sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

9 ½ Semanas de Amor

O roteirista Zalman King, após conceber este roteiro (cuja trama, simplista ao extremo, teve a sorte de encontrar o diretor Adrian Lyne, recém-saído da consagração de “Atração Fatal”), nunca mais livrou-se –ou, de repente, nunca teve a intenção de se livrar! –da pecha de “roteirista de filmes pornô soft”, aqueles filmes eróticos, mas que não chegam a extrapolar os limites da pornografia explícita.
De sua pena saíram roteiros (e não demorou muito para King tornar-se diretor deles também!) como “Orquídea Selvagem”, “Delta de Vênus” e até um desnecessário “9 ½ Semanas de Amor 2” –todos numa vertiginosa curva descendente de qualidade que os empurrava cada vez mais para o terreno do erotismo convencional.
Mas, “9 ½ Semanas de Amor” foi um fenômeno e tanto (e não há dúvidas de que isso se deve mais pela condução incomum do diretor Lyne, do que pelo roteiro redundante de King), numa época em que os cinemas não existiam em multiplex de shoppings centers e o circuito comercial trabalhava num ritmo diferente do que se faz hoje: Para se ter uma idéia, o filme ficou quatro anos (!), em cartaz num cinema em São Paulo; algo inconcebível mesmo para o maior dos sucessos de bilheteria dos tempos atuais.
O enredo deste filme inicia-se ao mostrar uma belíssima publicitária (Kim Basinger, assombrosamente bela) quando ela conhece um homem misterioso e enigmático (Mickey Rourke, já próximo do fim de sua fase como galã) iniciando com ele um romance. A história a dois que eles vivem tem natureza episódica: Muito do que assistimos são cenas –de sedução, em geral –embaladas numa estética ultra-estilizada que se sucedem uma a uma, sublinhando as características pouco usuais do romance que transcorre na tela, passando uma ligeira percepção de estranhamento, pontuada por uma indelével superficialidade, que pode ter contribuído para o enorme culto em torno da produção que se formou logo no fim dos anos 1980.
Ao longo das semanas em que os protagonistas vivem essa história de amor e sexo, a jovem não deixa de perceber estranhas "excentricidades" no comportamento do rapaz que, a despeito da tórrida relação que desenvolvem, acabam por separá-los.
Pode-se dizer que talvez este tenha sido um dos últimos filmes que causaram grande repercussão no final da década de 1980, justamente devido ao apelo oitentista que aqueles filmes traziam, com seu visual carregado de afetações tão típicas daquele período; sem contar a trama carregada por desvios de comportamento e aspectos de absurdo que soariam non-sense nos dias de hoje. Além dessas características deixadas pelo tempo a que pertenceu, este filme vem embalado numa exorbitante atmosfera extraída da publicidade (área de formação do diretor Adrian Lyne), salpicado pelas ocasionais e vistosas cenas de sexo –ainda que tímidas para os padrões mais atuais –e, em especial, conta com a presença magnética do "sex-simbol" Kim Basinger, cujo corpo e exuberância são magistralmente bem emoldurados pela iluminação criteriosa e pelo ambiente de extremo bom gosto elaborados pelo diretor.
Pode ser esse o segredo de seu sucesso, afinal: Apresentar as idiossincrasias mais constrangedoras e íntimas do sexo através de uma ótica de confortável júbilo visual.

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