O filme de Tom Tykwer –louvado como um tratado
de cinema revolucionário nos anos 1990 –tem, afinal de contas algo a dizer? Ou
é tão somente um exuberante e contagiante exercício de pleno estilo narrativo?
Se ocorre ou não ao expectador essa dúvida (e
ela parece assombrar a mente em diversos momentos do filme) isso pouco importa
diante do trabalho audaz, equilibrado e espantosamente enxuto que o diretor
alemão consegue entregar aqui –de longe, até então o melhor e mais primordial
filme de sua carreira.
Lola (Franka Potente, com um insano cabelo
vermelho) é uma jovem alemã que se encontra em maus lençóis.
Conta exatamente quinze minutos para o meio-dia
quando seu namorado, Manni (Moritz Bleibtreu) telefona com uma péssima notícia;
ele perdeu 20 mil em dinheiro do chefe de sua quadrilha e morrerá se não
recuperar a grana. Caso Lola não apareça com uma idéia melhor, ele entrará num
supermercado quando o ponteiro o relógio chegar ao meio-dia e roubará essa
mesma quantia.
Desesperada Lola joga o telefone e parte em
desesperada corrida para achar uma solução.
O filme retrocederá três vezes a este mesmo
momento, para revelar três finais diferentes para Lola e para os personagens
que a cercam, alimentando a máxima de que os pequenos detalhes fazem uma grande
diferença: São os pormenores minuciosos (e veja só, não o caminho
necessariamente escolhido por ela, este permanece a rigor sendo o mesmo) que
irão determinar certos acontecimentos, como um segundo de atraso ou antecipação
que determina o gatilho desta ou daquela ocorrência, como numa espécie de
‘efeito borboleta’.
Esse peculiar cinema alemão executado com
arrojada criatividade por Tykwer (e no qual ele faz uso de técnicas vastas de
linguagem como desenho animado e tela dividida) pega emprestado dois motes
aparentemente inconciliáveis: Os videogames e a filosofia.
Dos videogames empresta o ritmo alucinante, as
cores, a estética nervosa, a urgência, e, sobretudo, o conceito de um final
multifacetado, ou de vários finais (ou vidas), aos quais o usuário (Lola, neste
caso, já que o cinema ainda não tem o recurso da interatividade) pode explorar
inúmeras possibilidades até chegar ao desfecho que lhe baste.
Da filosofia, Tykwer pega emprestado a
discussão a respeito do poder de ressonância que nossos atos cotidianos mais
banais têm nas vidas alheias –e até que ponto essa influência é real ou fruto
de nossa própria prepotência e paranóia –assim como a eterna divagação acerca
do quão tais acontecimentos estão pré-determinados a acontecerem.
Tudo isso sem abrir mão de
ser ágil, moderno e vibrante.
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