Já faz algum tempo que o estúdio Ghibli merece
um Oscar de Melhor Animação. Mas um Oscar que vá além daquele único que
ganharam até hoje: Pelo fundamental “Viagem de Chihiro”.
Isso porque quem levou o prêmio foi Hayao
Miyazaki, o gênio com o qual o estúdio é sempre relacionado. Mas, quem conhece
as animações que vêem de lá, sabe que o Ghibli não se resume à Miyazaki. Prova
disso é que, apesar dele ter se aposentado (seu trabalho de despedida foi o
belo “Vidas Ao Vento”) há uma obra do estúdio concorrendo na categoria de
Melhor Longa de Animação todo o ano.
O representante do Ghibli deste ano no Oscar
foi “As Memórias de Marnie”, de Hiromasa Yonebayashi, uma história brilhante
sobre os laços com o passado, que nos perseguem independente de nossa
indiferença, e que, de certa forma, emula alguns dos trabalhos mais marcantes
do próprio Miyazaki.
Tudo começa com Anna, uma introspectiva menina
de 12 anos que sofre de asma e de uma certa inadequação ao seu círculo social.
A fim de resolver todos esses problemas, a
tutora dela (a menina perdeu os pais) a envia até o lugar campestre em que
vivem os tios, uma vila idílica à beira-mar cujas lindas paisagens, de imediato
captam a atenção artística de Anna.
Logo vêm à mente a narrativa de “Meu Amigo
Totoro”, quando observamos o modo com que a jovem protagonista começa a
assimilar o novo ambiente: A percepção de tudo que Yonebayashi nos passa é
muito parecida, inclusive em termos visuais, com o clássico de Miyazaki.
Com o tempo, Anna se torna amiga da bela e
intrigante Marnie, uma menina moradora da msiteriosa “casa do pântano”, que ora
parece uma mansão desabitada e abandonada, ora parece povoada de aristocratas
festivos. Desde sua primeira aparição fica claro que existe algum grande
segredo por trás de Marnie e de suas aparições repentinas que parecem despertar
a dúvidas de todos menos de Anna. E aí temos mais uma poderosa referência do
próprio estúdio Ghibli: O já citado “Viagem de Chihiro”. Como naquele trabalho,
aqui, Anna empreenderá toda uma busca, mais existencial do que física, atrás da
compreensão que responderá suas perguntas acerca de Marnie e, no final das
contas, acerca dela mesma.
Dono de uma beleza sem fim, “As Memórias de
Marnie” é provavelmente o longa mais emocionante já concebido pelo estúdio
Ghibli (dentre os que eu assisti, claro...) com a única e possível exceção de
“O Túmulo dos Vagalumes”.
Todavia, o objetivo do trabalho de Hiromasa
Yonebayashi é bem diferente da poderosa obra de Isao Takahata: Yonebayashi,
como Miyazaki, enxerga a beleza, a poesia e a transcendência que cerca os
elementos banais da vida, e em sua grandeza de espírito, usa de seu vasto
talento para compartilhar, através desta linda história de memórias antigas, um
pouquinho dessa forma de ver o mundo conosco, meros expectadores de sua arte.
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