terça-feira, 12 de julho de 2016

Teorema

Os filmes de Píer Paolo Passolini são corrosivos, não visam deixar o expectador com uma boa sensação ao final de sua travessia, pelo contrário, incitam o questionamento a partir do ultraje. E esse ultraje, na mente fervilhante e inquieta de Passolini, não precisa necessariamente se manifestar a partir de um registro realista (ponto de partida para muitos dos filmes controversos do cinema recente), surgindo até mesmo em forma de fábula.
Através da trama insidiosa de “Teorema” ele ataca a burguesia de uma maneira que não sobram muitos argumentos para defesa; até porque sua crítica vem embalada num viés tão enigmático e desconcertante que é difícil determinar, sem uma postura subjetiva, de que exatamente ele queria falar.
A expressão de Terence Stamp parece sugerir pureza angelical e corrupção demoníaca em igual medida, fazendo dele a escolha perfeita para interpretar o jovem hóspede que surge no seio de uma família burguesa italiana.
Um a um, esse jovem seduz, sem encontrar maiores resistências, os membros dessa família: Ele começa pela empregada, depois seduz a filha, em seguida, o filho, a mãe, e por fim, o pai.
Tão misteriosamente como apareceu, ele some, deixando neles um súbito vazio, a partir do qual as mais atrozes transformações haverão de se operar, revelando as fissuras existenciais não expressadas dessa classe, ou pelo menos, o ponto de vista comiserativo dela que Passolini, muito demagogicamente parece querer compartilhar com seu expectador.
Sabe-se que o cinema do italiano não era, nem nunca foi de fácil apreciação, vide seu impiedoso e perturbador “Saló”, e Passolini, aqui, só ratifica isso impondo desfechos de caráter simbolista e surreal à muitos de seus personagens, negando respostas plausíveis ao que ele mesmo começou como uma premissa completamente plausível, ainda que seu anseio de chocar já estivesse lá desde o começo.

Ele destrói instrumentos de ideologia tradicional por meio do único ato que parece igualar todos os seres humanos: O sexo.

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