domingo, 24 de abril de 2016

Operações Especiais

O trabalho de Tomás Portella ("e equipe", como frisam os créditos iniciais) chega a lembrar um pouco o primoroso "Sicario-Terra de Ninguém" de Denis Villeneuve, embora os realizadores nem tivessem como assistir aquele filme durante a produção deste, ocorrida praticamente ao mesmo tempo.
Na realidade, a influência mais forte e perene para "Operações Especiais" é mesmo os dois "Tropa de Elite" de José Padilha, obras tão fortes que não apenas influem neste trabalho aqui, como são também a base para todos os filmes nacionais com temática policial da última década.
Quando "Operações..." começa ainda existe alguma incredulidade da parte do expectador de que a inapelavelmente linda Cleo Pires vá dar conta do recado: Ela é tão bela, feminina e mostra-se constantemente em situação de vulnerabilidade que parece impossível vê-la como uma policial durona.
Esse parece ser o objetivo da narrativa, uma vez que muitos são os coadjuvantes que duvidam dela também, sobretudo, seus colegas de profissão, todos homens, brutos e insensíveis.
Ao longo do filme percebe-se, contudo, que há de fato uma evolução na personagem, ainda que isso aconteça com tanta sutileza, e tão aos poucos, que quase não dá pra se notar.
Ela é uma jovem, formada em turismo, que decide fazer um concurso para investigadora da polícia, em meados de 2010, quando ocorreu a alardeada tomada, pela polícia militar, do morro do Alemão.
Ao engajar na força-tarefa, ela é incluída numa divisão que deve lidar com a corrupção e com as mudanças de poder dentro da criminalidade, em uma cidade nas proximidades, que terminaram abrigando os bandidões expulsos do morro.
Há algo de disperso no roteiro e na direção que faz com que certas cenas perdem impacto ou mesmo sua relevância enquanto história: Falta à Portella aquele vigor narrativo de José Padilha, mas ele fez, mesmo assim, um filme admirável, inclusive em termos técnicos. Uma obra que, há algumas décadas atrás no período da Retomada, seria difícil imaginar concebida no cinema brasileiro.
O emprego do elenco também é excelente: Cleo Pires (também produtora) revela-se uma grande protagonista, além disso, o filme nos brinda com o excelente Marcos Caruso, no papel do delegado, e até subverte expectativas ao imaginarmos que pode ser o personagem de Thiago Martins o possível interesse amoroso da heroína, quando na verdade acaba sendo o ótimo Fabrício Boliveira.
Como filme de ação policial, e como trajetória de uma protagonista feminina tentando se firmar num meio predominantemente masculino, o filme de Portella é um belo acerto.

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