terça-feira, 22 de setembro de 2015

Azul é A Cor Mais Quente

Um dos mais poderosos manifestos a favor da liberdade sexual, este brilhante, árido e extenso drama não pede por qualquer cumplicidade do expectador, indo na contramão de obras hollywoodianas que abordaram o homossexualismo de modo demagógico e asséptico, numa postura extremamente amedrontada com possíveis reações do público como “Philadelphia”.
Não, o filme de Abdellatif Kechiche assume seu amor, e a história que deseja narrar a partir dele. Sua busca por uma verdade reflete a tenacidade imparcial e dolorosa de seu diretor, e seu filme não tem qualquer pudor em mostrar-se seco e cru ao público (suas três horas de duração ocasionadas por várias cenas de dramaticidade dilacerante são quase desafiadoras), à sua própria trama (incisivo nas seqüências que determina como fundamentais à narrativa, ele ignora e contorna passagens inteiras à evolução das personagens, sem no entanto fazer com que isso soe demérito) e à sua protagonista (o desfecho que a personagem principal encontra para a fase de sua vida registrada aqui é um dos mais tristes dos últimos anos).
Tal demonstração de ousadia e convicção não passou despercebido no Festival de Cannes, onde o filme fez sua estréia e do qual saiu com o prêmio principal –a Palma de Ouro –entregue pelas mãos do próprio Steven Spielberg.
A jovem estudante Adele vive normalmente no subúrbio francês com a família. Sua vida (sentimental, social, escolar e familiar, nessa mesma ordem) começará a sofrer grandes mudanças quando ela conhece Emma, uma intrigante moça de cabelos azuis, que lhe chama a atenção a despeito de todos os rapazes que tentam conquistá-la. Elas se relacionam (sexualmente, inclusive) e, com isso, Adele perceberá que tem de se opor a muitos preconceitos para ter seu lugar ao sol.
O tunisiano Abdellatif Kechiche (de “O Segredo do Grão” e “A Vênus Negra”) realiza seu melhor filme neste trabalho despojado onde adapta livremente a história em quadrinhos de Julie Maroh, mas o grande brilho do filme está na entrega visceral das duas atrizes, a jovem e bela Adele Exarchopoulos e a charmosa e hipnótica Léa Seydoux.
Ambas conseguem deixar o expectador de queixo caído, especialmente nas já lendárias cenas de sexo, que duram entre oito a dez minutos, e dificilmente serão superadas por um filme não pornográfico.

Nenhum comentário:

Postar um comentário