almeja imprimir características mais estilosas ao resultado: Na dramaturgia algo esquizofrênica que preenche seu andamento –onde o filme se perde em sub-tramas estranhas, como a dos amigos drogados de Charlie vividos por James Buckley e Rupert Grint –a direção tenta evocar um estilo que lembra muito o de Sofia Coppola, com uma etérea trilha sonora e sua visão agridoce e alternativa da condição abstrata dos jovens na sociedade contemporânea.

Essas opções de ordem narrativa dão sabor ao prato, não restam dúvidas, mas, dificilmente o filme e seu cômputo geral (seja ele bom ou ruim) escapam do fato de que o espalhafatoso estilo empregado pouco acrescenta realmente a uma obra que não almeja ser mais que entretenimento.

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