Um dos mais poderosos manifestos a favor da
liberdade sexual, este brilhante, árido e extenso drama não pede por qualquer
cumplicidade do expectador, indo na contramão de obras hollywoodianas que
abordaram o homossexualismo de modo demagógico e asséptico, numa postura
extremamente amedrontada com possíveis reações do público como “Philadelphia”.
Não, o filme de Abdellatif Kechiche assume seu
amor, e a história que deseja narrar a partir dele. Sua busca por uma verdade
reflete a tenacidade imparcial e dolorosa de seu diretor, e seu filme não tem
qualquer pudor em mostrar-se seco e cru ao público (suas três horas de duração
ocasionadas por várias cenas de dramaticidade dilacerante são quase
desafiadoras), à sua própria trama (incisivo nas seqüências que determina como
fundamentais à narrativa, ele ignora e contorna passagens inteiras à evolução
das personagens, sem no entanto fazer com que isso soe demérito) e à sua
protagonista (o desfecho que a personagem principal encontra para a fase de sua
vida registrada aqui é um dos mais tristes dos últimos anos).
Tal demonstração de ousadia e convicção não
passou despercebido no Festival de Cannes, onde o filme fez sua estréia e do
qual saiu com o prêmio principal –a Palma de Ouro –entregue pelas mãos do
próprio Steven Spielberg.
A jovem estudante Adele vive normalmente no
subúrbio francês com a família. Sua vida (sentimental, social, escolar e
familiar, nessa mesma ordem) começará a sofrer grandes mudanças quando ela
conhece Emma, uma intrigante moça de cabelos azuis, que lhe chama a atenção a
despeito de todos os rapazes que tentam conquistá-la. Elas se relacionam
(sexualmente, inclusive) e, com isso, Adele perceberá que tem de se opor a
muitos preconceitos para ter seu lugar ao sol.
O tunisiano Abdellatif Kechiche (de “O Segredo
do Grão” e “A Vênus Negra”) realiza seu melhor filme neste trabalho despojado
onde adapta livremente a história em quadrinhos de Julie Maroh, mas o grande
brilho do filme está na entrega visceral das duas atrizes, a jovem e bela Adele
Exarchopoulos e a charmosa e hipnótica Léa Seydoux.
Ambas conseguem deixar o
expectador de queixo caído, especialmente nas já lendárias cenas de sexo, que
duram entre oito a dez minutos, e dificilmente serão superadas por um filme não
pornográfico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário