A abordagem do incesto entre mãe e filho movida
por Bernardo Bertolucci tem muito da sutileza e da abstração de qualquer culpa
feita também por Louis Malle em “O Sopro do Coração” que imbricava por tema
semelhante, ostentando a mesma sutileza e até leveza.
Bertolucci contribui com seu habitual tom
provocativo e com uma carga da audaz escatologia com a qual trabalhou muitos de
seus trabalhos daquele período –época de suas obras mais transgressoras.
Para a cantora Caterina vivida primorosamente
por Jill Clayburgh, seu filho Joe é quem confere luz ao mundo de luxo e
regalias que é sua vida.
Mas, essa luz se mostra passível de
extinguir-se: Joe é viciado em heroína e não existem muitos recursos, mesmo no
mundo hedônico em que ela vive, para afastá-lo desse mal.
Caterina faz o que lhe parece óbvio: Durante
sua turnê pela Itália, aproxima-se de Joe, para melhor entendê-lo, conhecê-lo e
a partir dessa compreensão fazê-lo ver, em seus próprios termos, o equivoco que
comete.
Mas, a aproximação revela outras carências e
necessidades, e logo, a partir da ânsia em afastar a sordidez do mundo de seu
próprio filho, a mãe se envolve com ele em um jogo de flertes incestuosos que
quebra diversas barreiras.
Por meio dessa premissa curiosa, Bertolucci
parece se aproximar dos questionamentos de muitos diretores europeus que lhe
são contemporâneos, sem ocultar uma melindrosa vontade de chocar e chamar a
atenção.
Há aqui a observação edipiana de profunda
imbricação psicológica que remete às divagações de Bergman e Antonioni (e, por
que não, do brasileiro Walter Hugo Khouri), e por meio disso, um rompimento com
as convenções morais através do choque do público, bastante familiar a Píer
Paolo Passolini, mentor e influência confessa de Bertolucci.
É um misto de intenções,
definições e inspirações que ele reuniu num só filme, a fim de melhor
compreender os próprios objetivos, e averiguar o cinema que possuía intenção de
fazer, impelido por uma ideologia anarquista, questionadora ainda que
artisticamente reverente.
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