O trabalho de Tomás Portella ("e
equipe", como frisam os créditos iniciais) chega a lembrar um pouco o
primoroso "Sicario-Terra de Ninguém" de Denis Villeneuve, embora os
realizadores nem tivessem como assistir aquele filme durante a produção deste,
ocorrida praticamente ao mesmo tempo.
Na realidade, a influência mais forte e perene
para "Operações Especiais" é mesmo os dois "Tropa de Elite"
de José Padilha, obras tão fortes que não apenas influem neste trabalho aqui,
como são também a base para todos os filmes nacionais com temática policial da
última década.
Quando "Operações..." começa ainda
existe alguma incredulidade da parte do expectador de que a inapelavelmente
linda Cleo Pires vá dar conta do recado: Ela é tão bela, feminina e mostra-se
constantemente em situação de vulnerabilidade que parece impossível vê-la como
uma policial durona.
Esse parece ser o objetivo da narrativa, uma vez
que muitos são os coadjuvantes que duvidam dela também, sobretudo, seus colegas
de profissão, todos homens, brutos e insensíveis.
Ao longo do filme percebe-se, contudo, que há
de fato uma evolução na personagem, ainda que isso aconteça com tanta sutileza,
e tão aos poucos, que quase não dá pra se notar.
Ela é uma jovem, formada em turismo, que decide
fazer um concurso para investigadora da polícia, em meados de 2010, quando
ocorreu a alardeada tomada, pela polícia militar, do morro do Alemão.
Ao engajar na força-tarefa, ela é incluída numa
divisão que deve lidar com a corrupção e com as mudanças de poder dentro da
criminalidade, em uma cidade nas proximidades, que terminaram abrigando os
bandidões expulsos do morro.
Há algo de disperso no roteiro e na direção que
faz com que certas cenas perdem impacto ou mesmo sua relevância enquanto
história: Falta à Portella aquele vigor narrativo de José Padilha, mas ele fez,
mesmo assim, um filme admirável, inclusive em termos técnicos. Uma obra que, há
algumas décadas atrás no período da Retomada, seria difícil imaginar concebida
no cinema brasileiro.
O emprego do elenco também é excelente: Cleo
Pires (também produtora) revela-se uma grande protagonista, além disso, o filme
nos brinda com o excelente Marcos Caruso, no papel do delegado, e até subverte
expectativas ao imaginarmos que pode ser o personagem de Thiago Martins o
possível interesse amoroso da heroína, quando na verdade acaba sendo o ótimo
Fabrício Boliveira.
Como filme de ação
policial, e como trajetória de uma protagonista feminina tentando se firmar num
meio predominantemente masculino, o filme de Portella é um belo acerto.
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