E lá vamos nós para mais um pouco de Jess
Franco. Desta vez, trata-se daquele que é tido com unanimidade como o melhor de
seus trabalhos: Este curioso, desigual e erótico “Vampyros Lesbos”.
De fato, o filme já consta, de início, em meio
ao supra-sumo do que foi a filmografia de Franco por uma razão simples: É um
dos trabalhos do diretor estrelado pela cultuada Soledad Miranda (que neste
filme, como em outros, aparece creditada como Suzan Korda).
Bela, impassível e estranhamente carismática,
ela já tinha sido notada por mim em “Ela Matou Em Êxtase” (último trabalho dela
que morreu num acidente logo depois), que já foi resenhado aqui. Entre esse filme
e sua primeira colaboração com Franco (o precário “Pesadelos Noturnos”),
Soledad realizou este daqui, onde o espanhol aproveitou para exercitar seu
fascínio por vampiros em geral e por Drácula, de Bram Stoker, em particular
(uma influência e referência que atravessa de forma onipresente toda a sua
carreira).
“Vampyros Lesbos” é, praticamente a trama de
Bram Stoker com alterações sutis (ou nem isso!): Acompanhamos a jornada de
Linda Westinghouse (a também belíssima Ewa Stromberg) que, acometida por pesadelos
constantes e sexuais, vai à uma ilha a fim de negociar com a proprietária do
imóvel. Chegando lá, ela descobre que a proprietária, uma certa Condessa Nadine
Carody (Soledad Miranda) vem a ser a mesma mulher misteriosa que protagoniza
seus pesadelos, e logo a envolve num jogo de sedução onde ela parece também
drenar a sua energia.
É curiosa a forma como Jess Franco trabalha o
mito do vampiro; querendo o tempo todo desmistificá-lo, ao passo que também lhe
presta uma homenagem. A vampira de Soledad Miranda não é afetada pelo sol (até
se bronzeia na praia), e não corresponde a vários paradigmas do gênero, embora
continue sendo, no fim das contas, uma vampira. De novo, essa postura
manteve-se em infindáveis filmes que ele realizou (há quem diga, com certa razão,
que o posterior “Macumba Sexual” é, em diversos aspectos, uma refilmagem de
“Vampyros Lesbos” com outra atmosfera e outra ambientação).
Mas todas essas questões parecem banalizar-se
diante do fato de que nada disso importa à Jess Franco, que aproveita para
narrar um conto de terror muito peculiar, elegante até, na medida do possível,
e brindado com a nudez muitas vezes gratuita de suas lindas protagonistas. Os
grandes fãs de Franco gostam de dizer que ele antecipou aqui várias vertentes
dos filmes de vampiro que fizeram sucesso bem depois, como os vampiros imunes
ao sol de “Crepúsculo”, ou a personagem da vampira sedutora incorporada por
Catherine Deneuve em “Fome de Viver”.
Existem méritos na obra de Franco, não há
dúvida, mas eles são, em grande medida, ofuscados pelo tom assumidamente trash,
e pela precariedade de produção que ele não fazia questão nenhuma de tentar
esconder.
Quem relevar esses elementos, estará até que
bem servido.
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