Intuitivamente, é difícil dizer com precisão o
que se passava pela mente de um autor quando ele concebeu sua obra, quais
mensagens (subliminares ou não) ele queria passar, quando elas não ficam
absolutamente claras em seu filme. Críticos em geral tentam, e descobrem
observações, simbologias e significados onde muita gente não encontra coisa
alguma (lembro até hoje de uma entrevista de Steven Spielberg onde ele comenta
perplexo, quando do lançamento de seu primeiro filme, “Encurralado”, o fato da
crítica ter encontrado ali uma metáfora sobre a luta de classes, quando na
verdade ele não tinha intenção alguma de falar sobre isso).
Certamente a crítica da época encontrou muito o
quê perceber em “O Homem do Oeste”, sendo ele a obra extremamente rica que é,
entretanto, a despeito dessas questões escorregadias, o quê fica patente (e
que, de fato, importa ao expectador médio) é o grande filme de ação que o
diretor Anthony Mann conseguiu realizar. Todavia, como é comum à muitos dos
grandes filmes de antigamente, a ação é com frequência mais psicológica do que
física, como atestam os tensos embates entre Link Jones, o personagem de Gary
Cooper, e os fora-da-lei do grupo ao qual um dia ele pertenceu.
É em meio à uma viagem de trem que tudo começa.
Atacados e deixados casualmente para trás
quando a locomotiva foge dos bandidos, Link se vê na tarefa de proteger uma
bela dançarina (Julie London) e um almofadinha do bando de criminosos que eles
encontram mais à frente. O bando é liderado por Dock Torbin (Lee J. Cobb), que
no passado, foi o mentor de Link que testemunhou, com amargura, seu pupilo
partir.
A fim de proteger a si mesmo e aos outros dois,
Link então diz a Dock o quê ele quer ouvir: Que ele voltou para junto de seu
grupo e que o ajudará num golpe a muito acalentado, assaltando o banco de uma
cidadezinha distante.
Salta aos olhos o primor e a objetividade para
fins de tensão e de precisão narrativa com os quais os enquadramentos da câmera
de Mann, minuciosamente bem escolhidos,
estipulam de pronto as condições dos personagens, o local ocupado por cada um
em cena e o quanto essa informação é crucial para o desenrolar da trama.
Um trabalho magistral de unir a imagem ao
propósito narrativo, com inúmeras opções que subvertem até mesmo as
expectativas do público.
Por exemplo, é um atenuante para a brutalidade
do que virá depois que Julie London NÃO SEJA o interesse romântico de Gary
Cooper, embora essa impressão se mantenha do início ao fim pelo fato de que
ela, entre outras coisas, é a única personagem feminina em cena.
Abrilhantado por um final
bastante emblemático (e pertinente à reinvenção do gênero que ele promove), “O
Homem do Oeste” é, acima de tudo, uma vigorosa expressão de cinema através da
qual um grande autor da estirpe de Anthony Mann ilustra suas ideias e opiniões
acerca do mundo, da sociedade e da própria linguagem cinematográfica.
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