Um dos grandes momentos (senão o maior) de Luc
Besson como cineasta nos anos 1980, o embriagante, hipnótico e lírico
“Imensidão Azul”, de 1988, narra a história de uma devoção pelo mar que, não raro, beira
o inexplicável. Não por acaso, seu protagonista ostenta a mesma expressão de
incompletitude e, talvez, de insatisfação durante todo o filme quando o
flagramos em sua existência em terra firme.
Ainda que motivos para sua felicidade não lhe faltem:
Desde muito jovem, Jacques Mayol (Jean-Marc Baar, interpretando um personagem
real, mas cuja abordagem adotada por Besson adquire contornos da mais
formidável das fábulas) é um prodígio da natação e do mergulho aquático. Menos
por aptidão e mais por uma absoluta afinidade com as águas; da maneira como
Besson nos mostra, ele é praticamente um homem-peixe, cuja vida só adquire
sentido nos momentos em que ele busca paulatinamente uma comunhão com o mar.
Não lhe suscitam maiores arroubos de paixão, portanto, a rivalidade com outro
mergulhador, Enzo Molinari (Jean Reno, ator-assinatura de Besson), depois
tornada amizade, e nem mesmo o relacionamento com a linda Johana Baker (Rosana
Arquette, de fato, espetacular).
Para Jacques, o mar é o vício supremo ao qual
ele conta os minutos esperando a chance de se entregar. Por meio das cenas
deslumbradas e deslumbrantes que entrega, Besson deixa de lado qualquer
pretensão realista e busca capturar em sua atmosfera a mais genuína retratação
do fascínio, surgindo como uma atração de tal forma irreprimível que nem seu
herói (o único a experimentá-la e, de repente, compreendê-la) consegue encontrar
palavras para defini-la.
Luc Besson encontrou a si
mesmo em “Imensidão Azul” no sentido de que este filme é, em inúmeros aspectos,
o tipo de cinema que, por fim, ele almejava fazer quando iniciou sua carreira,
lá atrás, em 1982, com “O Último Combate”, ainda que depois, já importado para
os EUA, parte da magia que ele suscita tenha, também ela, se perdido.
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