Dos pouco usuais filmes de terror japoneses,
“Onibaba” é um dos mais significativos já realizados, e por sua excelência,
molde para muito do que veio depois. Embora a atmosfera criada pelo diretor
Kaneto Shindô seja muito feliz ao levantar um clima de ameaça sobrenatural
iminente, a trama surpreende o expectador ao não se amparar nesse expediente.
A história acompanha duas camponesas, uma muita
velha (Nobuko Otowa), a outra muito jovem (a bela Jitsuko Yoshimura), esposa, à
propósito do filho da primeira que partiu para uma guerra imperial que se
desenrola nas imediações.
A guerra, por sinal, provem o sustento das duas
no longo período em que ficam sozinhas: Vivendo num ermos de juncos sem fim,
elas armam emboscadas para os incautos samurais que perambulam por lá, para
matá-los jogando-os em um buraco escuro da região e trocando suas armas e vestimentas
por comida.
Mas, eis que surge então um rapaz (Kei Sato),
sobrevivente da guerra e que testemunhou a morte do filho da velha. Morando ali
perto, o jovem não tarda a se interessar pela moça, ao que, pouco a pouco,
começa a ser correspondido, para a indignação da senhora.
A fim de mantê-los separados, ela vale-se da
superstição da jovem, convencendo-a de que um demônio aparecerá para aqueles
que cometerem pecados; para tanto, ela própria se disfarça de demônio, usando
uma máscara apavorante, obtida com um incauto samurai que ela mesma matou dias
antes, e que a usava sobre o rosto deformado.
Mas, as consequências de tal ato serão tão
inesperadas quanto terríveis.
Valendo-se do ambiente controlado, Shindô torna
a aparição da mulher travestida de demônio tão aterrorizante para o público quanto
o é para a perplexa jovem, e envereda assim por um caminho bastante sintomático
para os propósitos formais do próprio gênero ao adotar como objeto primordial
de todo o medo que brota da narrativa um símbolo bastante aflitivo para o
subconsciente do Japão do pós-guerra de então (o filme foi lançado em 1964): As
pessoas desfiguradas, vítimas dos efeitos da bomba atômica.
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