quinta-feira, 6 de abril de 2017

Corra Lola Corra

O filme de Tom Tykwer –louvado como um tratado de cinema revolucionário nos anos 1990 –tem, afinal de contas algo a dizer? Ou é tão somente um exuberante e contagiante exercício de pleno estilo narrativo?
Se ocorre ou não ao expectador essa dúvida (e ela parece assombrar a mente em diversos momentos do filme) isso pouco importa diante do trabalho audaz, equilibrado e espantosamente enxuto que o diretor alemão consegue entregar aqui –de longe, até então o melhor e mais primordial filme de sua carreira.
Lola (Franka Potente, com um insano cabelo vermelho) é uma jovem alemã que se encontra em maus lençóis.
Conta exatamente quinze minutos para o meio-dia quando seu namorado, Manni (Moritz Bleibtreu) telefona com uma péssima notícia; ele perdeu 20 mil em dinheiro do chefe de sua quadrilha e morrerá se não recuperar a grana. Caso Lola não apareça com uma idéia melhor, ele entrará num supermercado quando o ponteiro o relógio chegar ao meio-dia e roubará essa mesma quantia.
Desesperada Lola joga o telefone e parte em desesperada corrida para achar uma solução.
O filme retrocederá três vezes a este mesmo momento, para revelar três finais diferentes para Lola e para os personagens que a cercam, alimentando a máxima de que os pequenos detalhes fazem uma grande diferença: São os pormenores minuciosos (e veja só, não o caminho necessariamente escolhido por ela, este permanece a rigor sendo o mesmo) que irão determinar certos acontecimentos, como um segundo de atraso ou antecipação que determina o gatilho desta ou daquela ocorrência, como numa espécie de ‘efeito borboleta’.
Esse peculiar cinema alemão executado com arrojada criatividade por Tykwer (e no qual ele faz uso de técnicas vastas de linguagem como desenho animado e tela dividida) pega emprestado dois motes aparentemente inconciliáveis: Os videogames e a filosofia.
Dos videogames empresta o ritmo alucinante, as cores, a estética nervosa, a urgência, e, sobretudo, o conceito de um final multifacetado, ou de vários finais (ou vidas), aos quais o usuário (Lola, neste caso, já que o cinema ainda não tem o recurso da interatividade) pode explorar inúmeras possibilidades até chegar ao desfecho que lhe baste.
Da filosofia, Tykwer pega emprestado a discussão a respeito do poder de ressonância que nossos atos cotidianos mais banais têm nas vidas alheias –e até que ponto essa influência é real ou fruto de nossa própria prepotência e paranóia –assim como a eterna divagação acerca do quão tais acontecimentos estão pré-determinados a acontecerem.
Tudo isso sem abrir mão de ser ágil, moderno e vibrante.

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