segunda-feira, 10 de abril de 2017

La Luna

A abordagem do incesto entre mãe e filho movida por Bernardo Bertolucci tem muito da sutileza e da abstração de qualquer culpa feita também por Louis Malle em “O Sopro do Coração” que imbricava por tema semelhante, ostentando a mesma sutileza e até leveza.
Bertolucci contribui com seu habitual tom provocativo e com uma carga da audaz escatologia com a qual trabalhou muitos de seus trabalhos daquele período –época de suas obras mais transgressoras.
Para a cantora Caterina vivida primorosamente por Jill Clayburgh, seu filho Joe é quem confere luz ao mundo de luxo e regalias que é sua vida.
Mas, essa luz se mostra passível de extinguir-se: Joe é viciado em heroína e não existem muitos recursos, mesmo no mundo hedônico em que ela vive, para afastá-lo desse mal.
Caterina faz o que lhe parece óbvio: Durante sua turnê pela Itália, aproxima-se de Joe, para melhor entendê-lo, conhecê-lo e a partir dessa compreensão fazê-lo ver, em seus próprios termos, o equivoco que comete.
Mas, a aproximação revela outras carências e necessidades, e logo, a partir da ânsia em afastar a sordidez do mundo de seu próprio filho, a mãe se envolve com ele em um jogo de flertes incestuosos que quebra diversas barreiras.
Por meio dessa premissa curiosa, Bertolucci parece se aproximar dos questionamentos de muitos diretores europeus que lhe são contemporâneos, sem ocultar uma melindrosa vontade de chocar e chamar a atenção.
Há aqui a observação edipiana de profunda imbricação psicológica que remete às divagações de Bergman e Antonioni (e, por que não, do brasileiro Walter Hugo Khouri), e por meio disso, um rompimento com as convenções morais através do choque do público, bastante familiar a Píer Paolo Passolini, mentor e influência confessa de Bertolucci.
É um misto de intenções, definições e inspirações que ele reuniu num só filme, a fim de melhor compreender os próprios objetivos, e averiguar o cinema que possuía intenção de fazer, impelido por uma ideologia anarquista, questionadora ainda que artisticamente reverente.

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