segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Ponte Aérea

Vez ou outra, o cinema nacional se aventura no cinema de gênero com bons resultados.
Zé do Caixão está aí para provar isso!
No entanto, costuma ser desfavorável a comparação de muitos desses exemplares com os comercialmente bem lapidados produtos norte-americanos, dos quais nosso público possui largo consumo. É um pouco desse problema que padece este extremamente simpático “Ponte Aérea” que não descuida de um quesito quase imprescindível para esse tipo de filme inapelavelmente romântico: Um casal central absolutamente simpático, homogêneo e carismático.
Ela (a pra lá de deliciosa Letícia Colin) é Amanda. Ele (o competente Caio Blat) é Bruno.
Ela é de São Paulo. Ele, do Rio de Janeiro.
E aí já se estabelece o pequeno conflito com o qual todo enredo romântico cisma em opor à história de amor: Aqui o grande empecilho para a concretização do romance é o fato, não somente geográfico dos dois morarem a 400 quilômetros de distância, mas também as diferenças culturais e comportamentais relativas entre paulistas e cariocas, o quê o roteiro tem por intenção utilizar tanto em seu humor (mais discreto), quanto em seu drama (bem mais ressaltado). É gracioso, embora quisesse ser ferino, lembra muito o filme americano independente “Loucamente Apaixonados”, com Felicity Jones e Anton Yelchin, sobre um jovem casal tentando manter um relacionamento transatlântico –ela é inglesa, ele é norte-americano.
Não é somente à esse filme que “Ponte Aérea” remete: São vastas as referências que vão desde “Encontros e Desencontros” (numa das cenas iniciais, por exemplo, a câmera enfoca o belo traseiro de Letícia Colin de maneira muito semelhante à primeira cena, com Scarlett Johansson, daquele filme), “Basquiat-Traços de Uma Vida” (por ela ser diretora de arte, o artista é mencionado num momento do filme, mas o quê aparece, no lugar de uma obra sua, é o pôster do filme sobre ele, dirigido por Julian Schnabell), “Sabrina” (para muitos, a quintessência da comédia romântica, que aparece passando na TV em um cena), e até Federico Fellini (cujo famoso sobrenome batiza o gato da protagonista), entre outros.
Claro que existem problemas, como as marcações preguiçosas e as encenações limitadas que parecem mais evidentes na decupagem de um filme nacional. A própria natureza romântica do roteiro expõe uma timidez quase constrangedora na construção de alguns diálogos e situações, especialmente no terço inicial antes da trama de fato engrenar.

Apesar disso, “Ponte Aérea” é um trabalho coerente e competente, ilustrativo da capacidade notável que os atuais artesãos de cinema no Brasil possuem. Claro que não tem o brilhantismo do cinema argentino, por exemplo, mas ele permite notar uma evolução absurda desde o visível amadorismo nos trabalhos da fase da Retomada.

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