Muito antes do diretor Tony Scott apresentar a
vampira Catherine Deneuve e a humana Suzan Sarandon como duas amantes em “Fome
de Viver” –e tornar-se assim um referencial para os filmes de vampiros e
lesbianismo chic –houve este filme dos anos 1970, com enredo e tratamento muito
parecidos.
Curioso notar, em justaposição aos trabalhos
feitos nos dias de hoje, que antigamente, mesmo as obras de orientação mais
sobrenatural se debruçavam sobre a dramaturgia, a austeridade e a construção
sensata e serena de uma história com lógica e coerência, sem a dependência de
efeitos especiais –usados hoje, praticamente como muleta e justificativa para a
frouxidão constante das narrativas apresentadas.
“Filhas das Trevas” parte de uma trama
ambientada nos anos 1970, que inicialmente acompanha um casal apaixonado e
recém-casado, a belíssima e passiva Valerie (Danielle Quimet) e o estranho e
algo temperamental Stefen (John Karlen).
Ainda que marcado pela lascívia dos jovens
amantes, o casamento dos dois tem, desde o começo, algumas objeções: Stefen tem
rompantes inesperados (e inexplicados) de rudeza e violência. E Valerie se
ressente, sobretudo, por ele hesitar em contar para sua mãe do matrimônio.
Quando os dois se hospedam num luxuoso hotel
europeu à beira-mar, ele finalmente cede e telefona para a mãe contando-lhe a
novidade: E então, descobrimos que sua mãe é, na verdade, um homem (talvez, seu
pai) travestido e de aspectos afeminados (!).
Ele é contra o casamento –provavelmente devido
à tendências estranhamente misóginas –o quê justifica em parte o estranho
comportamento de Stefen.
Logo, o hotel receberá outros hóspedes: A
lendária Condessa Elizabeth Bathory (Delphine Seyrig) assim como sua bela e
insinuante acompanhante, Liona ( Andrea Rau).
Bathory (cujo fato de ser uma vampira é
sugerido com minúcia e cautela incomuns pela narrativa) e Liona buscam, então,
enredar o casal na tentativa de seduzir a tentadora Valerie e ao mesmo tempo,
servir-se do sangue de Stefen.
Dirigido por Harry Kumel, amparado em uma série
de elementos que definiam o gênero de terror de então (tão difundido pelas
produções da Hammer daquele período), o filme tem ritmo lento, sofisticação e
erotismo em doses moderadamente pensadas, e joga uma ênfase muito particular
sobre as personagens femininas (além de Danielle Quimet e Andrea Rau, ambas
belíssimas e maravilhosas, há também Delphine Seyrig, absolutamente
reverenciada em cena, seja pelo roteiro, pela encenação ou pela narrativa), em
completo e notável detrimento dos personagens masculinos –mostrados como
imaturos, impulsivos, inseguros e rancorosos.
O curioso mesmo é notar que
(salvo alguns rápidos momentos e provavelmente a sua cena final) o roteiro
trata sua história com dualidade, realismo e deixando sempre aberta a margem
para interpretações: Nunca ocorre absolutamente nada de anormal ou de
escancaradamente sobrenatural em cena, podendo até ser questionado se este é um
filme de vampiros de fato.
Nenhum comentário:
Postar um comentário