Os filmes de Píer Paolo Passolini são
corrosivos, não visam deixar o expectador com uma boa sensação ao final de sua
travessia, pelo contrário, incitam o questionamento a partir do ultraje. E esse
ultraje, na mente fervilhante e inquieta de Passolini, não precisa
necessariamente se manifestar a partir de um registro realista (ponto de
partida para muitos dos filmes controversos do cinema recente), surgindo até
mesmo em forma de fábula.
Através da trama insidiosa de “Teorema” ele
ataca a burguesia de uma maneira que não sobram muitos argumentos para defesa;
até porque sua crítica vem embalada num viés tão enigmático e desconcertante
que é difícil determinar, sem uma postura subjetiva, de que exatamente ele
queria falar.
A expressão de Terence Stamp parece sugerir
pureza angelical e corrupção demoníaca em igual medida, fazendo dele a escolha
perfeita para interpretar o jovem hóspede que surge no seio de uma família
burguesa italiana.
Um a um, esse jovem seduz, sem encontrar
maiores resistências, os membros dessa família: Ele começa pela empregada,
depois seduz a filha, em seguida, o filho, a mãe, e por fim, o pai.
Tão misteriosamente como apareceu, ele some,
deixando neles um súbito vazio, a partir do qual as mais atrozes transformações
haverão de se operar, revelando as fissuras existenciais não expressadas dessa
classe, ou pelo menos, o ponto de vista comiserativo dela que Passolini, muito
demagogicamente parece querer compartilhar com seu expectador.
Sabe-se que o cinema do italiano não era, nem
nunca foi de fácil apreciação, vide seu impiedoso e perturbador “Saló”, e
Passolini, aqui, só ratifica isso impondo desfechos de caráter simbolista e
surreal à muitos de seus personagens, negando respostas plausíveis ao que ele
mesmo começou como uma premissa completamente plausível, ainda que seu anseio
de chocar já estivesse lá desde o começo.
Ele destrói instrumentos de ideologia
tradicional por meio do único ato que parece igualar todos os seres humanos: O
sexo.
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